terça-feira, 27 de outubro de 2009

América Marxista

Depois de ouvir um comentário sobre a popularidade de economistas famosos, resolvi dar um conferida no Google Trends quanto cada um dos nossos velhos conhecidos é procurado na internet. O resultado foi o seguinte:
No gráfico, Marx está em azul, Keynes está em vermelho e Friedman está em amarelo. Temos dois problemas com esses números. Primeiro, Marx é buscado também por pessoas com interesse em sociologia e história, o que dá uma inflada nos números dele. Segundo, Friedman é um sobrenome mais comum, que inclui o autor daquele livro "O Mundo é Plano", o que também infla um pouco os números dele.

Mas, acho que nada disso mudaria muito a minha interpretação do resultado: existe muito mais gente interessada em autores não-liberais do que em autores liberais.

Agora o mais interessante talvez seja a lista dos países onde Marx é mais buscado, na ordem:

1. Colombia



2. Mexico



3. Brazil



4. Argentina



5. Venezuela



6. Germany



7. Chile



8. Peru



9. Austria



10. Spain




Dos 10 primeiros, 7 estão na América Latina. Dos 5 primeiros, todos estão na América Latina.

domingo, 25 de outubro de 2009

Entidades de classe

Para que serve o COFECON???

Art. 7º - O COFECON, com sede no Distrito Federal, terá as seguintes atribuições:
a) contribuir para a formação de sadia mentalidade econômica através da disseminação da técnica econômica nos diversos setores da economia nacional;
b) orientar e disciplinar o exercício da profissão de economista;
c) tomar conhecimento de quaisquer dúvidas suscitadas nos Conselhos Regionais e dirimi-las;
d) organizar o seu regimento interno;
e) examinar e aprovar os regimentos internos dos CORECONs e modificar o que se tornar necessário, a fim de manter a respectiva unidade de ação;
f) julgar, em última instância os recursos de penalidades impostas pelos CORECONs;
g) promover estudos e campanhas em prol da racionalização econômica do País;
h) fixar a jurisdição e o número de membros de cada Conselho Regional, considerando os respectivos recursos e a expressão numérica dos economistas legalmente registrados em cada região;
i) elaborar o programa das atividades relativas ao dispositivo das letras "a" e "g" para sua realização por todos os Conselhos;
j) servir de órgão consultivo do Governo em matéria de economia profissional.

... mas para que serve o COFECON?? E os CORECONs??

Para que serve um orçamento na casa dos R$ 4 milhões e que dobrou** nos últimos 6 anos?

** estou assumindo que os colegas economistas do Conselho Federal de Economia publicaram um balanço que faça algum sentido, isto é, em R$ constantes de algum ano de referência. Infelizmente, a partir do documento oficial não pode ser descartada a hipótese de que os valores estão em R$ correntes e, portanto, não possuem comparabilidade imediata. É triste.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Onda do Momento

Todos os jornais on-line hoje estão dando destaque para as reações do mercado ao anúncio da taxação da entrada de capital estrangeiro sob forma de investimento financeiro. No momento em que escrevo, a bolsa cai 4,5%, o real se desvaloriza 2,5% em relação ao dólar e 6,2% em relação ao euro e o risco país sobe 0,45%.

O Ministro da Fazendo, no anúncio feito ontem, explicou que a medida busca evitar a entrada excessiva de capital especulativo com objetivo duplo: evitar uma valorização ainda maior do real e evitar que se forme uma "bolha" no mercado acionário nacional.

Nosso Ministro esqueceu de dizer que a medida também aumenta o custo de captação de recursos estrangeiros, por exemplo em IPOs, que tem sido uma fonte importante de financiamento das empresas nacionais nos últimos anos. Não tenho os dados aqui, mas alguma coisa em torno de 75% das compras nesse tipo de operação são feitas por estrangeiros.

Agora voltando para os objetivos, acho que a medida tem sucesso em mudar o nível da taxa de câmbio, mas não a tendência. Uma análise de eventos rasteira mostra que a medida teve um impacto de ~2,5% no câmbio. Mas ao longo do tempo, se o índice de preços de commodities (digamos, CRB) continuar subindo, a taxa de câmbio vai continuar se apreciando.

Sobre a "bolha" do mercado acionário eu não vou me arriscar. Mas o fato de eu sempre escrever bolha entre aspas já mostra qual é minha opnião a priori sobre o assunto. Na minha cabeça, esse impacto de 4,5% hoje é um misto de dois efeitos. Primeiro, se o investidor externo estava disposto a pagar 100 por uma ação nacional, essa ação era vendida para ele por 100. Agora ela é vendida por 98. Segundo, efeitos do aumento de custo de captação já citado e mudança no nível (não na tendência) no volume de aplicações estrangeiras.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Esperança Neoclássica Vs. Paternalismo Desenvolvimentista

Há uma inversão de papéis curiosa quando se fala do comportamento e tomada de decisão dos pobres e pouco educados. Na visão comum, a teoria neoclássica do desenvolvimento é associada ao neoliberalismo e estado mínimo. Entre outras generalizações, é vista como de direita, contra a redistribuição e elitista. E no entanto há na teoria neoclássica uma plena confiança na capacidade de tomada de decisão dos desfavorecidos. Decisões “estanhas” (trabalho infantil, crediários absurdos a lá Casas Bahia, n. de filhos, apoio a arranjos políticos coronelistas) são sempre compreendidas em função de restrições (credito, seguro, vulnerabilidade a pressões locais, etc...). Em parte isso é uma decorrência natural do método: indivíduos são modelados como maximizadores independentemente do seu capital físico ou humano.

