quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Lula entre Luis XIV e Capitão Planeta

Líderes surgem durante crises. Em momentos de desespero, as sociedades se unem e é normal que o poder se concentre. No entanto, desde o incêndio do Reichstag, que permitiu a ascensão do Füher, até o Patriot act depois de 11 de setembro, a história nos mostra como esses poderes podem ser usados para fins individuais ou do partido. Na mesma linha, Benjamim Parker no ensina: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" e consideramos super-heróis aqueles que usam esses poderes para o bem comum.

O centro da crise atual é o mercado financeiro. Algumas irresponsabilidades no mercardo imobiliário lá fora e o samba dos CFO's doidos por aqui fizeram com que alguns bancos tivessem enormes prejuízos. A boa-fé de mercado prescreve que deveríamos deixar que essas empresas quebrassem, mas, infelizmente, a alavacagem do sistema financeiro torna isso impossível sem que seja desastroso. O pânico torna a ação governo impreterível. Alguns argumentaram: -Já que vamos dividir as perdas, que dividamos também os possíveis lucros. Nada mais justo. Melhor forma de fazê-lo é a estatização de algumas instituições financeiras. Com esse pensamento o governo emitiu a MP 433 que permite a compra de bancos privados por bancos públicos. Aí mora a solução, aí mora o perigo.


O primeiro perigo é nosso governo agir mais como Argentina, que em nome da estatização expropriou a previdência privada lucrativa de seus cidadãos, e menos como a Inglaterra que estatizou um banco falido. O perigo é que o governo aja em benefício prórprio e não com para o bem comum, mais como déspotas menos como super-heróis.


O segundo perigo vem da confusão que a ideologia de plantão pode causar. Isto é, o governo acreditar que estatizando setores da economia estará corrigindo falhas de mercado e fazendo um bem para o país. Não estará.

Alguns artigos acadêmicos mostram que grande proporção de bancos públicos compromete desenvolvimento econômico ao invés de promovê-lo. Particularmente La Porta, Lopes-de-Silanez e Shleifer nos mostram como uma maior proporção de bancos controlados pelo governo está associada com rendas per capita menores, sistemas financeiros piores, governos invervencionistas e ineficientes e piores proteções aos direitos de propriedade. Além do mais, mesmo quando controlada para a renda de 1970, maior estatização do sistema bancário naquela década está associada com menor desenvolvimento financeiro, menor crescimento economico e especialmente com menor aumento de produtividade, nas décadas seguintes.

Assim sendo, faço meu o pedido da revista The Economist :estatizem o que for necessário e devolvam o mais rápido possível para inciativa privada. Em termos de liderança, espera-se que Lula se porte menos como o Luis XIV com "l'etat c'est moi" e mais como Capitão Planeta com "o poder é de vocês".

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Samba do CFO doido

Hoje saiu n'O Globo uma matéria apontando algumas empresas brasileiras que apresentam indícios de estarem atuando nos mercados financeiros na tentativa de reforçarem seus lucros. Seria um comportamento análogo ao do Lúcio nas suas subidas ao ataque na seleção.

Uma empresas deveria auferir seus lucros nas suas atividades fins, se utilizando do mercado financeiro como apoio eventual para tal (para operações de financiamento, ou hedge por exemplo). Ao inverter essa lógica, a empresa está enganando seus acionistas.

Foram identificadas 80 empresas que obtiveram mais da metade do lucro líquido em operações financeiras no primeiro semestre do ano. Entre elas estão CSN, Gol, Gerdau, JBS, Sadia e Usiminas. Dessas, 35 apresentam resultados financeiros maiores do que o lucro líquido (ou seja, se não fossem os resultados não operacionais, teriam prejuízo), entre as quais, Lojas Americanas, MMX e MPX. Infelizmente, a reportagem não divulgou as listas completas.

Pensei em dois possíveis furos nessa metodologia. Primeiro, pode ter ocorrido algum evento extraordinário no primeiro semestre que gerou tais receitas/despesas para a empresa. Segundo, talvez algumas empresas tenham resultados financeiros grandes relativos ao operacional sistematicamente devido à própria natureza dos seus negócios (por exemplo uma exportadora/importadora que sempre faça hedge).

Para tentar eliminar o problema, consultei DREs de empresas bem semelhantes a algumas das nossas candidatas à fundos de investimento disfarçados para comparar suas receitas não operacionais nos últimos 5 trimestres. O resultado não foi muito diferente:

1) Sadia vs Perdigão

Enquanto o resultado não operacional da perdigão flutua entre -4 e -10 milhões, a sadia varia entre 37 mi e -114 mi (para resultados operacionais não muito diferentes).

