domingo, 20 de julho de 2008

Tudo que não é solido se sustenta no sal

O que essa foto representa para vocës?
Essa foto eu tirei a pouco em Uyuni na Bolívia. Tive que esperar uns 20 minutos até que uma senhora vestida de forma tradicional estivesse no local exato.
Para mim ela representa o papel marginalista que o marxismo tem no mundo atualmente.
Felizmente é cada vez mais raro encontrarmos quem defenda atrocidades como a ditadura do proletariado. Eu tive que ir até o deserto de sal na Bolívia.

Provocação

Tirado do xkcd:

terça-feira, 15 de julho de 2008

Estréia

Eu acho que esse blog vai acabar me fazendo mal. Eu gosto (um pouco) de ficar discutindo economia e política, mas pergunta pras pessoas quais são os assuntos elas acham mais chatos e esses dois vão ser primeiro e segundo colocados. Então tenho tentado não discutir nem um, nem outro. Depois eu pensei melhor e concluí que num blog seria menos mal, porque só lê quem quiser.

E aí eu chego no ponto que eu quero levantar no meu primeiro post, e que (espero) vai estar presente de uma forma ou de outra em todos os outros. Para mim, o seguinte princípio vale em todos os lugares, a qualquer tempo: cada um sabe o que é melhor para si. E se não sabe, o problema não é meu.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Link data to design

Essa apresentação me foi passada há pouco mais de um ano pelo Rogério Werneck. Eu, particularmente a acho muito boa.

http://www.youtube.com/watch?v=RUwS1uAdUcI

Há dois pontos muito interessantes nessa apresentação.

o primeiro serve como uma introdução sobre as mudanças que ocorreram nos últimos anos. Infelizmente ainda encontramos no Brasil muitas pessoas, bem educadas, que não têm idéia das das transformações no mundo, espcialmente a partir da década de 80 e ainda se referem ao mundo como países pobres e ricos, ou primeiro mundo e terceiro mundo. Aparentemente isso se passa na Suécia também, então não dá para culpar a nossa falta de conhecimento do resto do globo ou isolamento cultural.

Segundo para aqueles que já conhecem essas transformações, fica um apelo pela clareza nos dados. Acredito que esse era o propósito da apresentação. Dados mais interessantes elevam o nível do debate. Acho que o apelo não deve ficar só nas estatísticas. Economistas deveriam se esforçar mais para se comunicar melhor, falando e escrevendo melhor (reconheço que eu estou longe de falar bem) e tornar nossas descobertas mais acessíveis.

Por último vale dar uma olhada no gráfico em que ele compara Brasil com Coréia do Sul. Reparem como o Brasil estava distante da relação padrão entre riqueza e saúde. É bem comum encontrarmos economistas heterodoxos que dizem que essa geração não viu o Brasil crescer. É verdade. Mas essa geração viu o Brasil aumentar sua expectativa de vida, viu o Brasil diminuir drasticamente a mortalidade infantil, viu o Brasil reduzir a taxa de analfabetismo, viu o Brasil colocar mais de 95% da crianças na escola, viu a desigualdade social no Brasil cair, enquanto na deles só aumentou. Não está claro se estávamos melhor antes.

Quem quiser brincar com o software
http://www.gapminder.org/

Vale sempre a pena olhar o que acontece no TED, é bem interessante.
Abs

sábado, 5 de julho de 2008

Crítica ao mistério sagrado do capital

O mistério sagrado do capital

O Lichand mandou esse texto para o grupos do mestrado, na véspera da prova de macro, classificando-o como excelente. Eu esperava ver algo interessante sobre economia, mas me deparei com um Paulo Coelho inglês. Depois de passado o ódio inicial pelo tempo perdido, prometi comentá-lo. Na verdade acho que fui injusto com o texto, ele não deve ser levado tão a sério. Só assim, mas ainda acho que nem assim, ele pode ser considerado bom. Ai vão meus comentários.

A idéia da economia como sendo uma religião não é nova. Como apontou Max Weber, os primeiros protestantes viam o sucesso econômico como um sinal de Deus de que alguém era celestialmente eleito. Foi um pequeno passo passar disso a buscar o sucesso para assegurar a salvação. O capitalismo, como disse Walter Benjamin, pegou discretamente a Reforma Protestante e substituiu a religião por si mesmo: ele se tornou uma religião, a religião ocidental. Logo, quando o protestantismo chegou aos Estados Unidos, em sua forma mais pura, o capitalismo fez o mesmo: as Américas espanholas católicas nunca prosperaram economicamente, diferentemente da América do Norte anglo-saxã protestante.

