sábado, 25 de abril de 2009

Gargalhada

Lendo as espinafradas que o Schwartsman anda dando no Oreiro, acabei ficando curioso com um tal teorema de Keynes-Oreiro, humildemente batizado dessa forma pelo próprio Oreiro (aposto que ele se refere às espinafradas do Schwartsman como "A controvérsia Oreiro-Schwartsman").

O contexto é um modelo de equilíbrio geral, e o teorema é o seguinte:

Teorema 2 (Keynes-Oreiro): A separação entre as decisões de consumo-poupança e composição de portfólio é condição suficiente para estabelecer a independência da taxa de juros do período t relativamente aos níveis planejados de poupança e de investimento para esse período.

Em outras palavras, desde que eu não suavize consumo, a taxa de juros não depende da minha decisão de poupança. E aí eu me pergunto, então por que caralhos as pessoas poupam? E aí eu fiquei procurando sem muita vontade pelo artigo e não consegui descobrir. Talvez seja por algum motivo meio vago tipo preferência pela liquidez.

Mas o mais engraçado é que para que o Teorema de Keynes-Oreiro seja aplicado no modelo, o Oreiro usa o Teorema de Keynes-Foley:

Teorema 1 (Keynes-Foley): Se os indivíduos decidirem a respeito dos estoques de obrigações e de moeda que desejam possuir no início do período t, e se os seus gastos de consumo forem financiados apenas com base na renda disponível para o período; então a restrição orçamentária referente a decisão de consumo-poupança é separável da restrição orçamentária referente a decisão de composição de portfólio.

E aí eu fiquei mais confuso ainda. Se meu gasto de consumo é financiado apenas com a minha renda corrente, eu vou consumir toda a minha renda corrente, certo? E aí eu não poupo nada, certo? Então de onde sai esse dinheiro que está sendo poupado?

E o gran finale é o terceiro teorema do artigo:

Teorema 3 (Keynes-Robertson): Se a poupança do período t-1 não for incorporada a riqueza do período t, ou seja, se ela não passar da conta saldos ativos para a conta saldos inativos, então o nível planejado de investimento para o período t irá influenciar diretamente a taxa de juros desse período

Que diz que se não é possível transferir riqueza no tempo, alguma coisa acontece com o investimento e a taxa de juros. Mas se não é possível tranferir riqueza no tempo, por que alguém poupa?

Fico aguardando ansiosamente explicações possíveis para minhas dúvidas.

Link para o artigo: http://www.joseluisoreiro.ecn.br/arquivos/ee1998.doc

31 comentários:

Anônimo disse...

"(...)a independência da taxa de juros do período t relativamente aos níveis planejados de poupança e de investimento para esse período.

(...) Em outras palavras, desde que eu não suavize consumo, a taxa de juros não depende da minha decisão de poupança."

A tradução está correta.

"E aí eu me pergunto, então por que caralhos as pessoas poupam?"

Se você tivesse lido a segundo página do trabalho que está criticando, ou pelo menos soubesse o básico de Keynes, saberia que, de acordo com a perspectiva teórica em questão, as pessoas retêm moeda devido ao motivo transacional, ao motivo especulativo, entre outros. O motivo especulativo depende diretamente dos juros.

Segundo a sua tradução, Oreiro diz que a taxa de juros independe da decisão de poupança, e não o contrário.

"E aí eu fiquei mais confuso ainda. Se meu gasto de consumo é financiado apenas com a minha renda corrente, eu vou consumir toda a minha renda corrente, certo?"

Errado. Uma coisa não decorre necessariamente da outra.

Versão pra colorir: o gasto de consumo é financiado apenas com a renda de t. A poupança de t-1 vai para a forma inativa no período t, e a poupança de t é mantida na forma líquida, para se transformar em inativa em t+1.

"Mas se não é possível tranferir riqueza no tempo, por que alguém poupa?"

Não é possível transferir riqueza no tempo? Quem disse isso?

