terça-feira, 13 de outubro de 2009

Bolsa professor Nicola de matemática para Clóvis Rossi

O professor Nicola de matemática acredita que inteligência é unidimensional e que, portanto , ninguém pode ser tão bom em português e tão ruim em matemática. Por isso após ler o seguinte texto, resolveu oferecer a Clóvis Rossi uma bolsa de estudos de sua fundação para lhe ensinar um pouco de dinâmica.

O texto é ruim como um todo. Como foi a cobertura da Folha sobre a vitória da candidatura do Rio de Janeiro para sediar as olimpíadas de 2016. Esta pareceu mais pautada pelo recalque do que pelo objetivo de informar. No entanto, o texto é especialmente ruim ao usar o IDH para fazer um paralelo.

É ruim porque usa a colocação do Brasil no ranking para argumentar que nossa classificação é vexatória. Não é. A impressão que se tem é que o novo aluno do professor Nicola simplesmente leu o ranking de IDH e escreveu a coluna, sem o mínimo de cuidado jornalístico.

O problema de se fazer isso é que: 1) colocação de ranking é pouco informativa. Desenvolvimento não é concurso de Miss. Não importa se você subiu ou caiu de posição, qualidade de vida não é uma medida comparativa. 2) Em ranking não percebemos a dinâmica. Vemos a fotografia, não o filme.

Exatamente como relatou texto da The Economist, poucos dias depois, a dinâmica do desenvolvimento no Brasil é boa. Mostrando que a qualidade da análise econômica do jornalismo brasileiro ainda está muito aquém da de seus competidores internacionais.

Se o objetivo do texto era responder às hipérboles do presidente que dissera que o Brasil agora era um país de primeiro mundo, perfeito. Entretanto, não se deve combater bravatas com bravatas, mas com argumentos.

A verdade é que são notórios os avanços do Brasil em desenvolvimento humano nos últimos 15 anos. A expectativa de vida aumentou, mortalidade infantil caiu, melhorou a escolaridade e a desigualdade vem desabando. Claro que há muito o que fazer, especialmente em relação à qualidade do ensino básico, mas para criticar é preciso seriedade na análise dos dados. Esperamos que o professor Nicola ensine isso ao notório colunista da Folha.


Bolsistas ativos da Fundação professor Nicola de Matemática:
-Elio Gaspari
-Clovis Rossi

16 comentários:

Caio Machado disse...

"Mostrando que a qualidade da análise econômica do jornalismo brasileiro ainda está muito aquém da de seus competidores internacionais."

Não só econômica meu caro. As análises política e cultural do jornalismo brasileiro também são de dar dó.

Abs
Caio Machado

Ricardo Leal disse...

Dessa vez eu concorde contigo. Você ainda derrota a Folha de São Paulo e suas reportagens "recalcadas" e anti-cariocas, Caruso.

Anônimo disse...

Mas aqui entre nos (eu sou bem mais velho que voces), o Clovis Rossi tem sido de uma estupidez que as vezes eu desacredito desde pelo menos os anos 80.

Para quem eh da minha geracao, a Folha tambem tinha um tal de Aloysio Biondi, que deus o tenha, ou o diabo lhe carregue!

O que me traz para um outro ponto: nosso pais que ainda tem niveis de capital humano baixo, era muito pior 30 anos atras, mas existe uma melhoria endogena no pipeline...

Léo Muniz disse...

É. Até porque desenvolvimento humano não é competir pra ver quem é melhor. Ou não deveria ser. E, como bem sabemos, é muito fácil criticar simplesmente. Defender um ponto de vista já é outra história. Infelizmente envolve, sobretudo, política. E, nesse campo, é importante saber fazer (ou manter) as "amizades" certas.

Crescemos muito em desenvolvimento humano nos últimos 15 anos, fato. Só não sei se acredito que os interesses do crescimento foram éticos ou, novamente, políticos. Ando tão descrente que acho que precisamos de mais 150 anos para nossa população ter qualidade de vida, no melhor sentido que essa expressão pode representar.

Belo ponto! Coberto de razões.
grande abraço, Caruso.

Tiago Caruso disse...

Muniz,

também não sei as razões que motivam os políticos. Mas para quem foi beneficiado que diferença faz?

Obrigado pelo comentário.

Abs

Michel disse...

O que eu achei engraçado é que ele passa metade do texto falando dos avanços do Brasil (o Brasil não teve guerras, e mesmo pra ele, o Brasil teve dois governos acima da média nos últimos 15 anos, além de algumas melhoras sociais), para concluir que "Não obstante, empaca no desenvolvimento humano desde sempre."

E a coerência de lembrar que as melhoras do Brasil significam que o Brasil não vem empacado no desenvolvimento humano...é fácil esquecer.

Bom texto Caruso

Caio Machado disse...

Pérola recente do Clóvis ocorreu quando ele traduziu os Leading Indicators da OCDE como indicadores principais. É uma sabedoria econômica de dar inveja.