Weber nunca disse que a economia é uma religião, disse que o protestantismo ajudou a desenvolver o capitalismo. Dizer que o capitalismo é a forma mais pura do protestantismo é uma injustiça às idéias do Lutero e à competência dos judeus.

Mas as religiões evoluem, e os eventos recentes mostram que o capitalismo começou a evoluir menos como os tentilhões de Galápagos (cujos bicos se ajustaram ao longo de milênios para se adequar às bagas de sua ilha individual), e mais como o Incrível Hulk. O capitalismo Incrível Hulk pode expandir seus músculos de crédito tão rapidamente que suas roupas de ativos do mundo real não podem se expandir rápido o suficiente para contê-los. Expansão, explosão, colapso.

O capitalismo Incrível Hulk cai, atordoado e encolhido de novo, nas trapos de seus ativos. Ou, retornando à nossa analogia religiosa, se o capitalismo fosse uma religião, ela agora seria um culto pseudocientífico prazerosamente demente.O capitalismo Incrível Hulk está para o capitalismo de Adam Smith como a Cientologia está para cristianismo de Cristo. Tanto as altas finanças modernas quanto a Cientologia usam a linguagem e instrumentos da ciência para fins que são religiosos, não científicos. Ambos atendem uma necessidade, um anseio que as antigas formas de religião e capitalismo não mais atendem. A necessidade de um poder misterioso maior do que nós, no qual possamos acreditar. Ele precisa ser poderoso - mas também deve ser misterioso. E o mistério vem desaparecendo do mundo cada vez mais rápido, desde Galileu.

Aqui o autor começa a demostrar sua arrogância intelectual. Se eu não entendo, não existe, é religioso, místico. Afinal, como poderia existir algo que ele não entende.

De Adam Smith até o presente se passaram pouco mais de 200 anos. O Islã, o cristianismo e as religiões do Oriente levaram muito mais tempo para cobrir territórios bem menores. Por que o capitalismo moderno acelerou repentinamente, de forma explosiva, sua disseminação nos últimos 30 anos?

Porque o capitalismo ao contrário das outras religiões oferece a recompensa nessa vida. Na verdade, como veremos mais adiante, o autor sabe disso.

Para um sistema substituir sem derramamento de sangue outro sistema entrincheirado, o novo deve oferecer alguma melhoria significativa. E deve oferecê-la a todos. A religião de Abraão e Moisés não explodiu pelo mundo até que Paulo decidiu tornar a versão do judaísmo pregada por Jesus aberta a todos, independente de seu nascimento. Da mesma forma, o capitalismo à moda antiga era incapaz de se tornar uma religião universal, porque não oferecia esperança de salvação para todos. Apenas aqueles nascidos em uma elite de proprietários de terras e donos de capital podiam ter acesso ao capital. Mas o recente aumento do capital de risco abriu o capitalismo a todos e finalmente o tornou uma religião potencialmente universal.

Uma hora ele gosta do Hulk financeiro, outra hora ele não gosta. Já deu para perceber que o texto é mais um retalho de metáforas do que um argumento ou uma crítica.

Apenas mais uma mudança era necessária, e ela veio em 1971. Pois enquanto o dinheiro precisava ser apoiado pelo ouro, a economia estava enraizada no mundo material (da mesma forma que o cristianismo era apenas uma filosofia interessante enquanto Cristo estava vivo). O abandono do padrão ouro foi a crucificação e ressurreição do capitalismo; o evento traumático e libertador que permitiu ao capitalismo ser puramente religioso e totalmente movido pela fé. E como todas as religiões, assim que seu elo com o mundo físico foi partido, o capitalismo de livre mercado lamentou brevemente, então experimentou um aumento de energia e expansão.

Eu detesto esse argumento do padrão ouro. Qual é o valor intrínsico do ouro (seja lá o que isso quer dizer)? Qual a sua utilidade marginal? A moeda sempre foi baseada na confiança.