Por outro lado esta é uma das áreas mais “empíricas” da economia mainstream, com ênfase maior na identificação de relações causais (avaliação de programas, promoção de experimentos). Estas avaliações mostram o sucesso de programas que as relaxam as restrições às quais estão submetidos os pobres sem restringir muito as escolhas individuais (promoção de seguros , crédito e transferências em dinheiro).

Já uma outra vertente racionaliza estas escolhas "estranhas" como erros de decisão. Indivíduos, principalmente os pobres por não terem estudado, não compreendem bem os problemas que enfretam: os juros embutidos no crediário (como defende Eduardo Giannetti no seu último livro), as consequências da gravidez na adolescência, os impactos de sua alienação política. De forma igualmente grosseira podemos associar esta visão a certo “paternalismo desenvolvimentista”, que justifica uma ação estatal mais forte com tecnocratas decidindo pelas pessoas o que é melhor para elas. E no entanto esta visão é vista como mais pró-pobre e de esquerda. , apesar de tão pouca confiança no livre arbítrio dos que se quer ajudar.

Se as pessoas fazem ou não erros de decisão e se eles são mais comuns entre os pobres é uma questão fundamentalmente empírica (alguém sabe o que a economia comportamental diz a respeito?). Mas não se trata de uma divergência acadêmica inócua pois de cada visão decorrem prescrições de política públicas diferentes. Mais Bolsa Família ou Política Industrial?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Bolsa professor Nicola de matemática para Clóvis Rossi

O professor Nicola de matemática acredita que inteligência é unidimensional e que, portanto , ninguém pode ser tão bom em português e tão ruim em matemática. Por isso após ler o seguinte texto, resolveu oferecer a Clóvis Rossi uma bolsa de estudos de sua fundação para lhe ensinar um pouco de dinâmica.

O texto é ruim como um todo. Como foi a cobertura da Folha sobre a vitória da candidatura do Rio de Janeiro para sediar as olimpíadas de 2016. Esta pareceu mais pautada pelo recalque do que pelo objetivo de informar. No entanto, o texto é especialmente ruim ao usar o IDH para fazer um paralelo.

É ruim porque usa a colocação do Brasil no ranking para argumentar que nossa classificação é vexatória. Não é. A impressão que se tem é que o novo aluno do professor Nicola simplesmente leu o ranking de IDH e escreveu a coluna, sem o mínimo de cuidado jornalístico.

O problema de se fazer isso é que: 1) colocação de ranking é pouco informativa. Desenvolvimento não é concurso de Miss. Não importa se você subiu ou caiu de posição, qualidade de vida não é uma medida comparativa. 2) Em ranking não percebemos a dinâmica. Vemos a fotografia, não o filme.

Exatamente como relatou texto da The Economist, poucos dias depois, a dinâmica do desenvolvimento no Brasil é boa. Mostrando que a qualidade da análise econômica do jornalismo brasileiro ainda está muito aquém da de seus competidores internacionais.

Se o objetivo do texto era responder às hipérboles do presidente que dissera que o Brasil agora era um país de primeiro mundo, perfeito. Entretanto, não se deve combater bravatas com bravatas, mas com argumentos.

A verdade é que são notórios os avanços do Brasil em desenvolvimento humano nos últimos 15 anos. A expectativa de vida aumentou, mortalidade infantil caiu, melhorou a escolaridade e a desigualdade vem desabando. Claro que há muito o que fazer, especialmente em relação à qualidade do ensino básico, mas para criticar é preciso seriedade na análise dos dados. Esperamos que o professor Nicola ensine isso ao notório colunista da Folha.


Bolsistas ativos da Fundação professor Nicola de Matemática:
-Elio Gaspari
-Clovis Rossi

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ostrom e Williamson...

... são os recipientes do prêmio Nobel de Economia de 2009. Se de um lado confesso que conhecia bem o trabalho de Williamson, especialmente aquele condensado no livro "The economic institutions of capitalism", realmente um framework muito interessante que enfatiza a transação como unidade de análise e coloca a especificidade de ativos e a incerteza como determinantes centrais da escolha de governança, nunca tinha ouvida falar de Elinor Ostrom...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A cozinha maravilhosa de Olivier Blanchard

Existe um grupo de economistas que considera que uma das causas fundamentais da crise foram os desequilíbrios globais, isto é, países desenvolvidos mantendo enormes déficits em conta corrente, enquanto emergentes ficavam com o superávit. Quem financiava a festa? Os emergentes, comprando títulos dos desenvolvidos para acumular reservas. Essa política garantia um seguro contra sudden stops na estrada de capital nos emergentes E permitia aos desenvolvidos manter seus déficits fiscais.

Hoje eu acho que é consenso que quem sofreu as conseqüências da brincadeira foram os desenvolvidos. Um dos motivos para isso (já não é consenso) foram as reservas gigantescas dos emergentes, que permitiram que a saída abrupta de capitais não causasse grandes reflexos na economia.

Aí, no último fim de semana teve uma reunião do FMI em Istambul. E o Blanchard, bonitão, disse que acumular reservas é burrice, e propôs um sistema de seguros, onde os países interessados pagariam um prêmio anual ao FMI pelo direito de sacar recursos em momentos de emrgência. E, olha que excelente, países com políticas consideradas saudáveis poderiam pagar prêmios menores.

Ou seja, a gente resolve o problema dos desenvolvidos, ferra os emergentes e ainda descola uma graninha extra para o FMI. Achei de uma cretinice monumental.

PS.: A distinção "desenvolvido" e "emergente" é didática. É claro que não dá pra dizer que todos os países de cada grupo se comportaram da maneira descrita acima.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Quem leva?

Semana que vem sai o "Nobel de Economia".

Vamos aos palpites.... quem vocês acham que leva? Segue um link de apostas

Eu não acho que é a vez do Fama (Victor discorda?). Meu chute: Jean Tirole.