sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Reinício e mudança

Olá, pessoal!

Este post é para avisar que o Espectro Econômico foi reativado! Eu e mais alguns outros alunos atuais do mestrado da PUC pensamos em seguir com o blog, e a galera original topou!

Na renovação, aproveitamos para transferir o blog para o Wordpress, que tem algumas vantagens operacionais em relação ao Blogger. O novo endereço é:

Os nossos posts começarão já nos próximos dias. O novo endereço também contém os posts antigos, então nada será perdido.
Espero que gostem!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Adiós!

Caros e escassos leitores,

o fim do mestrado se aproxima e vou acompanhar os companheiros que já o fizeram e me despedir do blog. Para mim, foi um ambiente de efervescência de ideias, democrático e intelectualmente desafiador.

Espero ter contribuído para que as discussões tenham sido nem tão superficiais que irrelevantes nem tão profundas que incompreensíveis. Além disso, espero ter validado um ponto que julgo fundamental: a divisão entre ortodoxos e heterodoxos, tão forte aqui no Brasil, na maioria das vezes é inútil. A linha divisória que realmente deveria importar é entre abordagem dogmática e não-guiada pelos dados, de um lado, e estruturada e pragmática, de outro. Se tentássemos classificar pesquisadores ou ideias em 4 quadrantes, segundo a combinação das duas esferas temáticas e das duas abordagens, certamente não haveria quadrante vazio.

Em breve espero estar contribuindo de forma mais substantiva para o esforço de promover as bases do desenvolvimento econômico, tema que quase sempre motivou minhas incursões por aqui.

Boa sorte aos que vão e aos que ficam!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A utilidade dos economistas

Um post de algum tempo atrás tratava de uma certa desilusão dos economistas com respeito à sua capacidade de transformar a realidade. Trato aqui de duas coisas: O que qualifica os economistas para contribuir para a formulação de políticas públicas? E ao tentar ser 'policy relevant', será que os economistas contemplam os stakeholders corretos?

Sobre a primeira pergunta, a resposta é inspirada pelo 'What Works in Development', do post anterior. Economistas possuem modelos elaborados de maximização de lucros e são capazes de derivar condições de primeira ordem - tão complexas quanto possíveis - do problema da firma. Ainda assim, duvido que algum economista acredite que faria melhor que o CEO que está sentado na cadeira de qualquer grande corporação. Então por que os economistas acham que podem fazer melhor que os políticos de Estados subdesenvolvidos ou que os indivíduos de países pobres? Que informação têm os economistas que aqueles não têm?

Note: se o problema é de accountability, uma vez que, diferente dos CEOs - com relação aos quais um contrato de incentivos mais poderosos pode ser desenhado para mitigar moral hazard -, políticos podem perseguir interesses substancialmente diferentes daqueles dos 'acionistas' do Estado, a recomendação de política é outra. Qual seja, a de tornar mais eficazes os mecanismos de checks and balances capazes de limitar a apropriação do aparelho do Estado para fins de rent seeking.

Essa pergunta é bem mais difícil de responder do que parece à primeira vista. Economistas em geral não compreendem todas as restrições a que estão sujeitos os formuladores de políticas públicas. No que diz respeito aos indivíduos, através dos inúmeros estudos que caracterizam comportamento não-maximizador (identificando, por exemplo, taxa de desconto hiperbólica para explicar porque mesmo os pais não-restritos por renda não matriculam seus filhos na escola ainda que o valor presente de fazê-lo supere seu salário de mercado), o que os economistas pretendem sugerir? Se o modelo mental de realidade dos indivíduos é diferente daquele dos economistas, o que é maximizador de bem-estar?

Finalmente, sobre 'policy relevance', é pervasiva na profissão a ausência de modelos positivos - em oposição a normativos - de oferta de bens públicos. Por exemplo, qual a motivação para a provisão pública de educação? Modelos de 'Normative as Positive' (NAP daqui por diante, Pritchett, 2009) diriam que o Governo provê educação porque esta envolve externalidades positivas. Mas isso não explica porque o Estado não o faz por meio de vouchers ou subsídios à provisão privada, mas oferta ensino diretamente na maioria dos países do mundo. Se, ainda conforme Pritchett, o objetivo do ensino público é transmissão de ideologia, ainda que esse ensino seja menos eficiente na utilização de insumos, mais lento na adoção de inovações, etc., então as recomendações de política advindos de regressões que testam a eficiência de diferentes insumos numa função de produção educacional são simplesmente 'policy irrelevant'. Nesse caso, a recomendação maximizadora de bem-estar seria, segundo o autor, alertar os indivíduos - os stakeholders relevantes, nesse caso - sobre a superioridade da oferta privada vis a vis oferta pública de ensino; em outras palavras, uma política de transformação de governança.