O pior é saber que ele foi, se não me engano, o enviado da Folha para o Fórum Econômico Mundial em Davos.

Abs
Caio Machado

André disse...

Não sei se viram, mas a entrevista do Lulinha Paz e Amor para Newsweek (umas 3 semanas atrás) prova a qualidade do jornalismo internacional.

http://www.newsweek.com/id/215940

abs!

Anônimo disse...

Não sei se viram, mas a entrevista do Lulinha Paz e Amor para Newsweek (umas 3 semanas atrás) prova a qualidade do jornalismo internacional.

Essa parte chamou minha atenção!:

Before I came to office, Petrobras was investing R$250 million ($139 million) in prospection. Today we are investing nearly $560 billion in R&D a year.


hauhauhauahuahauahu

M disse...

Outro momento memorável da entrevista é o lula pedindo um exemplo de ausência de democracia na venezuela e recebendo 50.

Depois teve que desconversar.

lucas disse...

tudo o que vc falou sobre só olhar para ranking é verdade. Mas nao foi o que foi feito no posto sobre o doing business (http://espectroeconomico.blogspot.com/2009/09/brasil-o-129-melhor-pais-do-mundo-para.html) ?

Tiago Caruso disse...

Lucas,

você em seu afã de defender um jornalismo medíocre, cometeu uma injustiça.

Acho que o post sobre o Doing Business fala por si só.

"O doing business acompanha de perto as MUDANÇAS em cada país. Sobre o Brasil em 2009 a instituição escreveu:

"Brasil facilitou o processo de começar negócios ao remover a necessidade de se obter licença e inspeção do corpo de bombeiros antes de se obter a licença das prefeituras"

É pouco. Na verdade muito pouco TEM SIDO FEITO no Brasil nesse sentido. ... Colômbia figura em 37ª no Ranking e VEM MELHORANDO.

Só no último ano o governo colombiano: facilitou a obtenção de licença para construção; melhorou as regras do acesso a crédito; introduziu o nota fiscal eletrônica e reduziu alguns impostos; fortaleceu a governança corporativa permitindo que diretores de empresas fossem processados em caso de fraude; permitiu o registro de propriedade e de novos empregados on-line e acabou com o imposto sobre registros."

Ou seja, várias referências a dinâmica.

Vai ser constrangedor para o mestrado se o professor Nicola te oferecer uma bolsa

.

lucas disse...

Caruso1: "ara ilustrar o atraso: somos o 126º melhor país para se começar um negócio, o 113º para se conseguir permissões para construir, o 138º para se contratar empregados (depois perguntam por que o desemprego estrutural é tão alto) e o 150º melhor país do mundo para se pagar impostos."
vs.
Caruso2: "1) colocação de ranking é pouco informativa. Desenvolvimento não é concurso de Miss. Não importa se você subiu ou caiu de posição, qualidade de vida não é uma medida comparativa."

enfim, não tenho interesse em defender os jornalistas não. Mas acho que como disse Caruso1, uma posição muito baixa em relação a países compraráveis mostra mal desempenho sim. Não mostra a dinâmica recente (concordo com vc), mas mostra um mal desempenho acumulado.


abs

Tiago Caruso disse...

Vamos esclarecer:

colocação de ranking é pouco informativa, sim. Mas quando a colocação em algum rankign destoa da colocação dos outros ela é um pouco mais.

Somos o 73o país no ranking do IDH, o 77o no ranking de PIB per capita (FMI), o 72o no ranking de percepção de corrupção (transparência interncional) e o 129o país do mundo para se fazer negócios (Banco Mundial), agora eu lhe pergunto, qual deve ser a prioridade?

lucas disse...

Hum, diria que resolver o problema da educação é mais importante (na linha dos rankings podemos olhar nossa péssima colocação lá também). Além do que a educação atua no crescimento mas também diretamente no bem estar das pessoas (mais cultura, mais saúde).
Eu acho que muitas das coisas que o doing busness avalia são "custos fixos" de abrir e manter uma firma. Logo o efeito maior é sobre a distribuição de tamanho de firmas. Ficamos com algo bi-modal com muitas firmas nanicas informais e muitas firmas grandes o suficiente para diluir o custo fixo. Claro que isso impacta negativamente sobre o desempenho final, mas isso não é tão direto.
E pra falar a verdade muitos destes problemas que o doing business relata devem ser baratinhos de resolver com e-gov e coisas do tipo. Portanto, pra estas coisas não há grandes trade-offs... vai custar barato e os únicos que vão perder são os tabeliões, contadores e advogados que vivem desta estrutura cartorial.

Tiago Caruso disse...

Lucas,

concordo piamente.

O problema da educação é tão grave e mais impactante. Eu só acho um absurdo nosso resultado no doing business porque, como você mesmo disse, é muito fácil e barato resolver esses entraves, enquanto educação demanda dinheiro.

Abs