domingo, 1 de fevereiro de 2009

Aviso aos Concurseiros

Conforme já foi dito pelo Guilherme aqui (e depois repetido pela economist aqui), é possível que o mercado financeiro tenha, nos últimos anos, atraído através dos bônus vários profissionais brilhantes e competentes para realizar uma atividade que não era tão valiosa do ponto de vista social quanto parecia. Isso impediria que o potencial dessas pessoas fosse aproveitado em sua plenitude pela sociedade.

Eu respondi que achava que o mais provável, no Brasil, é que esse cenário tenha de fato acontecido, mas o setor da economia que o protagonizou foi o setor público. É muito comum ouvir pessoas dizendo que preferem prestar um concurso à ir para a iniciativa privada, onde os salários iniciais são bem menores e se trabalha muito mais.

O contra-argumento mais comum entre os defensores da carreira na iniciativa privada é a curva de salário ao longo da carreira, que compensaria o esforço extra. Mas no último mês eu ouvi pelo menos duas vezes um contra-argumento bem mais convincente.

Desde 2003 o governo do PT tem promovido uma política de valorização do funcionalismo público. Isso sigificou contratação maciça e aumentos de salário para níveis esquizofrênicos. Em números (reportagem de O Globo do dia 24/01) o salário inicial de auditor da receita federal e previdência teve aumento de 150% ($5 mil para $12,5 mil) e o final de 125% ($7,4 mil para $16,7). O salário inicial dos gestores (concurso cobiçado em Brasília) passou de $3,5 mil para $10,9 mil (211%), e o final passou de $6,9 mil para $14,5 mil (110%).

Usando o IPCA do período, que foi de 39%, avaliando tudo em reais de 2009, temos no caso do gestor um salário inicial em 2003 de $4,8 mil e um final de $9,7 mil.

O ponto é que é improvável que essa festa se sustente. Como exercício, vamos supor que entre um governo (começando o mandato este ano, para simplificar as contas) que se preocupe com contas públicas e decida cortar gastos correntes. Uma das medidas pode ser o congelamento dos salários do funcionalismo. O governo, no nosso exercício, é reeleito. E a inflação passa todo o tempo na meta que temos hoje, 4,5%. Ao fim do período, a inflação acumulada terá sido de 42%, o que deixa o salário inicial real do gestor em $7,6 mil, (reais de 2009) e o final em $10,2 mil (reais de 2009).

E aí parece que a carreira pública não é mais tão atrativa assim...

51 comentários:

Anônimo disse...

Apenas dois pontos: Auditores fiscais têm um enorme poder de barganha, logo é impossível que passem tanto tempo sem aumento.
Funcionários do Bacen também têm bom poder de barganha, embora menor que o do auditores e como os salários dos gestores estão vinculados aos do Bacen, também não creio em descolamento de longo prazo da inflação.
Ou seja, sua idéia depende fundamentalmente do "se" e esse "se" é improbabilíssimo.

Anônimo disse...

Inclusive a razão do plano de carreira dos gestores ser diferente dos auditores é provavelmente o poder de barganha dos últimos - o governo não quis ficar refém de mais gente.

M disse...

O que você disse invalida meu argumento. O "se" da minha idéia é improvável se você levar em conta os valores exatos (aumento de 0% a.a. e inflação de 4,5% a.a.). Mas coloca aí uma banda de variação de 2% em cada uma das taxas de crescimento, se você quiser. Passa a ser bem mais provável.

Claro que algumas categorias tem mais poder de barganha que outras, mas isso muda com o tempo também. E poder de barganha nem sempre vira aumento de salário. às vezes vira só promessa.

Anônimo disse...

No caso da Receita Federal, acho que não é só promessa não. Basta o caras fecharem os portos por um mês que o governo dá o que eles pedem. Sempre foi assim e continuará sendo assim, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar.

Anônimo disse...

O grande erro - se é que foi um erro - do governo Lula foi ter cedido à chantagem da Receita de igualar o salário de auditor ao de delegado da Polícia Federal, que sempre foi bam maior. E ter aplicado o mesmo princípio aos demais cargos de gestão.

PS: os salários de delegados, auditores e gestores não são iguais, mas bastante próximos desde o ano passado.

Tiago Caruso disse...

Rafael,

sou mais pessimista do que você quanto a farra se sustentar. Não está nem um pouco claro que o PT não vai continuar no governo e essa política acabará. Além disso, mesmo que o PT fique fora do governo por 8 anos. Se a inflação for moderada e essa política for retomada depois de 8 anos, ainda valerá a pena se tornar funcionário público.

