sexta-feira, 27 de março de 2009

Dealing (with) Drugs

Quando eu vi a notícia daquela confusão em copacabana eu me lembrei de uma série de reportagens que saíram na the economist (1, 2, 3, 4, 5). A reportagem número dois foi a que mais me chamou a atenção. Ela faz uma descrição da situação do crime organizado no méxico que é (à primeira vista) muito semelhante à situação brasileira. Existem diversas organizações de tráfico que disputam o mercado entre si através de práticas violentas e essas mesmas organizações (ou dissidentes) acabam por diversificar as fontes de renda se utilizando de assaltos, seqüestros e outras atividades ilegais.

Mas, se prestarmos mais atenção, existe uma diferença fundamental. Além de todo o mercado consumidor mexicano, os traficantes de lá têm grande parte do mercado americano. Isso deve gerar uma receita muito grande. Aqui no Brasil não me parece que os traficantes sejam grandes "exportadores". O que me leva a fazer as seguintes perguntas:

1) Se os traficantes daqui movimentam menos dinheiro, por que a criminalidade atinge níveis semelhantes aos níveis mexicanos? Como aqui os ganhos de conquistar um mercado são menores, eu esperaria menos ferocidade na disputa.

2) Se os traficantes dos EUA são os que disputam os maiores mercados, por que a ferocidade é tão menor?

Muito do que eu disse acima está baseado em suposições e percepções pessoais, mas acho que pode sair alguma conclusão interessante dessa linha de raciocínio.


segunda-feira, 23 de março de 2009

Sobre PUC-RJ e EPGE

Muita gente tenta entender em que sentidos PUC-RJ e EPGE são diferentes. Há muitas dimensões de comparação; vou me ater a uma delas: as dissertações de mestrado.

A tabela abaixo ilustra a produção de 2007 e 2008, e é uma tabulação própria a partir de dados públicos disponíveis nos websites das universidades:


O número de dissertações é bastante próximo, ilustrando a combinação de dois fenômenos: se na EPGE entram mais candidatos, também é o caso que mais gente migra direto para o Doutorado na casa (na PUC isso é na verdade um evento raro).

As classificações são mais informativas, os critérios foram tão objetivos quanto possíveis. Talvez valha um comentário apenas sobre o que foi classificado como Economia Matemática: qualquer dissertação que tivesse ênfase na caracterização completa de modelos - incluindo demonstrações de existência, unicidade, etc. Grande parte dos artigos nesta categoria é de desenho de mecanismo, um ou dois são de leilões e alguns poucos de condições não-Ponzi em Finanças.

Com relação a Teórica e Aplicada, foram consideradas teóricas as dissertações que dedicassem mais da metade dos capítulos à construção e extensões de modelo original, seguidas ou não de aplicação empírica.

A tabela mostra que a PUC apresenta um equilíbrio entre dissertações em Micro e em Macroeconomia, apesar das críticas recorrentes à ausência de professores dessa área no departamento (muitas orientações em Macro são realizados por professores ligados ao depto., como Ilan Goldfajn e Affonso Bevilacqua), e uma proporção expressiva em Finanças, mas pouquíssima produção em Economia Matemática e Econometria. Em contraste, a EPGE apresenta maior proporçao das dissertações direcionada à Microeconomia, e expressiva produção em Economia Matemática (em proporção equivalente ao que a PUC produz em Finanças).

Essas diferenças são ainda mais ressaltadas pela decomposição entre teórica e aplicada; se na PUC há uma enorme desproporção, com mais de 85% das dissertações aplicadas, na EPGE há relativo equilíbrio.

Alguns trabalhos publicados analisam outras dimensões de comparação e incluem outras universidades; links aqui e aqui

quinta-feira, 12 de março de 2009

CDS x CDO: uma regressão espúria...

Achei interessante uma matéria da revista Wired. (Link aqui) . A matéria trata da história do Dr. X. Li, um chinês que nos anos 90 inventou uma maneira de precificar os CDOs (Collateralized Debt Obligations) através do preços do CDS (Credit Default Swaps). Para quem não sabe, CDOs são instrumentos financeiros do tipo ABS (asset-backed securities) cujo valor e pagamentos são derivados de um portfolio de ativos subjacentes (usualmente renda fixa). Um tipo bastante discutido hoje são CDOs de hipotecas norte-americanas.

O interessante é notar que provalvemente o grande erro de previsão do Dr Li pode ser resumido numa explicação econométrica bastante simples: trata-se de uma grande regressão espúria. O preço dos CDS e CDOs provalvemente não cointegram, conforme ele previa.

Agora o mais interessante seria ver qual foi o impacto da utilização dessa metodologia, em especial no quant funds, em meio a crise atual. Alguém tem informações a respeito?

terça-feira, 10 de março de 2009

Help Rafael Understand

Isso aqui é possível? Por favor, apontem furos no raciocínio (à primeira vista eu não consegui achar nenhum)...


