sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Procura-se um reacionário

Minha manhã de hoje foi dedicada a tarefa de percorrer as livrarias do centro de La Paz em busca do livro Conversa na Catedral do Mario Vargas Llosa. Presumi, inocentemente, que não seria difícil encontrar aqui um livro do mais conceituado autor peruano e que pelo custo de vida boliviano, seria mais barato. Estava errado.

Sai cedo do hostel em direção a livraria recomendada pelo Lonely Planet. No caminho parei em uma livraria jurídica e perguntei se havia livros de literatura, o vendedor me respondeu de forma simpática que sim, mas logo descobri que só havia autores nacionais. Dei um crédito pois se tratava de uma livraria jurídica e já esperava algo assim.

Chegando na livraria recomendada, Amigos del libro, perguntei se havia algum livro de Vargas Llosa, o vendedor me olhou com a cara fechada subiu em uma estante e jogou sobre a mesa um exemplar de "A Cidade e os Cachorros". Perguntei se havia outros e ele me respondeu ainda mais emburrado que não. Sai sem entender.

Fui à outra livraria recomendada pelo guia, chegando lá me atendeu um vendedor inicialmente simpático cujo rosto se fechou ao responder que não tinha nenhum livro do Vargas Llosa. Já imaginando o que se passava, parti para provocação: -Y de Borges, no hay? Tampoco! Perguntei porque eu não conseguia encontrar livros desses autores e o vendedor me respondeu que não vendiam livros de reacionários.

A epopéia se seguiu por 8 livrarias. Na maioria delas, os atendentes não foram grossos, simplemente não tinham livros de nenhum dos dois autores, muito embora biografias do Evo Morales caíssem em meu colo e Gabriel Garcia Marques e Isabel Allende abundassem nas prateleiras, vendidos a 25 Bolivianos.

Na oitava livraria, quando já estava disposto a comprar na Amazon, encontrei algumas obras do Vargas Llosa e por sorte, Conversa na Catedral, bem mais caro do que esperava, 90 bolivianos. Perguntei-os por que eu não encontrava em mais lugares obras dele e simplemente me responderam que não são mais publicadas.

Sou daqueles que acham que todo livro deve ser acessível, mesmo Minha Luta do Hitler (que aliás eu vi em uma estante), e que quem perde com isso são os bolivianos, que ficam mais fechados ao resto do mundo.

3 comentários:

Guilherme Lichand disse...

na próxima viagem você pode ir até o Afeganistão tentar comprar um CD do Duke Ellington

Tiago Caruso disse...

Não entendi Guilherme,
você está se depreciando insinuando que Mario Vargas Llosa é inusitado ou depreciando os bolivianos dizendo que para eles, ele deve ser?

Bernard Herskovic disse...

No Brasil de 1970 era muito difícil comprar O Capital de K. Marx, era subversivo... situações absurdas da vida, comovente relato.