domingo, 7 de dezembro de 2008

O Lula é Minha Anta

Acabou de sair uma coluna do Kennedy Alencar, na folha online, com o título "Lula estuda limitar autonomia do BC sobre juros". No texto, infelizmente, não há nomes nem declarações públicas, apenas boatos. Ainda assim, vamos ver alguns trechos.

"Recentemente, Lula fez fortes pressões nos bastidores e deu duas declarações públicas dizendo que acha que os juros precisam cair. Falou que estavam acima do que indicava o bom senso e também disse que era hora de reduzir juros e preços. "

Como assim bom senso? O que o seu bom senso diz a respeito da taxa básica de juros?? O meu bom senso diz muito mais sobre o que esperar da lei da gravidade do que da taxa básica de juros...

"Bancos centrais de países mais desenvolvidos, países que têm como amenizar impactos sociais negativos decorrentes de uma crise econômica, já saíram na frente. Derrubaram suas taxas de juros a porretadas. "

Pois é, talvez isso tenha alguma coisa a ver com o fato de esses países serem DESENVOLVIDOS. A realidade de um país subdesenvolvido, que não teve boom imobiliário, não teve problemas de crédito e está passando por uma intensa fuga de capitais pode ser ligeiramente diferente. Talvez isso não passou pela cabeça da equipe econômica do planalto.

Finalmente, "Lula tem uma decisão difícil e solitária pela frente. O presidente faz as seguintes reflexões. É ele quem foi eleito em 2006. É ele quem tem 70% de aprovação (índice bom e ótimo) no Datafolha. É ele quem será cobrado pelo desempenho da autonomia. Como foi ele quem concedeu a autonomia formal ao BC, seria a hora de limitá-la, retirá-la ou confirmá-la?"

É ele que é semi-analfabeto. É ele que tem todo o interesse em práticas populistas que possam aquecer a economia durante um ano e meio para deixar explodir a inflação no colo do sucessor dele em 2011.

10 comentários:

Raphael Ornellas disse...

O Lula malandro está querendo criar uma bolha, para tentar manter sua popularidade até o final do mandato. Provavelmente deve ter sido alertado por economistas que o Brasil pode entrar em recessão técnica já na metade do ano que vem. Quero ver o Lula com seu populismo e apadrinhamento político com a economia crescendo 1 ou 2% ao ano.

Theo disse...

Há males que vêm para bem. Talvez essa crise nos tire esse analfabeto funcional da presidência. A pior da semana foi a declaração dele sobre a crise:

"usando uma metáfora em que comparou a relação entre a sociedade e a crise à de um médico com seu paciente, Lula afirmou que, tendo um médico, o aconselhável é ele dizer que vai recuperar o paciente.
- Ou você diria ao paciente 'sifu'? Se você chega dizendo a gravidade da doença, você acaba matando o paciente."

Tiago Caruso disse...

Sobre a frase acima citada pelo Theobaldo.

Eu vi várias pessoas reclamando do vocabulário do presidente. Pouco me importa se ele usa palavras de baixo calão.

Para mim o pior é a afirmativa em si. Tanto médicos quanto presidentes, eu prefiro um que seja sincero. Se depois eu quiser me iludir, tudo bem, mas nós temos o direito à verdade.

Ricardo Leal disse...

Concordo com o Caruso, nao me importa se ele é nao fala direito ou seu vocabulário chulo. O que me preocupa é o ato em si. Não consigo muito entender como o Lula que defendeu a autonomia do BC em momentos em que ele tinha muito menos aprovacao, em que havia eleição por perto ou quando o país não conseguia crescer no início de seu mandato, tenha, agora, mudado de idéia. Isso me parece coisa do Belluzzo e Delfim Netto: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/1,,EDG85452-16628,00.html
Ou talvez o crescimento da economia nos últimos dois anos tenha subido à cabeça dele e ele acha que pode fazer o que quer, sem se preocupar com as consequências...

Ricardo Leal disse...

ou tem essa coluna do Delfim no Valor também:
"Uma idéia simples

Já no século terceiro antes de Cristo, o grande Aristóteles nos informava que "tudo deve ser medido em moeda. É isso que permite que os homens troquem entre si os seus trabalhos e torna possível a sociedade" ("Ética a Nicômaco", v. 5). Nos meados do século XIV, Nicolas Oresme (em 1355) alertou-nos contra os perigos de deixar o valor da moeda nas mãos do príncipe (o Estado), porque este podia usá-la muito mal e em seu próprio benefício (pg. 82, do "Pequeno Tratado da Primeira Invenção das Moedas", na magnífica coleção "Raízes do Pensamento Econômico", vol. 6 em publicação pela Editora Segesta, de Curitiba). Pouco menos de um século depois, em reunião do "Ancien Régime" francês nos "États Généraux" de 1484, reconheceu-se que "a moeda é para o Estado o mesmo que o sangue é para o corpo humano".