Em linha com o que argumenta Ben Olken, no entanto, não é claro por que essa informação já não estaria disponível para os eleitores. Ainda assim, ensino público continua a ser a regra, ao invés da exceção, e muitas vezes correspondendo a 100% da oferta de educação em alguns níveis, na maior parte das economias.

O que eu acho disso tudo? Que os economistas tem um papel a cumprir, em especial em colaboração com os stakeholders relevantes, na formulação de políticas públicas. Esse papel, no entanto, é bem mais limitado do que imaginam, sobretudo na ausência de um modelo positivo de provisão de bens públicos. Em particular, economistas deveriam se perguntar mais vezes o que eles sabem que os atores relevantes desconhecem. Como argumenta David Weil, é improvável que os pobres façam mau uso sistemático da informação disponível num ambiente de competição pela sobrevivência que caracteriza uma economia subdesenvolvida.

Referência:
PRITCHETT, Lance (2009) "The policy irrelevance of the economics of education: is 'normative as positive' just useless, or worse?" in 'What works in development?' eds. Jessica Cohen e William Easterly. Brookings Institute Press.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A ciência "hard" das randomized evaluations


Estou lendo o novo livro organizado por Jessica Cohen e William Easterly - What works in development: thinking big and thinking small. Recomendo. Cada capítulo mereceria um tratamento detalhado aqui, desde a teoria de oferta de educação pública de Lant Prichett, que acusa os resultados provenientes de randomized evaluations de 'policy irrelevant', até os comentários de David Weil e Paul Romer ao capítulo de Kremer e Holla acerca da estranha convicção dos economistas sobre sua capacidade de governar melhor que os policy makers.

Meu comentário hoje é mais geral, sobre o debate levantado por Dani Rodrik no que diz respeito à suposta superioridade das evidências provenientes de randomized evaluations vis a vis aquelas advindas de regressões que utilizam dados não-experimentais.

O fundamento desse argumento é que experimentos desenhados de maneira a garantir a adoção aleatória de um programa (ou ao menos afetar positivamente a probabilidade de adoção, de maneira a garantir a identificação de um efeito local - a partir da resposta dos ditos 'compliers') não sofrem do problema de validade interna, isto é, de identificação causal do efeito de interesse - ausência de 'counfounding effects' -, que são pervasivos em análises econométricas que utilizam dados não-experimentais.

Tomemos um exemplo: podemos estar interessados em qual a melhor maneira de prover um bem semi-público cujo consumo desejamos maximizar (digamos, porque seu consumo gera externalidades positivas; exemplos são insumos ligados a educação ou saúde) - de forma gratuita ou a um preço positivo (ou ainda, a um preço negativo, de forma subsidiada)? Não é claro ex-ante qual seria a melhor forma de fazê-lo porque (1) de um lado, em não se tratando de bens de Giffen, sua quantidade demandada deveria diminuir com o preço, mas (2) de outro lado, é possível que preço positivo ajude a selecionar os usuários que mais precisam desse bem ou que possuem maior retorno no seu uso, evitando que o bem seja utilizado para outros fins (e.g.: redes anti-mosquito para prevença de malária utilizadas para pesca) e ainda, há alguma evidência de 'sunk-cost fallacy', isto é, de que os indivíduos valorizam mais bens pelos quais despendem recursos, o que poderia aumentar sua utilização.

Há várias maneiras de tentar responder à pergunta de interesse, mas vamos nos restringir a duas delas. Primeiro, regredir as taxas de utilização desse bem em vários países e em vários pontos no tempo incluindo como regressores seu preço médio além de vários controles que podem estar correlacionados com o preço e com a demanda pelo bem em questão. Esse tipo de evidência em geral encontra dificuldade em convencer o leitor treinado de que identifica um efeito causal: todos os regressores relevantes foram incluídos? A quantidade demandada também não afeta preço? A especificação estimada é a verdadeira, ou suficentemente flexível? Em termos gerais, o pesquisador gostaria de explorar uma variação exógena no preço a que esse bem é ofertado de modo a estimar seu efeito causal sobre a quantidade demandada. A dificuldade em convencer a audiência sobre a validade do instrumento é, no entanto, um desafio enorme e, em última instância, uma questão de retórica.

