Não que eu o conhecesse muito bem, ele fez graduação e mestrado em economia na PUC-Rio 3 anos antes de mim, por gostarmos dos mesmos temas conversamos algumas vezes. Figura ótima, expansivo, genuinamente simpático.
Mas eu não o conhecia muito bem. A notícia de seu desaparecimento mexeu comigo porque acima de tudo eu admiro. Admiro o trabalho dele. Tive oportunidade de ver a defesa de tese dele e depois lê-la. É brilhante. E a melhor homenagem para pessoas brilhantes é a simples exposição de seu trabalho.
A tese de Gabriel Buchmann, defendida na PUC em 2007, consiste em um modelo em que interagem 3 fatores: educação, taxa de natalidade e economia política. Com isso ele funde duas correntes da literatura de desenvolvimento econômico que explicam como sociedades podem se manter altamente desiguais.
Ele constroi um modelo de dinâmica inter-geracional e mostra algo fundamental para ciências sociais: Com uma democracia eficiente, a desigualdade não pode ser persistente. Isso acontece pois como os pobres têm mais filhos, eles tendem a se tornar preponderantes e a votar em governos que melhorarão a educação pública e isso fará com que o custo de educar crianças diminua, desviando o trade-off qualidade vs quantidade de filhos em prol de um equílibrio onde todos têm poucos filhos e eles são bem educados, o que reduzirá a desigualdade. Um tratado de ciência política em linguagem matemática.
Por favor Gabriel, seja encontrado. Queremos mais.
11 comentários:
Também estou na torcida.
Um comentário em relação à tese: alguns trabalhos do Igor Barenboim dizem que a prioridade à educação é dada somente pelas classes mais altas: as mais baixas colocam saúde, segurança, entre outros acima.
Portanto, analisando superficialmente, me parece que a hipótese de que mais pessoas votarão em prol da educação pode ser pouco realista.
Anônimo,
realmente, uma das hipóteses do trabalho do Gabriel, e ele mesmo explicita isso, é que as pessoas mais pobres compreendam educação como um canal pelo qual seus filhos poderão melhorar de vida.
Eu só não citaria o trabalho do Igor como argumento de autoridade no assunto. Se não me engano ele usa como hipótese que pessoas mais pobres gastam mais com segurança. Eu acho isso muito mais difícil de aceitar do que entender educação como meio de ascensão social.
É preciso separar a mecânica do modelo de sua interpretação: os ricos não escolhem ensino público de alta qualidade no modelo porque são eles que financiam esse gasto via tributação. Nesse sentido, em vez de educação, poderia ser qualquer bem público e a resposta seria a mesma.
Resumindo, os ricos desejarão financiar qualquer bem público (inclusive educação) num nível sub-ótimo, pois essa escolha envolve externalidades positivas. O fato de ser educação só é interessante porque afeta a produtividade futura dos indivíduos e, dessa forma, condiciona a transmissão intergeracional de desigualdade.
Ei gente!
Vocês que estão interessados e curiosos sobre o desaparecimento do Gabriel, segue o link de um blog criado pela família, namorada e amigos para que a história não esfrie e não deixem de procurar pelo Gabriel.
http://ajudegabrielbuchmann.blogspot.com/
acessem e divulguém!!
Bjos, Licia
Tomara que achem o rapaz com vida!
Tiago,
Belissima descricao do Gabriel e de seu trabalho. Eu sou muito amigo dele de Sao Bento e da PUC e fico muito agradecido pelo post. Parabens pelo site!
Abracos,
Tiago Berriel
Tiago,
faço minhas as palavras do Salim. Excelente post.
Não conhecia o blog de vcs e achei muito bom. Vou começar a ler com certeza.
Abs,
Mariano
Caruso,
Mas será que não pode haver algo de errado na percepção de alguns grupos no que se refere à ascensão social por meio de maior estoque de capital humano? É possível encontrar alguns estudos que indicam uma correlação positiva e significativa entre os níveis de educação dos pais e dos filhos, controlados os demais fatores, como a renda familiar. Neste caso, parte da demanda por investimento em educação (nos filhos) pode ser determinada dentro do próprio ambiente familiar, sujeita a causas subjacentes.
Por exemplo, poderíamos levantar a hipótese de que a qualidade das expectativas no que diz respeito ao retorno esperado proveniente da educação nos filhos estivesse positivamente relacionada ao nível de conhecimento (escolaridade) dos pais, estas últimas condicionando as primeiras. (um problema de escolhas de investimento sob incerteza, e neste caso, sem apelar para diferenças das preferências individuais em relação ao risco).
A incerteza demonstraria a falta de conhecimento do futuro comportamento dos determinantes deste retorno, a qual seria progressivamente mitigada quanto maior o estoque de informações dos pais a respeito do mercado de trabalho, da experiência profissional e aptidões requeridas, possibilidades de ganhos, probabilidades de ascensão em uma determinada carreira, etc, informações estas que estariam relativamente mais disponíveis aos pais que tiveram a oportunidade de adquirir maior nível de educação e tiveram contato com tais fatores. Se isto for verdade, então a compreensão da educação como meio de melhorar de vida poderia não ser a mesma para todas as pessoas.
É um palpite, vcs conhecem algum estudo neste sentido? Grande abraço, parabéns a todos pelo site.
Julio,
normalmente os modelos preferem hipóteses de que as pessoas conhecem os mecanismos. O que você falou faz sentido, mas a desigualdade que permaneceria seria toda devida a essa miopia dos agentes mais pobres.
Uma hipótese que geraria um resultado parecido com esse é que a correlação significativa entre educação dos país e dos filhos existe porque eles têm habilidades parecidas. Acho essa hipótese mais aceitável e vários artigos trabalham com ela.
abs
Caruso,
Também acho que a hipótese de diferenças de habilidades é razoável. De qualquer forma, seja o caso de características inatas como as aptidões intelectuais herdadas, ou talvez além desta dotação inicial, de valores transmitidos intergerações – como por exemplo, um ambiente de estímulo e apoio a seus filhos, que reduza os custos psicológicos de aquisição da escolaridade por parte destes – deve existir alguma explicação ou um conjunto de fatores que esteja por trás desta correlação de escolaridade entre pais e filhos (mantendo-se constante outros fatores).
Mas se isto for válido, seja o que venha a ocorrer no entorno familiar, as demandas por investimento em educação ainda diferirão entre as famílias. Será que isto não poderia comprometer a hipótese de que os agentes mais pobres (porque possuem menos estoque de capital humano, como um dos fatores relevantes) tenham a clara percepção da educação como importante mecanismo de ascensão social? Desta forma, a pressão que se esperaria destes agentes nos governos para a melhoria da educação pública (por meio da escolha de seus representantes) talvez não fosse forte o suficiente.
Abraços.
Que o Gabriel seja para todos nós um exemplo de que não é preciso ficar preso no dilema do economista formado no RJ:ser um financista ortodoxo ou um cientista social "com alma" e sem método, escravo das ideologias que permeiam a heterodoxia. É possivel e necessário fazer boa pesquisa sobre os temas sociais com médoto e trabalho duro e com o mínimo de tagarelice. Que Deus recompense o Gabriel pelas escolhas que este fez em vida.
Postar um comentário