Anônimo disse...

Concordo plenamente. Sou servidor publico e eh claro que a farra vai acabar. O negocio para quem ganha bem hoje eh poupar muito para suavizar o consumo ao longo da vida. Nao dah para se comportar como aqueles manes da Varig que acharam que a festa nunca terminaria e agora nao conseguem pagar o iptu.
Estou concorrendo para o IPEA e o meu plano - se passar - eh poupar 60 % da renda nos primeiros quinze anos.

Anônimo disse...

A grande questão é que não se está levando as opções de saída.
Vale a pena virar servidor público e ficar se atualizando sempre, para, se as coisas ficarem ruins, poder lutar por um lugar na iniciativa privada no futuro. Para quem resolver se acomodar, a situação pode, sim, ficar difícil. Principalmente se não fizer poupança.

Ser servidor público é ficar livre de risco de crédito, mas não de risco de mercado...

Anônimo disse...

trabalho numa empresa privada desde o inicio do governo lula. Na epoca, o salario inicial na empresa era pouco inferior ao inicial da receita federal...hoje é um terço.

M disse...

"No caso da Receita Federal, acho que não é só promessa não. Basta o caras fecharem os portos por um mês que o governo dá o que eles pedem. Sempre foi assim e continuará sendo assim, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar."

Não é tão simples assim. O governo tem meios legais e políticos para acabar com greves (e ele os utiliza sempre que tem vontade).

lucas disse...

acho q o ponto do Rafael é pertinente, mas as taxas usadas são wishful thinking dele.
Estive pensando aqui em qual é o cenário mais provável.
Tudo correndo bem, ou pelo menos nao muito mal, o mais provável é que os aumentos dos últimos anos não se repitam mais mas q os caras consigam pelo menos repor a inflação.
Acho que o excutivo só enfrentaria os custos políticos de deixar salários congelados caso estivéssemos enfrentando uma crise seria que de alguma forma que exigisse um maior aperto fiscal, a la 2o gov. fhc. Mas em meio a tal crise teríamos que levar em conta a segurança que o emprego público proporciona passa a valer mais e a alternativa na iniciativa privada nao remunerará tanto.

Anônimo disse...

Também acho que a tendência é reajustes repondo a inflação. O resto do aperto, se preciso, deve ser via congelamento de novos concursos e redução dos comissionados.

Como no Brasil existe essa promiscuidade entre o público e privado e a burocracia, muitas vezes uma carreira promissora se inicia no governo e a formação de know-how da burocracia e contatos.

Anônimo disse...

olhem isso:

http://www.diap.org.br/index.php/agencia-diap/7385-servidor-vai-reagir-a-possivel-suspensao-dos-reajustes-salariais

Essa história de que Governo tem poder para acabar com greve é muita ingenuidade, principalmente em se tratando da Receita Federal. O que o Governo deixa de arrecadar em um único dia de greve provavelmente é maior do que os gastos com o reajuste pedido.

M disse...

Ingênuo é você que acha que o governo é trouxa. Só pra te dar um exemplo, já teve greve na UnB de 3 meses e 1 semana que terminou com exatos 0% de aumento de salário. Não é um serviço essencial, então OK, divide o tempo de greve por 5, você ainde tem uns bons 20 dias de greve aí.

M disse...

O segundo governo do FHC fez o ajuste principalmente aumentando receita. Não obstante, vários cargos públicos passaram os oito anos do governo dele sem aumento.

Daí entraram os sindicalistas do PT e fizeram a farra. Potencializado pelo ótimo momento da economia mundial.

Anônimo disse...

Comparar professor da UnB com auditor da Receita é piada. Professor não existe na cabeça de quem tem a chave do cofre. Mas auditor, sim, porque é justamente ele que ajuda a encher o cofre.

O governo FHC deixou várias categorias sem aumento ao longo de 8 anos, como professores, médicos, Bolsistas da CAPES. Mas não deixou sem aumento quem tem poder de barganha, como os juízes e delegados da Polícia Federal.

Anônimo disse...

"
O governo FHC deixou várias categorias sem aumento ao longo de 8 anos, como professores..."

Opa, o FHC deu aumento sim. Foi com base na GED (gratificacao de estimulo a docencia). Mas era soh para quem dava a "exaustiva" carga de 2 disciplinas por mes... Aih... que saudade do Paulo renato.