Alternativamente, suponha que seja possível desenhar um experimento que determinasse que o bem fosse ofertado a preços distintos (incluindo zero), randomizado no nível individual, de modo que seja possível eliminar a preocupação com 'counfounding effects'. O pesquisador pode argumentar com mais segurança que identifica um efeito causal de preço sobre quantidade. Mas como garantir que esse resultado não é específico daquele desenho de experimento, daquela região, daquele momento no tempo? Esse é o problema de validade externa, isto é, de generalização dos resultados experimentais para outros contextos.

O ponto interessante do argumento de Rodrik é que o discurso dos pesquisadores para convencer sua audiência de que os efeitos identificados não se restringem às especificidades do contexto do experimento em análise não é menos questão de retórica do que a justificativa da validade do instrumento no caso de regressões que utilizam dados não-experimentais.

Poderia discutir muitas ressalvas feitas a este ponto. Por exemplo, Sendhil Mullanaithan argumenta que não é menos difícil generalizar de maneira top-down do que de maneira bottom-up; em outras palavras, o primeiro método também sofre do problema de validade externa. De todo modo, acredito que seja um balde de água fria na visão de que randomized evaluations sejam o novo 'padrão ouro' da caixa de ferramentas dos economistas.

Não há posição privilegiada de nenhum método para alcançar uma suposta verdade, tudo em última instância é uma questão de discurso. Uma outra dimensão é aquela de 'policy relevance,' à qual retorno no próximo post.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Último Post

Companheiros e Companheiras,

Felizmente minha vida de estudante está chegando ao fim. Eu sempre esperei gerar valor pra sociedade o suficiente para entregar de volta o investimento feito em mim. Nunca como caridade, sempre trabalhando sério.

Infelizmente, existe uma externalidade negativa para mim, que é a falta de tempo para dedicar ao blog. Agradeço mesmo aos comentaristas, mesmo que muitas vezes o tom da discussão fosse mais agressivo do que eu gostaria. Mas acho que isso acaba sendo um problema da internet em geral, e não só do Espectro.

Pretendo continuar comentando, e, eventualmente, contribuindo com posts convidados.

O Fim da TV Aberta

Assim como jornais e revistas (discutido aqui), os canais de TV aberta americanos estão com dificuldade de manter as receitas. Veja mudanças de horário no prime time e cancelamento de séries com alto custo de produção. No Brasil os jornais e revistas parecem estãao indo bem, obrigado, mas o mesmo não poderia ser dito sobre a TV. Ou pelo menos sobre a Globo e o SBT (ou seja, sobre os canais que não contam com fonte de renda divina).

Hoje eu vi um sintoma claro da dificuldade. Alguém no twitter alertou para o programa "Domingo Legal" de hoje, que teve como uma das atrações O Maior Trapézio de Curitiba. Esse sujeito é uma das celebridades do Youtube brasileiro. A participação dele no programa foi num quadro onde várias sub-celebridades participam de uma brincadeira concorrendo a um microsystem. Entre as provas, merchandising e bandas de pagode tocando.

Agora vejam a situação. A pauta do programa saiu da internet. A receita do intervalo comercial não são suficientes, o que traz o merchandising. Mas nem isso é suficente, porque a participação dos pagodeiros (foram 3 ou 4 bandas em 30 minutos) só pode ser explicada pelo pagamento de Jabá pelas gravadoras.

Projetando esse quadro para o futuro: o maior acesso a internet vai tornar desinteressante pautas requentadas como essa, a receita de propagandas vai continuar diminuindo (se seguirmos a tendência mundial), e o dinheiro nas gravadoras anda cada vez mais curto (discutido aqui).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Línguas

É muito comum ouvir pessoas reclamando que o ensino de português no Brasil é muito técnico, preocupado excessivamente com gramática, enquanto o ideal seria uma abordagem mais "americana", focada na capacidade de interpretar textos e escrever bem. Eu concordo com a crítica, mas acho que existe um fator estrutural que dificulta a mudança: o português é uma língua complicada.

