Recentemente recebemos aqui no Espectro um link que nos levou à algumas críticas referentes a um post escrito aqui. As críticas são de Cyro Andrade, autor do texto, "Podemos Conversar", publicado no valor, reforçando o comentário feito por José Luiz Oreiro, professor da UNB, feito em seu blog.
O artigo escrito no valor trata de críticas feitas ao método que vêm sendo adotado para se comunicar academicamente nas escolas tradicionais. Os críticos propõem um método mais plural, na forma de dialogo entre as diversas correntes, em contraste ao monólogo imposto pelos modelos que partem do individualismo tratado de forma matematizada. Argumentam também que a crise é fruto dessa forma de se pensar.
O artigo aqui publicado, pelo Rafael Magri, ataca essa visão argumentando que a distinção ortodoxia e heterodoxia é um tanto cinzenta, e que a divisão relevante seria entre má e boa economia. "Sempre que a "profissão" consegue aprender alguma coisa, estamos falando de boa pesquisa. Sempre que existe blá blá blá, análises intermináveis sobre textos antigos e estatística (ou econometria) feita sob medida para encontrar resultados, temos uma pesquisa ruim."
Inicialmente, a crítica feita por Oreiro se refere a um comentário feito aqui por um anônimo,
"É, esse caderno do Valor foi deveras idiota.
Alguém quer me ajudar a contar quantos heterodoxos escrevem no Valor e em outros jornais? E comparar com o número de "ortodoxos"? "
Em resposta, mostra que 9 articulistas são ortodoxos enquanto 7 são heterodoxos. Enfim, o valor é um jornal pluralista. Fato que Andrade também confessa ser verdade, dizendo que essa é uma das razões para que o Valor seja um jornal tão respeitado.
Felizmente não temos controle sobre nossos comentaristas. Não posso responder por ele, e nem gostaria. O que posso fazer é comentar o descontentamento do jornalista e do economista sobre a cabeça fechada do que comenta. E só.
A discussão não é clara ao delimitar o que está criticando. Não distingue o que é crítica sobre a abordagem de modelar matematicamente um problema e testar as conclusões que dele resultam; o que é crítica às hipóteses subjacentes aos resultados; o que é crítica ao capitalismo, às finanças; e tão pouco, o que é birra por não concordar que evidência estatística possa significar algo. Atira-se para todos os lados, buscando reunir o maior número de "anti-autistas" possível. Qual é a proposta alternativa? Esquecer as técnicas mais precisas em detrimento da Retórica.
Alguns exemplos dos argumentos citados na matéria do Valor:
1) “o que falta [à macroeconomia dominante, na academia e nas escolas] é um sentido do todo humano”, por que “a economia ‘samuelsoniana’, termo melhor do que ‘neoclássica’, reduz toda a economia às aventuras de um mau caráter chamado Max U” (que maximiza a utilidade). “Esse sujeito é um completo idiota! Só pensa em si mesmo. Uma economia pluralista fala de pessoas reais.”
2) (...) "Mas fica difícil para um economista externo ao pensamento “mainstream” entrar no circuito das publicações acadêmicas, terreno importante para a apresentação de idéias que possam ser consideradas inovadoras. É o que explica McCloskey: “O problema é que, para ter um artigo aceito num “journal” samuelsoniano, você deve usar um modelo Max U e deve expressar seus resultados em ‘teoremas de existência’ -- que não têm nenhuma importância como ciência, pois ciência trata de grandezas, não de teoremas de existência. Além disso, você precisa usar ‘significância estatística’, o que é um procedimento também desimportante. Se você está apenas raciocinando sobre economia, usando argumentos coerentes e mantendo-se atento às possíveis magnitudes relevantes, então você está fazendo verdadeira ciência econômica. Mas não vai ser publicado.”
Os economistas aplicados do mainstream vivem de testar as hipóteses dos modelos. Quando não encontram evidências dos resultados, surge um desafio para a teoria, criando espaço para que busquem melhores respostas. Se não há um acordo com a abordagem de teste, como se avaliar um argumento? É preciso um terreno comum, que possibilite a avaliação precisa dos argumentos e a contraposição das conclusões com a realidade. A econometria têm evoluído para construir esse terreno comum.
A má economia está para a teoria econômica como a alquimia está para a química. Química moderna é a racionalização de práticas da alquimia sem as crenças mitológicas. Não há nenhum problema com crenças, só não podemos aceitar que elas se finjam de ciência.
A má economia está para a teoria econômica como a alquimia está para a química. Química moderna é a racionalização de práticas da alquimia sem as crenças mitológicas. Não há nenhum problema com crenças, só não podemos aceitar que elas se finjam de ciência.
O maior argumento da mediocridade é fazer-se passar por diversidade. Diversidade é quando se abre espaço para diferentes idéias igualmente válidas. Há muito espaço para contestação e diálogo dentro da boa economia, mas é preciso método e implicações refutáveis. Caso contrário, é melhor usarmos túnicas e buscarmos uma pedra-filosofal heterodoxa.
*Esse post foi escrito conjuntamente com Tiago Caruso
*Esse post foi escrito conjuntamente com Tiago Caruso