M disse...

Anônimo,

Não sei se você percebeu, mas eu disse que o poder de barganha dos professores era menor, por isso dei um desconto de 80% no tempo de greve.

Quem dá reajuste pra juiz não é o executivo.

Sua argumentação insiste em casos particulares e é repetitiva. Vou parar de te responder até você surgir com algum ponto mais relevante.

Anônimo disse...

Quem dá reajuste para o Judiciário é o próprio Judiciário, mas o Presidente da República pode vetar.
Os casos particulares são justamente os que têm poder de barganha (e que não vão ficar uma década sem aumento).
Sua versão "utilidade esperada" do tempo de greve é surreal. Se os professores quiserem podem ficar um ano de greve que o Governo nem dá bola (exceto, talvez, em ano eleitoral - pode notar que professores universitários sempre entram em greve em ano de eleição presidencial, será mera coincidência?).

Anônimo disse...

Se preocupar com as contas públicas implica dar zero de aumento por 8 anos? Onde?

Por acaso os aumentos do funcionalismo colocam a dívida em uma trajetória insustentável?

Você acha mesmo que se o país crescer, sei lá, uns 4% em média por ano, isso é factível?

Talvez a maior vantagem do funcionalismo seja contar com uma estabilidade maior no emprego. Faz uma continha levando em conta a chance de um trabalhador da iniciativa privada ficar desempregado por uns meses no futuro, e traga o fluxo de pagamentos dele a valor presente...

O maior perigo para a equilíbrio das contas públicas no futuro é o gasto previdenciário. Nas palavras do Giambiagi: "o gasto com aposentadorias, pensões e outros benefícios terá passado de 2,5 % para 6,7 % do PIB entre 1988 e 2002. O fato foi reflexo da combinação de quatro circunstâncias: i) a existência de regras benevolentes de aposentadoria, que permitem a uma parcela dos trabalhadores da ativa se aposentar muito cedo; ii) as mudanças introduzidas pela Constituição de 1988 e pela regulamentação de alguns aspectos específicos do capítulo previdenciário, em 1991, que agravaram essa benevolência; iii) o aumento real do salário mínimo, que serve como indexador dos salários de base da Previdência Social; e iv) o baixo crescimento da economia – um típico “efeito-denominador” - especialmente durante 1990/1992 e 1998/1999." (mais aqui: www.ifb.com.br/download.php?tindex=estudos&id=8 e aqui: http://www.bndes.gov.br/conhecimento/revista/rev901.pdf)

E aí essa sua "argumentação" já não é tão boa assim...não passa de torcida.

M disse...

Anonimo 2,

Um dos principais problemas da previdência é justamente o gasto com servidores públicos aposentados. Preciso continuar o argumento?

M disse...

Anônimo 1,

Como eu disse, você está se repetindo.

Anônimo disse...

Um dos principais problemas da previdência é justamente o gasto com servidores públicos aposentados. Preciso continuar o argumento?



Precisa, porque são questões muito diferentes. O problema não é o gasto com as aposentadorias do funcionalismo publico, mas como financiá-lo.

Se os trabalhadores ganharem muito bem e contribuirem muito pelo tempo razoável, o problema de financiamento da previdência se resolve. O déficit da previdência pode se descontrolar só porque o tempo de contribuição é insuficiente para certos casos, e a vantagem de se aposentar com o último salário de contribuição é um privilégio do funcionalismo público.

Portanto, os funcionários públicos podem continuar tendo aumentos, desde que observados alguns pontos:

Os gastos com os aposentados do funcionalismo poderiam facilmente ser reduzidos com as medidas abaixo, e, se o cálculo das suas aposentadorias não ficar pior do que o cálculo das aposentadorias do setor privado, os funcionários públicos ainda vão levar grande vantagem.

