A cada vez que uma grande operação de fusão ou aquisição (M&A) acontece no Brasil, eu vejo algumas (poucas) pessoas na mídia discutindo questões como: essa operação irá afetar o desempenho do setor? Irá diminuir concorrência ? Se sim, quanto??
Normalmente, o jornalismo econômico se empenha em mostrar a festa dos controladores, as possíveis sinergias (é, essa é sempre "A" palavra), a possibilidade da empresa resultante virar uma líder global, etc..
Aí que entra o Cade. Orgão do governo que serve justamente para brecar operações prejudiciais ao público, é geralmente um motivo de grande piada... Um exemplo clássico é a Ambev (hoje AnInBev): a fusão da Antarctica com Brahma foi permitida, colocando-se pouquíssimas restrições. O resultado foi desastroso a meu ver: concentração excessiva no mercado cervejeiro (hoje 70% de market-share) e tentativas constante de acabar com qualquer concorrente. O último grande episódio foi a garrafa de 1L da Skol: com ela, a Ambev conseguiria prejudicar a reutilização de suas garrafas pelos concorrentes. O trio que comandava a Ambev quando da fusão ficou milionário, fundiu a empresa posteriormente com os belgas e hoje comanda a Budweiser. Quem olhasse de fora, pensaria que eles são gênios das finanças. Quem olhasse mais profundamente veria que essa expansão foi feita às custas de práticas monopolistas aqui no Brasil.
Agora, a bola da vez é a Brasil Foods. Sadia e Perdigão, as duas maiores do setor alimentício, anunciaram sua fusão. Na verdade, essa fusão já vinha sendo ensaiada há anos... O que ninguém do mercado cogita é um possível entrave por parte do Cade. Para todos, o Cade deve aprovar essa, assim como aprovou inúmeras fusões polêmicas anteriores. Chega a ser engraçado isso, face aos dados abaixo (dados de 2005, da Nielsen):
- em carnes congeladas, Sadia + Perdigão tem 80,4 % do mercado
- em carnes resfriadas, 50,6%
- pizza congelada, 60%
- aves e suínos, 26%
Vamos ver se o Cade resolver fazer sua lição de casa, estuda profundamente o mercado e, não se deixar levar por pressões externas. Meu palpite é que essa operação será aprovada e, sem ressalvas.
p.s: vale lembrar que, quando da fusão Antartactica + Brahma, as duas concentravam 46% do mercado (contra aproximadamente 70% hoje).
p.s 2: a única grande exceção que me recordo foi o veto de compra da Garoto pela Nestlé.
Há 3 anos