ABSORBING NOT ADDING LIQUIDITY

The problem is not the overall amount of money that investors have poured into commodity markets, but its concentration at certain points along the futures curve, and the fact investors have tended to behave as a herd, all trying to go long at the same time. As a result, the influx of investment money has tended to absorb rather than provide liquidity to the rest of the market.

In theory, rising commodity prices should have encouraged commodity producers to sell production forward, ensuring the market remained balanced. In practice, it simply encouraged producers to discontinue hedging programs and accept spot prices, in expectation prices would rise even further.

So as oil prices climbed relentlessly, buying interest from investors was met by less selling interest from producers, and less willingness from dealers to take a short position against the trend. Liquidity declined, prices became discontinuous and the market began to “gap” higher.

Even after prices have fallen, the concentration of investor positions in certain parts of the curve is still causing distortions. The need to roll the Oil Fund’s contracts and those of commodity indices forward each month (selling existing holdings in the nearby month and buying contracts for the next one) is keeping the market locked in a deep contango.

Contracts which the Oil Fund and the indices need to sell are locked at a permanent discount to the ones they need to buy, as the rest of the market preys on forced sellers. In the process it is inflicting substantial roll losses on index and fund investors even though oil prices have been steady over the last three months.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Diversionando

Em tempos de futebol de resultado, foco no cliente, São Paulo F.C. e Imperatriz Leopoldinense, poucas atividades ainda são realizadas com amor e apreciadas como arte. Uma das que persiste é o nonsense. Nós estamos vivendo agora o tempo do nonsense moleque, do nonsense maroto, do nonsense com aquela malemolência brasileira, jogado no 4-3-3 com dois pontas abertos, um na esquerda e outro na direita.

Mas a arte, além de bonita, muitas vezes ganha jogo. Depois de ter sido acusado de "diversionismo" na discussão de um post passado, que seria uma espécie de nonsense 3-5-2, eu resolovi listar meus três "nonsenses de resultado" preferidos.

1) The Chewbacca Defense

Uma maneira eficiente de uma pessoa confusa confundir seu "adversário". Praticamente um gambito da dama dos tribunias penais.

2) A Estratégia do Dinossauro

Uma maneira de uma pessoa ineficiente não parecer ineficiente.

3) The King Kong Defense

Uma maneira de desviar os ataques para uma terceira pessoa (confusa e ineficiente), livrando o alvo original do perigo. Quase uma variante da Chewbacca defense, mas exige eficiência e não-confusão por parte do executor.

terça-feira, 3 de março de 2009

Solução de mercado?

O Governo do Estado de São Paulo está com um problemão. Gasolina adulterada é uma realidade prevalente em quase qualquer posto, segundo levantamento da ANP; se a proporção de álcool no combustível não deveria superar 25% (+ ou - 1%), esta alcança rotineiramente números superiores a 40%.

A fiscalização atual é incipiente porque ainda que a amostra aponte irregularidade, a bomba é lacrada tão somente até que o posto substitua o combustível ou reprocesse o produto. Em outras palavras, não há perda substantiva para o dono do posto. De outro lado, existe uma lei sancionada desde o ano passado que torna o combustível adulterado patrimônio público, permitindo ao Governo apreender o produto, infringindo perdas monetárias efetivas para o dono do posto ao mesmo tempo em que gera potencial economia para o Governo na compra de combustível.

O que complica é que o Governo não tem a logística para recolher, armazenar e reprocessar esse combustível, e os custos para implementar todo o processo devem superar as potenciais economias. O Procon foi responsabilizado pela implementação, e acredita que não será capaz até o fim deste semestre de fechar os convênios necessários para por em prática a lei já sancionada.

O problema foi retratado em reportagem do SP TV de hoje, em que dois postos com a bandeira SHELL tiveram irregularidades apontadas. A fornecedora do combustível disse que não tem responsabilidade pela adulteração.

Agora, a pergunta: por que o Governo não multa a bandeira sempre que uma bomba apresentar combustível adulterado? Isso transfere a responsabilidade de monitoramento para o upstream da cadeia, desonerando o Governo de todos os custos envolvidos na solução que não é de mercado.

Em outros mercados, como o de refrigerantes, o valor da marca é suficiente para induzir os incentivos adequados de monitoramento para o fornecedor. O contrato de distribuição é tão rígido que, na análise da SEAD no caso da fusão de Antartica e Brahma, o fornecedor foi considerado um monopolista discriminador. No caso de combustível, me parece claro que a marca é de segunda ordem na escolha do posto.

1.Multas pesadas sobre o fornecedor em caso de combustível adulterado seriam capazes de prover os incentivos necessários? 2.Você abastece(ria) num posto sem bandeira?