De novo o Giambiagi:

"O objetivo, em todos os casos, é evitar um agravamento dos déficits no futuro. Entre as medidas que se poderia contemplar estão:
i) extensão do fator previdenciário para os futuros aposentados da administração pública, o que exigiria Proposta de Emenda Constitucional (PEC) e depois projeto de Lei;15
ii) aprovação do princípio de uma idade mínima, crescente no tempo, para a aposentadoria, mesmo de quem se aposenta por tempo de serviço;16
iii) redução do diferencial constitucional homens vs. mulheres e professores vs. não professores; e
iv) por analogia com (iii), redução, na tabela do cálculo do fator previdenciário, do abono para aposentadoria por tempo de serviço, tanto para as mulheres como para os professores.
A primeira dessas medidas justifica-se por uma questão de isonomia com o tratamento conferido aos trabalhadores do setor privado. Tendo sido alterada a regra de cálculo das futuras aposentadorias do regime geral do INSS, para diminuir os déficits do mesmo, é razoável que se faça algo similar para os servidores públicos, cujo déficit previdenciário é muito maior que o do INSS e cujas aposentadorias são também muito superiores às do INSS. Portanto, por razões tanto fiscais como distributivas, faz sentido adotar para os servidores públicos a mesma lógica adotada no caso do fator previdenciário do INSS. Isto implica inibir as aposentadorias precoces, desestimulando estas através de um desconto que seja progressivamente menor quanto maior o tempo de contribuição e a idade do indivíduo. Nesse caso, caberia examinar a possibilidade legal de adotar exatamente o mesmo fator previdenciário já aprovado, agora para os servidores públicos. Para isso, seria necessário mudar a Constituição – que permite a aposentadoria dos servidores com base no último salário – e aprovar depois um projeto de Lei com as mesmas regras do fator previdenciário, incluindo também a substituição do salário de referência. Este, ao invés de ser o último, passaria a ser a média dos 80 % maiores salários de contribuição, contando a partir de julho de 1994 – ou seja, a partir do Plano Real, para evitar a controvérsia acerca de como inflacionar os valores anteriores a essa data."

M disse...

É, exatamente, muito fácil resolver o problema. Por isso que nenhum outro país do mundo tem problemas com previdência, né?

Anônimo disse...

É, mas isso não faz os salários do setor público serem menos atraentes, nem se o problema for resovido.

M disse...

Você acabou de se contradizer.

M disse...

Pra facilitar, eu vou colocar aqui as duas frases suas que se contradizem:

"Se os trabalhadores ganharem muito bem e contribuirem muito pelo tempo razoável , o problema de financiamento da previdência se resolve."

"É, mas isso não faz os salários do setor público serem menos atraentes, nem se o problema for resovido ."

Anônimo disse...

Não, não há contradição alguma.

A coisa é bem simples:

Se os funcionários públicos contribuem pelo tempo necessário para financiar a sua aposentadoria, o problema da previdência se atenua.

Não importa se eles ganhem bem mais que os trabalhadores da iniciativa privada.

Consegue entender que não existe relação entre os salários do funcionalismo serem maiores em comparação aos da iniciativa privada e o déficit da previdência?

Para resolver o problema(talvez a "contradição" que você encontrou esteja na sua definição do problema - o problema verdadeiro é seguinte: a trajetória possivelmente insustentável dos gastos com a previdência), deve-se coibir a aposentadoria por tempo de serviço, assim como estabelecer que os aposentados do setor público não recebam aposentaria integral com o último salário.

Mesmo que os salários do setor público continuem maiores (em relação aos da iniciativa privada), e portanto com salários mais atraentes (em relação aos salários da iniciativa privada, são essas categorias que estamos opondo, desde o post).

É simples.

Sugestão: leia os artigos do Giambiagi antes de sair encontrando "contradições" por aí.

M disse...

Prêmio de wishful thinking do ano para o anônimo.

Tiago Caruso disse...

Lei de Godwin imperando...

Anônimo disse...

Problema do salário dos servidores x previdência.

A questão é que os servidores possuem aposentadoria integral, e ela não significa apenas manutenção do último salário recebido, mas sim que os servidores ganham como se estivessem no cargo na ativa.
Se há um aumento salarial para uma categoria, tanto os funcionários ativos quanto os aposentados dessa carreira ganham esse aumento.

Assim, se uma carreira sempre pagou o equivalente a 5 mil reais, os servidores sempre contribuíram de acordo com essa remuneração, e o governo resolve valorizar a carreira e passar para R$ 10 mil, os aposentados ganham R$ 10 mil. Já numa carreira que pagava R$ 10 mil e foi arrrochada, pagando agora 5 mil, o servidor que contribuiu de acordo com os 10 mil recebe 5 mil. Só isso já seria uma grave distorção.

Mas, usando essa coisa neoliberal, entreguista, simpatizante do Bush e colonizada cultural chamada matemática:

O aumento da arrecadação da Previdência por servidor na ativa é 11% do aumento salarial, pois essa é a alíquota de contribuição dele.