Aqui o autor começa a sua principal confusão: fé e incerteza. Fé é acreditar na ausência de lógica ou evidência. Incerteza é a ausência de alguma informação. Existe uma enorme diferença entre não ter toda informação e não ter nenhuma informação.

Em uma explosão dos mercados de crédito, gastos geradores de déficit e dinheiro baseado em fé, ele subjugou os soviéticos e chineses e sacudiu as sociedades islâmicas até suas raízes. Ele se expandiu mais longe e mais depressa que o Islã após a morte de Maomé. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial enviaram seus missionários para cada país. E sua língua agora substituiu o latim como língua universal, falada por uma casta sacerdotal sombria, vestida de preto, mas expressa sem o entendimento das pessoas comuns.

As pessoas precisam disso, elas anseiam por mistérios, um sacerdócio, xamãs em contato com grandes forças. E as altas finanças modernas, como o latim da igreja cristã, têm mistérios profundos em seu âmago. Nem mesmo banqueiros sabem o que uma obrigação de débito colateralizada ao cubo realmente é.

De novo ele se agarra na certeza de que seu conhecimento é universal ou ao menos universal das pessoas comuns (seja lá o que isso queira dizer). Aposto que esses banqueiros também não sabem o que é CDO. Se sabem, não sabem o que é ao cubo!

O autor também sofre de etnocentrismo. Só porque ele se interessa em misticismo, ele crê que é por isso as pessoas se interessam pelo mercado financeiro, e não porque dá dinheiro.

Enquanto antes o mistério essencial estava contido na frase "fiat lux" - que haja luz - ele agora está contido na frase "fiat money" (moeda fiduciária). O dinheiro, essa coisa sem peso, esse espírito que está em toda parte e em lugar nenhum: este nada em tudo, é o Espírito Santo do capitalismo. E seu toque pode transformar você nesta vida, dando a ele uma grande vantagem sobre religiões anteriores, que oferecem apenas consolo na próxima. Um banco com uma base de capital de US$ 10 bilhões pode emprestar US$ 100 bilhões. Mas com esse dinheiro, as pessoas constroem casas reais, dirigem carros reais, comem pão real e bebem vinho real. Este não é um ato de criação? Não é um mistério digno de Deus?

Falei que ele conhecia as benéfices do capitalismo.
Mistério de Deus não, mas eu também acho bem interessante.

Um banqueiro pode fazer um empréstimo de US$ 1 bilhão para uma empresa de mineração. Este dinheiro baseado em fé, apoiado por nada, transferido eletronicamente, é usado para transformar colinas em buracos. A mineradora envia o minério resultante para todo o mundo. Nós vivemos na primeira era em que a fé pode literalmente mover montanhas.

Sugiro que ele tente conseguir um empréstimo de US$ 1 bilhão apoiado por nada.

Os críticos do capitalismo de consumo se desesperam diante da tolice das massas, que compram o que querem embalado como se fosse o que precisam. Mas este é um entendimento equivocado da transação. Nós rezamos com nosso dinheiro, que é apoiado por nada a não ser fé, e um milagre acontece - nossas cestas se enchem de bens, muito mais coisas do que poderíamos produzir ou cultivar nós mesmos. Em todas as outras religiões, você vai ao templo e dá aos guardiões alimentos que você cultivou com dificuldade. Sob esta nova religião melhorada, o templo dá alimento a você. O que acontece, toda vez que realizamos compras, é um milagre semelhante ao dos pães e peixes.

Muitos falam sobre as desigualdades do capitalismo moderno. Mas a verdade é mais sutil e estranha. O cristianismo antes pregava a igualdade do homem, mas não conseguiu encontrar um modo de tornar real a visão. O comunismo tentou e fracassou em impor a igualdade a nós. Mas apenas nosso capitalismo moderno, excitável, baseado na fé, conseguiu este grau de uniformidade e igualdade. A Ikea, com suas cadeiras de US$ 10, está proporcionando não apenas o céu cristão, mas também o comunista: todos iguais, sentados nas mesmas cadeiras, iluminados pelos mesmos abajures, em todo o mundo.

Viu, no fundo ele gosta do Hulk e reconhece o recente sucesso do capitalismo.

*Julian Gough conquistou o prêmio BBC National Short Story em 2007.

Ele é, de fato, um autor de contos.
Como sugeriu o Fabrício, é um bom texto para passar no vestibular da UFRJ, mas muito ruim relativo à economia.