2) Gol e TAM vs SkyWest

No caso da TAM vamos de zero a +236 mi (resultado operacional +ou - 90 mi). Para a Gol, de -17 mi a -49 mi, além de uma rubrica "outros" que vai de +39 mi a + 96 mi. Talvez a TAM esteja na lista também, apesar de não ter sido citada. Enquanto isso, a SkyWest manteve seu resultado não-operacional por volta de -20mi nos 5 trimestres, frente a um resultado operacional médio de 80mi.

3) Aracruz e VCP vs Sappi

Parecia que a Aracruz estava bem comportada, com o maior resultado não operacional sendo -11 mi (com resultado operacional sempre acima de 120 mi), mas a tal rubrica "outros" variou entre -43 mi até +82 mi. Já a VCP teve, em média, resultado operacional igual ao resultado não operacional nos últimos 5 trimestres. Enquanto isso, a Sappi (fabricante de celulose Sul-Africana), teve em média resultado não-operacional menor do que um terço do resultado operacional.

Por fim, acho que vale a pena citar a MMX, que apresentou o maior samba do CFO doido de todas as citadas, dispensando comparações.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

And the Nobel goes to...

Segunda-feira, dia 13 de outubro, será anunciado o vencedor do Nobel de Economia de 2008.

Adoro esses momentos que antecedem o anúncio a cada ano porque todo economista gosta de se arriscar a dar um palpite... então esse post é para cada um fazer a sua aposta!

Os americanos gostam de apostar sobre qualquer coisa, de cavalos a política, e o blog da dupla Richard Posner e Gary Becker até fez um post recente sobre o tema - questionando o papel desses mercados, à luz do fato estilizado de que o mercado de apostas políticas acertam em média o resultado das eleições norte-americanas com muito maior precisão do que as pesquisas eleitorais. Em suma, ambos enfatizavam o papel desses mercados em coordenar informações descentralizadas de maneira eficiente.

Há, contudo, um elemento polêmico nos mercados de apostas esportivas (e dizem alguns também, no de apostas políticas): podem os incentivos monetários associados ao mercado de apostas (i) distorcer incentivos de alguma das partes envolvidas no evento alvo de especulação ou (ii) permitir enriquecimento baseado em informação privilegiada? No caso dos esportes, o Brasil sabe bem que isso é verdade - vide o caso de Edílson Pereira de Carvalho no campeonato brasileiro de 2005. Mas no caso da política, talvez seja pouco crível que o candidato líder faça uma besteira às vésperas das eleições apenas para que o azarão leve a disputa e o perdedor embolse uma bolada no mercado de apostas. Já sobre informação privilegiada, não parece ser um problema: a revelação de informação de valor é justamente o mecanismo que esse mercado implementa. Ainda assim, os EUA atualmente limitam o montante que pode ser apostado em mercados políticos a algo como 500 dólares, para inibir especulação, a contragosto de economistas como Becker.

No caso de apostas sobre o vencedor do Nobel, contudo, informação privilegiada (tirando a restrita comissão sueca) e incentivos distorcivos parecem fora de questão; é só diversão mesmo! E a revelação de informação é sempre muito esclarecedora sobre trabalhos que deveríamos conhecer.

O site PinnacleSports.com , o maior site de apostas esportivas da internet, calculou as probabilidades para o vencedor do Nobel de Economia desta ano. Os apostadores apontam o professor de Harvard e CEO do NBER, Martin Feldstein, como o grande favorito (pagando 8 para 1), seguido de perto por Thomas Sargent, professor da NYU (pagando 12 para 1). Robert Barro e Paul Romer vêm em seguida, acompanhados de Jagdish Bhagwati e Paul Krugman. Gregory Mankiw aparece como azarão (pagando 51 para 1!).

"The current betting market at PinnacleSports.com is dominated by US economists, reflecting the fact that 60% of the Nobel Economic winners since the prize's inception in 1969 have been Americans", said Simon Noble, spokesman for PinnacleSports.com. "Given that the current economic crisis is seen by many to reflect the abject failure of Global financial markets, and the US sub-prime sector in particular, bettors may be looking away from the traditional base of perceived economic wisdom in US academic institutions for the winner of this year's Nobel Prize in Economics" , diz o site da PinnacleSports.

Em quem você vai apostar?