E o aumento da despesa da Previdência por servidor aposentado é muito maior que esses 11%, sendo o percentual do valor líquido em relação ao bruto da aposentadoria. Logo, para não impactar no déficit da Previdência já no curto prazo, o número de funcionário da ativa dessa carreira tem que ser muito maior que de aposentados. E isso raramente é o que acontece. No Bacen, por exemplo, a relação é próxima de 1x1, embora o impacto das despesas seja menor pelo fato dos aposentados mais antigos receberem pelo fundo de pensão e não INSS.

E olha que não estou usando modelo atuarial algum, não estou computando, por exemplo, funcionários da ativa perto de se aposentarem, que serão receita para a previdência agora, mas despesa logo em breve.

Anônimo disse...

Uma das medidas pode ser o congelamento dos salários do funcionalismo. O governo, no nosso exercício, é reeleito. E a inflação passa todo o tempo na meta que temos hoje, 4,5%.

Olha só o wishful thinking.

Petterson Molina Vale disse...

Galego:

paridade e integralidade caíram com a Emenda Constitucional número 41, de 2003. Os servidores contratados após essa reforma não se aposentam com salário integral nem auferem aumentos correspondentes aos servidores da ativa. O teto remuneratório passou a ser, a partir de 2004, de R$ 2.400 (valores de 2003), com reposição de inflação apenas. Além disso, aposentados e pensionistas contribuem para a previdência.

Essa reforma valeu apenas para servidores públicos.

Resumindo, variações salariais de funcionários públicos continuam impactando a previdência na medida em que a paridade e integralidade valem para os que ingressaram antes da reforma. Mas vão pressionar cada vez menos.

Petterson Molina Vale disse...

Outra coisa: por que a contribuição é só de 11%? Se no INSS contribuem o empregado e o empregador, por que deveria ser diferente quando o empregador é o Estado?

A contribuição é de 22%, pois constitucionalmente o Estado deve contribuir com igual parcela.

Anônimo disse...

Abaixo o neoliberalismo!!!

Anônimo disse...

Acabou a integralidade e a paridade, mas não há teto para os salários, não. Agora o que conta é a média dos x salários recebidos desde 1994.

Calcular o déficit da previdência sem considerar a parcela contributiva da União é picaretagem pseudo-acadêmica.

A solução para o déficit é o fator previdenciário, que deveria sempre ser ajustado de forma a deixar a previdência atuarialmente sustentável. Só o idiota do Paulo Paim e os congressistas demagogos que votaram com ele não percebe isso.

Petterson Molina Vale disse...

EC 41:

Art. 5º O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixado em R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais), devendo, a partir da data de publicação desta Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social.

A média dos 80% maiores salários desde julho de 1994 é utilizada no fator previdenciário, que não se aplica a servidores públicos. Serve só para INSS.

Petterson Molina Vale disse...

By the way, o cálculo atuarial que fiz para todos os servidores da USP mostra que, para os que ingressaram depois da reforma de 2003, a relação contribuição / benefício é igual a 1.

Anônimo disse...

essa regra dos 2.400 só valerá quando o Governo instituir o Fundo de Previdência Complementar.

Petterson Molina Vale disse...

Ou melhor, já vale na maior parte dos estados, ou pelo menos nos principais deles, que já criaram seus fundos (SP, PR, BA, outros).

O fundo não é de previdência complementar, mas gestor de todos os recursos previdenciários relativos a servidores públicos federais, estaduais e municipais não celetistas.

A idéia foi criar um sistema de capitalização gerido pelo Estado. Todos os recursos dos institutos de pensões foram direcionados para os fundos, bem como as contribuições das autarquias e de todos os entes federados.

A Paraná Previdência foi a primeira: " (...) criada para garantir o pagamento das aposentadorias e pensões dos servidores públicos, através da criação de fundos de previdência e de um sistema contributivo capaz de gerar equilíbrio financeiro e atuarial. Seu principal mérito é garantir, não só o imediato ajuste fiscal, mas o equilíbrio perene das contas públicas pela aplicação de cálculo atuarial, assegurando a rentabilidade do ente previdenciário.

O fundo previdenciário, formado com recursos, provenientes da contribuição dos servidores e pensionistas, mais a contrapartida do Governo do Estado, está sendo investido e capitalizado para formação de um pecúlio que assegurará o pagamento dos benefícios a todos os servidores paranaenses, atuais e futuros."

Anônimo disse...