Você não entendeu a difereça entre saldos ativos e inavitos. A poupança em t-1, na forma de encaixes não usados para adquirir bens e serviços, fica na forma ativa. Em t vai para a forma inativa, pois é usada para adquirir obrigações que rendem juros - passa para a forma inativa.

Anônimo disse...

"Se você tivesse lido a segundo página do trabalho que está criticando, ou pelo menos soubesse o básico de Keynes, saberia que, de acordo com a perspectiva teórica em questão, as pessoas retêm moeda devido ao motivo transacional, ao motivo especulativo, entre outros. O motivo especulativo depende diretamente dos juros"

Caracas
Acho que foi o próprio Orelho que tentou explicar a pataquada acima
abs

Eugenio Gudin

Anônimo disse...

quanta bobagem. Orelho burro.

Anônimo disse...

O Foley citado num dos teoremas seria o Axel Foley?
(do filme "Um tira da Pesada")

abs

José da Silva (do Teorema de Prescott- Silva. . . qualquer hora eu mostro para voces. . . )

M disse...

kkkkkkkkkk, fiquei curioso também pra ver o prescott-silva.

Anônimo 1

"ou pelo menos soubesse o básico de Keynes, saberia que, de acordo com a perspectiva teórica em questão, as pessoas retêm moeda devido ao motivo transacional, ao motivo especulativo, entre outros."

Motivo transacional não me faz carreegar moeda de t para t+1, então não responde minha pergunta.

Motivo especulativo, para mim, é poupança.

Pelo que eu entendi desse negócio de ativo e inativo, tudo que eu "poupo" em t, vira ativo iliquido (inativo) em t+1. Acho isso uma hipótese ridícula.

Guilherme Lichand disse...

o que me deixou mais curioso é o porquê desse esforço todo do Oreiro em caracterizar poupança como independentes da taxa de juros em t... se ele queria identificar sob quais condições isso é verdade, acredito que identificou que somente num universo paralelo muito bizarro - em que as pessoas só poupam por motivos precaucionais mas depois descobrem que não podiam transferir essa riqueza no tempo - há esperanças de observar sua co-autoria com um finado (pra mim essa foi inédita) em ação.

Tiago Caruso disse...

No meu ver o teorema está certo, faz sentido e é irrelevante.

Estou ficando preocupado, tenho concordado demais com o Lichand.

Anônimo disse...

Não sei o que tem de tão engraçado no teorema a não ser o nome.


Em outras palavras, desde que eu não suavize consumo, a taxa de juros não depende da minha decisão de poupança. E aí eu me pergunto, então por que caralhos as pessoas poupam?

Não é a poupança que não depende da taxa de juros.

E aí eu fiquei procurando sem muita vontade pelo artigo e não consegui descobrir. Talvez seja por algum motivo meio vago tipo preferência pela liquidez.

Preferência pela liquidez não é uma conceito vago:

Uma das grandes inovações propostas por Keynes na sua GT foi a consideração de que a taxa de juros se constitui num fenômeno estritamente monetário. Segundo Keynes, a taxa de juros seria o preço pelo qual o desejo dos indivíduos em manter sua riqueza sob a forma de ativos líquidos se compatibilizaria com a disponibilidade de liquidez existente na economia (Keynes, 1936, p.167). Em outras palavras, a taxa de juros seria o preço que equaliza a demanda e a oferta de moeda. Trata-se da Teoria da Preferência pela Liquidez (doravante T.P.L).

Anônimo disse...

"E aí eu fiquei mais confuso ainda. Se meu gasto de consumo é financiado apenas com a minha renda corrente, eu vou consumir toda a minha renda corrente, certo?"

Hein? Por que?

Anônimo disse...

Vê se ajuda

(...) De fato, a mesma afirma que os indivíduos jamais irão utilizar o seu estoque de riqueza para financiar os seus gastos de consumo. Certamente que, a nível individual, tal hipótese é sumamente irrealista.

Ao se agregar o consumo e a renda dos jovens e velhos em t, pode-se obter o resultado de que o consumo agregado em t é menor do que a renda agregada em t. Em outras palavras, a nível agregado, as famílias se comportam como se não utilizassem o estoque de riqueza para financiar os seus gastos de consumo. De fato, nesse caso, o indivíduo representativo dessa economia estará financiando os seus gastos de consumo unicamente com base na renda corrente do período.

