sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Samba do CFO doido

Hoje saiu n'O Globo uma matéria apontando algumas empresas brasileiras que apresentam indícios de estarem atuando nos mercados financeiros na tentativa de reforçarem seus lucros. Seria um comportamento análogo ao do Lúcio nas suas subidas ao ataque na seleção.

Uma empresas deveria auferir seus lucros nas suas atividades fins, se utilizando do mercado financeiro como apoio eventual para tal (para operações de financiamento, ou hedge por exemplo). Ao inverter essa lógica, a empresa está enganando seus acionistas.

Foram identificadas 80 empresas que obtiveram mais da metade do lucro líquido em operações financeiras no primeiro semestre do ano. Entre elas estão CSN, Gol, Gerdau, JBS, Sadia e Usiminas. Dessas, 35 apresentam resultados financeiros maiores do que o lucro líquido (ou seja, se não fossem os resultados não operacionais, teriam prejuízo), entre as quais, Lojas Americanas, MMX e MPX. Infelizmente, a reportagem não divulgou as listas completas.

Pensei em dois possíveis furos nessa metodologia. Primeiro, pode ter ocorrido algum evento extraordinário no primeiro semestre que gerou tais receitas/despesas para a empresa. Segundo, talvez algumas empresas tenham resultados financeiros grandes relativos ao operacional sistematicamente devido à própria natureza dos seus negócios (por exemplo uma exportadora/importadora que sempre faça hedge).

Para tentar eliminar o problema, consultei DREs de empresas bem semelhantes a algumas das nossas candidatas à fundos de investimento disfarçados para comparar suas receitas não operacionais nos últimos 5 trimestres. O resultado não foi muito diferente:

1) Sadia vs Perdigão

Enquanto o resultado não operacional da perdigão flutua entre -4 e -10 milhões, a sadia varia entre 37 mi e -114 mi (para resultados operacionais não muito diferentes).

2) Gol e TAM vs SkyWest

No caso da TAM vamos de zero a +236 mi (resultado operacional +ou - 90 mi). Para a Gol, de -17 mi a -49 mi, além de uma rubrica "outros" que vai de +39 mi a + 96 mi. Talvez a TAM esteja na lista também, apesar de não ter sido citada. Enquanto isso, a SkyWest manteve seu resultado não-operacional por volta de -20mi nos 5 trimestres, frente a um resultado operacional médio de 80mi.

3) Aracruz e VCP vs Sappi

Parecia que a Aracruz estava bem comportada, com o maior resultado não operacional sendo -11 mi (com resultado operacional sempre acima de 120 mi), mas a tal rubrica "outros" variou entre -43 mi até +82 mi. Já a VCP teve, em média, resultado operacional igual ao resultado não operacional nos últimos 5 trimestres. Enquanto isso, a Sappi (fabricante de celulose Sul-Africana), teve em média resultado não-operacional menor do que um terço do resultado operacional.

Por fim, acho que vale a pena citar a MMX, que apresentou o maior samba do CFO doido de todas as citadas, dispensando comparações.

3 comentários:

Anônimo disse...

É interessante que essas notícias de perdas no mercado futuro de dólares se resuma principalmente a empresas no Brasil e no México.
São estes Países onde historicamente os empresários incluíram em sua rotina os ganhos obtidos com juros altos, inflação e câmbio. Quem sabe essa crise não contribui para enfraquecer os ganhos financeiros e concentrar os esforços na busca por retornos sobre os investimentos PRODUTIVOS.

Tiago Caruso disse...

Rafael,

eu estive pensando se de fato as empresas que fizeram essas operações cometeram fraudes contra seus acionistas. Porque, embora não seja sua razão social, tudo estava exposto nas demonstrações de resultados publicadas.Meu interesse e saber se isso constitui crime contra o sistema financeiro nacional. Caso constitua os CFOs poderiam ser processados penalmente.

Tiago Caruso disse...

Parece que o Gabriel está insinuando que ganhos financeiros não são produtivos.

Deixo essa para o pessoal de finanças responder.