É, o governo contribui com mais 11%. E, por outro lado, o valor das aposentadorias a ser levado em conta não é mais o líquido, mas sim o bruto menos as contribuições dos inativos (pois, se a contribuição do governo é uma transferência do Tesouro para a Previdência, o IR retido na fonte das contribuições é o oposto.

Mas a reforma, se é indispensável para o médio/longo prazo, acaba por piorar a situação no curto prazo. Pois, se os servidores mais novos contribuem pelo teto de 2400, um aumento salarial vai afetar as aposentadorias de quem já está aposentado e só aumentará as contribuições de quem entrou antes da emenda.

Ah, e só mais um dado: em muitas carreiras, o aumento dado em 2008 foi maior para os aposentados que para os ativos. Eram carreiras onde a remuneração do pessoal da ativa tinha componente de gratificação de desempenho, e, agora, passaram a ser remunerada via subsídio (valor fixo). Como a maioria do pessoal da ativa recebia o valor integral e os aposentados um valor médio, era uma forma de quebrar um pouco a paridade. Mas, com essa mudança na forma de remuneração, os aposentados receberam os aumentos maiores...

Petterson Molina Vale disse...

As contribuições não são calculadas pelo teto. Se o servidor ganha quinze mil, ele contribuirá 11% disso, mas receberá como aposentadoria apenas 2400, corrigidos pelo inflação a partir de 2003. E contribuirá também como aposentado e como pensionista.

Anônimo disse...

Patterson,

tenho quase que certeza de que as contribuições serão pelo bruto, mas somente o valor até o teto irá para o INSS, o restante iria para o fundo de pensão complementar. E, como estamos discutindo impacto no INSS, esse seria o impacto atual.

Petterson Molina Vale disse...

Galego, INSS não se aplica a servidores públicos. Para eles existe o regime próprio de previdência social (RPPS).

Guilherme Lichand disse...

Petterson,

agradecemos seus esclarecimentos sobre as questões em voga. Mas não creio que, até aqui, tenha nos premiado com a sua opinião sobre a proposição do post... o que pensa, afinal?

Petterson Molina Vale disse...

Caro Lichand,

concordo plenamente com a questão dos bônus no setor financeiro.
O mesmo para o setor público.

O problema é que quando um sindicato reivindica aumento de salários de uma empresa, está lutando contra um empresário ou um grupo organizando de acionistas. Já no caso do governo, está lutando contra a (desorganizada) sociedade. É provável que um mesmo nível de organização sindical tenha bem mais sucesso quando se trata de cargos públicos.

As reformas eliminaram o repasse dos elevados salários para a previdência no longo prazo, mas não para os servidores que ingressaram antes das duas reformas. Por isso, a farra salarial tem bastante impacto na sustentabilidade das contas públicas. Assim como tem impacto o repasse do aumento do salário mínimo para as aposentadorias a ele indexadas.

No fundo, a questão é que não há no setor público uma regulação racional do padrão de remuneração dos funcionários. Enquanto numa empresa privada o RH vai definir políticas remuneratórias bastante claras e alinhadas com os objetivos da empresa, isso não parece acontecer em nosso governo. No que difere de países mais desenvolvidos, como a Austrália, onde o processo político permitiu que fosse implementado um sistema de gestão da máquina pública bastante racional e organizado.

Acho que na fase descendente do ciclo os cargos mais bem remunerados perderão poder de barganha o suficiente para quase cessarem ganhos reais. Principalmente porque o governo Lula está comprometido com ganhos reais no salário mínimo (que muito impacta previdência). Com a queda da receita e o consequente maior aperto das contas daqui em diante, sem muito espaço para mais impostos, o governo terá que cortar de algum lado.

Em termos de demanda efetiva, aumentar altos salários não gera grande impacto mesmo... !

Anônimo disse...

A questão é bem mais simples galera. Esse mala não tem a capacidade de passar num concurso, aí fica enchendo o saco

M disse...

Eu imagino que o mala que não tem capacidade de passar num concurso seja eu, certo?

Anônimo disse...

Tenta o concurso do Bacen, R$ 11.000 reais, e vão chamar gente pra baralho.

M disse...

Valeu pela dica, vou tentar. Quem sabe eu não passo?!

Anônimo disse...

Passa sim, po. Mas se não passar, tenta ano que vem o do BNDES. Contando Pl e outras coisas lá, chega no BC, sem contar que os benefícios são melhores e trabalha só 35h por semana.