M disse...

Continuo achando preferência pela liquidez um conceito vago.

Spbre esse negócio de consumir toda minha renda presente (tanto no nível individual quaanto no agregado), meu raciocínio é o seguinte:

Se tudo o que eu poupei em t-1 virou saldo inativo, o que eu tenho disponível para consumir hoje é só minha renda corrente. Tudo bem até aqui. Se o que eu poupar agora vai virar saldo inativo no período t+1, eu não vejo motivo para poupar. Logo, como eu sou inteligente e não desperdiço dinheiro, vou logo consumir toda a minha renda agora.

Esse parágrafo sobre uma suposta diferença entre os níveis individual e agregado só dia que o comportamento é irrealista em ambos os níveis.

Anônimo disse...

Continuo achando preferência pela liquidez um conceito vago.

Po, numa boa, nos textos de graduação IS-LM do tipo, tá lá tudo explicado.

Guilherme Lichand disse...

que há preferência por liquidez, poupança precaucional, dinheiro embaixo do colchão, não há dúvidas! Do ponto de vista teórico, esse não era nada trivial, e levou a belíssimos debates entre Mill, Malthus e Ricardo sobre a validade ou não da lei de Say... o conceito não é natural a mundo sem fricções ou incertezas, e tem conteúdo econômico.

Sem querer desvirtuar o assunto.

M disse...

Poupança precaucional é bem definido. Quando a terceira derivada da função utilidade é estritamente positiva o indivíduo poupa mais em resposta a um aumento na variância da renda mesmo que a esperança se mantenha. Essa poupança extra é a poupança precaucional.

E preferência pela liquidez? É minha vontade de ter dinheiro?

Guilherme Lichand disse...

teve bastante conteúdo econômico seu argumento sobre a derivada da função utilidade

Anônimo disse...

Esse artigo foi a tese do Oreiro na PUC-RJ.

Anônimo disse...

"E preferência pela liquidez? É minha vontade de ter dinheiro?"

Essa sua confusão sobre a preferência pela liquidez deve estar fazendo você perder o melhor das discussões sobre "a" crise.

Abs

Anônimo disse...

É verdade, o Orelho foi da PUC...
Menos mal que foi orientado pelo Edward "mãos de tesoura" Amadeo(heterodoxo enrustido), com banca de Fernando "Retardim" de Caralho e de outra figura que eu nunca ouvi falar...
Fiquei preocupado...
Vai que foi alguém mais sério (Novaes, Gonzaga, Garcia, Camargo, entre outros...)que orientou o cara nessa palhaçada...UFa!!!

abs

Tião de souza (criador do Teorema Arrow-Souza)

Anônimo disse...

Numa famosa tréplica na Folha de S. P. a artigo da Leda Paulani, Gustavo Franco questionou: por que tanta raiva?

Fernando Caralhim de Nardalho?

Anônimo disse...

E o pior é que o mãos de tesoura fez phd numa das top-x, heim... Na rárvardi.

O ambiente em rávardi devia estar bem ruim naqueles tempos para conseguir formar um keynesiano.. enrustido..

M disse...

Normalmente a segunda derivada da utilidade é negativa (aversão ao risco). Como a terceira derivada é a taxa de crescimento da segunda derivada, se ela é positiva então eu tenho aversão ao risco decrescente ao longo da renda (ou riqueza).

Quando a variância da renda aumenta eu posso ser jogado pra uma renda muito baixa, onde eu tenho muita aversão ao risco, ou uma renda muito alta, onde eu tenho pouca aversão ao risco.

Renda baixa = muita aversão ao risco = altas utilidades marginais => poupança desproporcinalmente alta para evitar tais estados da natureza.

Deu pra ver o conteúdo econômico?

Fica o desafio para o conteúdo econômico de PPL.

Anônimo disse...

Fica o desafio para o conteúdo econômico de PPL.

Ler a Teoria Geral ia te ajudar muito.