Tal sugestão antecipou em quase três séculos a construção genial de François Quesnay (1694-1774), o fundador da fisiocracia, que, por analogia à circulação do sangue, visualizou o "fluxo circular" da produção econômica, com as mercadorias fluindo numa direção e a moeda na outra e com os pagamentos de hoje transformando-se nos gastos de amanhã... Não foi por outra razão que o grande economista e historiador econômico Schumpeter, datou o nascimento da economia na publicação do "Tableau Économique" de Quesnay, em 1758. Essa é, também, a opinião de Marx, quando afirmou na teoria da mais-valia que "deve-se essencialmente aos fisiocratas o mérito de analisar o capital dentro dos limites do horizonte burguês, o que faz deles os verdadeiros pais da economia moderna".

Para entender como funciona e do que depende a chamada economia de mercado, que designamos imprecisamente de "capitalismo", é fundamental incorporar a idéia do circuito econômico reprodutivo. Observemos o quadro abaixo, que simplifica ao extremo a organização do sistema econômico.

Do lado esquerdo, temos as residências, onde o cidadão exerce o seu papel de consumidor. Elas, ao mesmo tempo em que demandam bens e serviços, oferecem por um salário o aluguel de sua força de trabalho para obter renda. Do lado direito, temos as empresas, onde alguns cidadãos (que detêm o capital e tomam emprestado a força de trabalho em troca de salário) organizam a produção com uma dada tecnologia e buscam inovações (novos produtos). Os dois setores (residências e empresas) são coordenados por dois mercados: 1) o de bens e serviços, onde oferta e procura física se encontram num preço de "equilíbrio" dos bens e serviços; e 2) o do trabalho, onde a oferta (das residências) e a procura (das empresas) se encontram, fixando a quantidade de trabalho (emprego) e o salário.

O ponto fundamental a entender é que tanto a demanda como a oferta de bens e serviços dependem de crenças sobre o futuro, ou seja, das suas expectativas de como o sistema vai evoluir: se o trabalhador crê (do verbo crer: ter como verdade, dar como certo) que vai ter demanda para seu emprego e se o empresário crê que vai ter demanda para seus produtos.

O bom funcionamento desses mercados depende de um terceiro mercado, o financeiro ("a moeda é para o sistema o mesmo que o sangue para o corpo humano"), que forma o lubrificante que aproxima e facilita a oferta e a procura tanto das residências como das empresas e é onde se estabelece a taxa de juros e a quantidade de crédito. Este mercado, ainda mais do que os outros, depende de um fator catalítico invisível para funcionar: a confiança. Quando esta desaparece, o setor real (bens e serviços e emprego) tende a murchar, porque produz-se uma piora das expectativas das residências e das empresas.

Esta é a idéia simples e elementar explorada nas aulas introdutórias dos cursos de economia, mas que precisa ser conhecida por todos os cidadãos. Deveria ser um capítulo obrigatório da nova disciplina de "conhecimentos sociais", que agora se introduz no ensino básico. Isso mostraria ao cidadão comum a importância da pregação que agora se faz no Brasil (particularmente pela intuição do presidente Lula): se o cidadão, apenas por medo de perder o seu emprego, deixar de comprar, vai interromper o circuito e vai, provavelmente, ficar desempregado; se o comerciante deixar de refazer seu estoque, apenas por medo de ficar inadimplente, vai seguramente realizar sua expectativa; se o industrial reduzir a sua produção apenas por medo de não vendê-la, vai perder seus ganhos de escala, perder sua capacidade de inovar e entregar-se aos seus concorrentes e, finalmente, se o banqueiro, apenas por medo, não aproveitar a higidez e pouca alavancagem do nosso sistema financeiro e tentar ficar líquido, vai acabar insolvente. Será enterrado junto com o sistema de economia real ao qual deveria ter servido...

E o Banco Central? Se reduzir a Selic em 25 pontos estará, na minha opinião, fazendo não apenas o tecnicamente correto, mas colaborando no esforço de restabelecer a confiança que faz funcionar o sistema econômico."

Ou seja, é só acreditarmos que não há crise para que não ocorra a crise! Eu acho que expectativas tem um papel importante, mas não a esse ponto.

Tiago Caruso disse...

Isso não adianta. Várias vezes já imaginei o Brasil sem o Delfim. Nunca funcionou.

Guilherme disse...

Toda hora vejo no noticiário algum imbecil com a tese de que o Brasil precisa abaixar os juros porque os países desenvolvidos o estão fazendo para evitar a crise. Pedir para o quatro-patas entender que faz sentido abaixar os juros por lá porque eles enfrentam uma redução da demanda é muito. Pedir para a múmia paralítica entender que no Brasil está acontecendo o contrário, com a demanda crescendo acima da oferta, daí o aumento dos juros parece demais.

Anônimo disse...

Qual era a opinião de Friedman sobre a autonomia dos bancos centrais?

Tiago Caruso disse...

Até onde eu saiba o Friedman defendia a autonomia máxima dos Banco Centrais que é uma regra rígida de expansão da política monetária.

De qualquer forma, isso não é relevante. Usar argumento de autoridade é coisa de heterodoxo.

Anônimo disse...

"É ele que é semi-analfabeto": excelente argumento; prova de que você, Rafael, muito ao contrário de Lula, estudou bastante... Parabéns, continue assim!

Aliás, outrossim, como se nota acima, são ótimos os comentários de seus colegas.

Pelo visto, Caruso, argumentos dessa linha a que você se refere ("argumento de autoridade" etc.) não se ligam, exclusivamente, a correntes de pensamento específicas como os citados heterodoxos.