Não sou eu que estou inventando que nossa línga é complicada. A quantidade de tempos e modos verbais aliada a flexões de número, gênero e grau é que servem de métrica para a afirmação. Nessa métrica, inglês e chinês, por exemplo são línguas simples (apesar de todas as dificuldades gráficas e fonéticas da segunda).

Curiosamente, sociedades mais atrasadas tendem a apresentar línguas altamente complexas. Exemplos abundam nas tribos africanas e sul-americanas. Um estudo recente, resenhado na economist, tenta encontrar padrões para tal regularidade. Eles concluem basicamente que línguas que passam por processos de expansão (durante o qual é aprendida por muitos adultos) acabam por se simplificar.

Um adulto tem mais facilidade de identificar o tempo que se passa a ação só pela presença de um advérbio, dispensando a flexão do verbo. Essas situações de "superespecificação" são o que dá trabalho para ensinar na escola. Um americano não precisa saber o que é sujeito e o que é objeto, mas um francês precisa, porque o pronome relativo é "qui" num caso e "que" no outro. Um brasileiro precisa aprender a conjugar um verbo em 6 tempos e 3 modos. Aí fica difícil focar na interpretação...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Remuneração no setor financeiro

Coluna de Steven Kaplan no Valor de 25/01 analisa a hipótese de que a estrutura de remuneração nas instituições financeiras tenha sido determinante do comportamento de risco que culminou na crise de 2008.

Para tanto, destrincha os resultados de artigo recente de Fahlenbrach e Stulz, que utilizando dados de cerca de 100 instituições financeiras, entre 2006 e 2008, testa a referida hipótese a partir de três desdobramentos: (1) se parcela expressiva dos vencimentos de altos executivos não era contingente aos resultados de longo-prazo das firmas; (2) se esses executivos possuíam volume insuficiente de ações e opções de compra de ações da própria firma; e (3) se as instituições cujos executivos eram caracterizados por mais remuneração de curto-prazo e menos ações do banco tiveram pior performance na crise.

O objetivo desse post não é analisar as técnicas utilizadas pelos autores, tampouco os resultados encontrados, mas apenas afirmar: testar (3) não é informativo para avaliar a hipótese de que a estrutura de remuneração no setor financeiro tenha sido determinante para a crise.

Isso pode soar um pouco chocante, dado que (1) e (2) podem ser respondidas de modo meramente descritivo (o que de fato é feito pelos autores, que argumentam no sentido de que apenas a menor parte da remuneração dos CEOs consistia de pagamento em dinheiro, enquanto o montante em opções e ações da firma era em média 24 vezes maior). É justamente (3) que exige um exercício econométrico, tão sofistificado quanto necessário para tentar separar possíveis tendências diferentes de firmas que possuíam diferentes estruturas de remuneração do efeito causal dessa estrutura de incentivos sobre desempenho.

Não importa quão sofisticadas - e quão caras aos colegas economistas - sejam as técnicas econométricas dos autores, elas são simplesmente inúteis para testar a hipótese de interesse. E isso se deve a um fato muito simples: a ausência de contrafactual adequado, na presença de complementariedade estratégica.

Complementariedade estratégica - diferente de externalidade, quando a ação de um agente afeta a utilidade dos demais - ocorre quando as ações de um indivíduo afetam o ranking de escolhas dos demais. Diante disso, ainda que, isoladamente, minha estrutura de remuneração não induza um comportamento diferente daquilo que seria maximizador para o banco, uma vez que todos os demais bancos estejam posicionados para obter retornos excepcionais de curto-prazo, posso adotar comportamento similar por uma série de razões: (i) porque a minha remuneração, ao menos em parte, depende do diferencial do desempenho da instituição financeira em relação à média do setor - um expediente contratual comum na presença de relação agente-principal como é a de shareholders-CEO -; (ii) porque eu tenho carreer concerns, e a perda de reputação relativa em relação aos demais CEOs pode ser bastante custosa; (iii) por pressão dos próprios acionistas ou da Diretoria, que observam desempenho superior - ainda que de curto-prazo - das demais instituições financeiras em condições bastante similares.

Em termos econométricos, isso significa que o resultado de cada firma depende explicitamente da estrutura de remuneração dela mesma e de todas as demais. Trata-se na verdade de um sistema de equações simultâneas; o coeficiente estimado pelos autores será inconsistente, e é pouco claro que o viés tenha direção bem-definida, que seja informativo de alguma maneira.