Vai o link:

http://www.marxists.org/reference/subject/economics/keynes/general-theory/

Anônimo disse...

Por que voce nao escreve um artigo criticando a TPL?

Voce poderia chamar o Teorema 1 de Teorema Friedman-Rafael e o Teorema 2 de Teorema Lucas-Rafael. Os Lemas 1 e 2 poderiam ser chamados de Lema de Arrow-Rafael e Lema de Debreu-Rafael.

Com sorte, se o artigo for realmente muito bom, o resultado principal pode ser enunciado como o Teorema de Rafael-Oreiro.

Charles Ponzi disse...

Essa é fácil...Pegadinha...

É impossivel escrever um artigo sobre TPL...

Alessandro Batman disse...

Ler a teoria geral? Nem morto.

Eu prefiro inventar algum apelido engraçadinho, do tipo "teoria anal", ler apenas alguns trechos selecionados, principalmente os que se referirem a teoremas, derivadas terceiras ou coisa que o valha, e fazer críticas pontuais. Quando a minha crítica for negada, invoco a teoria anal.

Ler inteira é trabalho pra quem não tem capacidade pra ser um bom ortodoxo.

Anônimo disse...

Bem lembrado! Esse papo de "teoria Anal" se encaixa muito bem nesse tópico.

Anônimo disse...

O Orelhao, pega um livro de graduação (so para começar senao vc fica cansadinho) estuda um pouco de Teoria da renda permanente, teoria do ciclo da vida, expectativas racionais e consumo intertemporal para ver se vc fica esperto. Quem sabe daki alguns anos vc (Orelho) para de falar bobagens e aprende que os juros servem para alguma coisa (se nao me engando ja tinha alguma coisa relacionada com isso la no "mao visivel"). Renomeia o teorema para Keynes,Orelho e Mister-M. So com mágica vc consegue chegar num resultado desse. heheehehhhe. Sem noçao!

Anônimo disse...

Se o objetivo todo do artigo eh demonstrar que, sob determinadas condicoes (nao muito realistas e nao verificadas empiricamente), a taxa de juros nao afete a decisao de poupanca, tem uma forma mais facil (e honesta) de fazer: Assuma que a utilidade e' logaritmica.

Sob utilidade logaritmica, os efeitos renda e substituicao se anulam e a poupanca independe da taxa de juros. Pronto, temos um novo "Teorema Keynes-Oreiro", cuja demonstracao pode ser encontrada em qualquer manual de macro.

Anônimo disse...

ultimo anonimo (acima) matou a pau!

Anônimo disse...

Se precisar desenhar:

http://krugman.blogs.nytimes.com/2009/05/02/liquidity-preference-loanable-funds-and-niall-ferguson-wonkish/#more-2237

Se não ficar claro agora o que é preferência pela liquidez, desista de economia e faça letras.

Akerlof, o neoheterodoxo disse...

"Logo, como eu sou inteligente e não desperdiço dinheiro, vou logo consumir toda a minha renda agora.

Esse parágrafo sobre uma suposta diferença entre os níveis individual e agregado só dia que o comportamento é irrealista em ambos os níveis."

--------------

"The thought experiment of Adam Smith correctly takes into account the fact that people rationally pursue their economic interests. Of course they do. But this thought experiment fails to take into account the extent to which people are also guided by noneconomic motivations. And it fails to take into account the extent to which they are irrational or misguided. It ognores the animal spirits (p.3). (...)

This variation in savings is a puzzle for the current standard economic theory of savings. According to this theory people trade off savings and consumption to (...) receive the expected extra benefit of spending that money with accrued interest in the future. (...) But the standard theory does not explain many of the detailed facts about saving. (...) bringing and element of animal spirits into the saving decision (p. 119)."

Eu fui semi-ortodoxo até pouco tempo atrás, por isso entendo que vcs não queiram ler a teoria geral. Para evitar esforços desnecessários, leiam apenas o meu último livro, de mais fácil leitura e direto ao ponto.

George Akerlof, prêmio Nobel 2001 e professor de Bérquelei, autor de "animal spirits".