Para estimar consistentemente o efeito da própria estrutura de remuneração no desempenho - analogamente a um sistema de eqs. de preços e quantidades -, seria necessário um instrumento que produzisse variação exógena na estrutura de pagamentos dos demais. Mas estamos nos perdendo! Não é essa a hipótese de interesse! Estamos interessados em saber se a estrutura de remuneração foi determinante da crise, e essa pergunta é diferente daquela que um sistema de eqs. com variáveis instrumentais é capaz de responder - afinal, gostaríamos de investigar resultados sistêmicos.

Para que fosse possível testar essa hipótese, o contrafactual adequado, nessa situação, seria a ausência de uma estrutura de remuneração que (supostamente) induz incentivos perversos para todas as firmas no setor. Esse exercício, infelizmente, não é factível, a menos de uma mudança institucional como a que pode surgir no Governo Obama. Se a medida seria efetivamente positiva, é difícil dizer. Mas, para os avaliadores de impacto de plantão, teríamos aí um bom experimento.

O bode e o imposto sobre riqueza

Lula entre outras inúmeras habilidades políticas é mestre na arte de colocar o bode na sala para depois de retirá-lo para fazer parecer que o ambiente ficou bom. O novo programa de Direitos Humanos parece mais uma aplicação magistral dessa técnica.

Vamos partir do controverso pressuposto de que esse plano é sério e que se pretende legislá-lo, ao invés de aderirmos à interpretação de que se trata de um outro estratagema lulista para atrair os extremistas do partido. Se o plano é sério, o bode na sala é revisão da anistia política. Esse parece que vai mesmos ser retirado, no entanto, o que resta não cheira nada bem.

O programa tem alguns pontos positivos, como a regularização da união civil homossexual e outros negativos, mas em geral muito se distancia da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Um dos pontos negativos do programa é o imposto sobre riqueza. Não que eu seja contra redistribuir a renda, muito pelo contrário, mas essa não é a forma correta de fazê-lo. Imposto sobre riqueza distorce incentivos à poupança, favorece projetos imediatistas, cria incentivos a fraude e, em última instância, incentiva a migração dessas fortunas.

Mais detalhes sobre esses efeitos podem ser encontrados em "The Impact of Taxation and Valuation Practices on the Timing and Efficiency of Land Use" JPE(1979).

Se o que o Lula quer é poder dizer que reduziu a desigualdade no Brasil, ele não precisa disso. Qualquer um que olhe os dados e analise o impacto do bolsa família percebe isso. Se o que ele quer é agradar os extremistas para ajudar sua sucessora, corre o risco de deixar um legado bem fedorento.

Pirataria

Saiu um estudo interessante sobre o futuro da indústria da música (pdf aqui). O texto apresenta vários dados sobre a migração da mídia sólida para os arquivos em mp3. O único país onde a migração tem gerado resultados líquidos positivos para as grandes gravadoras até agora é a Austrália. Os piores? Brasil, Espanha e França (latinos, alguém?).

Nesses países a quantidade de downloads ilegais é muito maior do que no resto do mundo. Na Espanha, por exemplo, mais de 30% dos usuários de internet baixam música ilegalmente. Isso é mais do que o dobro da média européia. Mas mesmo em países onde a pirataria é "moderada", o ganho de receita com vendas virtuais tem sido insuficiente para cobrir a diminuição de receita vinda de vendas físicas. Nem mesmo a participação na receita de turnês é capaz de inverter a tendência de queda de faturamento e lucro.

O estudo aponta isso como causa de uma queda brutal nas novas bandas lançadas pelas grandes gravadoras. Nos últimos anos no Brasil, por exemplo, caímos de quase 700 novos discos de artistas nacionais para menos de 100. Quedas na França e na Espanha também foram acentuadas. Não sei quanto disso era porcaria fomentada pelo monopólio das gravadoras e quando é suprido por selos menores, mas desconfio que a resposta, pelo menos para a primeira pergunta, é: bastante.

É sintomática a notícia da semana passada n'O Globo sobre a banda "OK Go". Pelo nome pouca gente conhece, mas milhões de pessoas já viram o vídeo das esteiras rolantes. Recentemente a gravadora deles (EMI) travou a exibição do vídeo fora do youtube (Otrazendo todo o tráfico para as propagandas na página do vídeo). Os próprios músicos são contra o movimento, lembrando que foram esses vídeos que tornaram a banda conhecida.