Essa preocupação é especialmente relevante quando teremos as próximas Copas do Mundo sediadas em países subdesenvolvidos, países cujos mercados estão especialmente sujeitos à atuação desses intermediários informais.
Os cambistas são quase unanimemente vistos como grandes vilões, responsáveis por preços inflados e estádios parcialmente vazios. Neste post, argumentamos que sob determinadas hipóteses, a existência de cambistas permite um movimento Pareto-superior em relação a uma situação em que não existem vendas informais. Ainda, introduzindo hipóteses mais realistas, concluímos que se é possível que a presença de cambistas piore o bem-estar agregado, a criação de um mercado privado de intermediação permitiria alcançar o primeiro melhor.
Modelo estático
O número de assentos em qualquer estádio é um bem com oferta limitada. Sabemos que filas não são mecanismos socialmente eficientes nessa situação, uma vez que, a demanda é superior à oferta de bens limitados. Nesse sentido, o cambista 'single-lived' representa um movimento Pareto superior, já que pode ser modelado exatamente como um leilão: os ingressos serão alocados àqueles com maior disposição a pagar por eles.
Os estádios nunca ficariam vazios (desde que a demanda potencial não seja menor que a oferta, claro!). Para o cambista é ótimo vender o ingresso por qualquer preço positivo, nunca ocorrerá o caso em que há demanda, mas o cambista 'morre com o ingresso na mão'.
Se há informação comum sobre a demanda potencial, o cambista compra somente a quantidade de ingressos que acredita que possa vender, por preço superior ao custo (o preço de bilheteria).
Modelo dinâmico
Agora, 'morrer com ingresso na mão' pode ser uma resposta ótima para o cambista, no sentido de introduzir incentivos dinâmicos; Se os compradores souberem que o preço tende ao preço de bilheteria, à medida que o jogo se aproxima, ninguém estará disposto a pagar mais do que esse preço. O mecanismo é justamente o da conjectura de Coase: o cambista precisa introduzir uma distorção, limitando suas vendas ex-ante, para apropriar rendas ex-post.
Discussão: desenho de mecanismo para venda de ingressos
Mesmo quando o cambista é socialmente eficiente, quem apropria o excedente social é o intermediário, ao invés da concessionária que gere o estádio. Não seria ótimo vender os ingressos (pelo menos uma parte deles) através de leilões (na internet, por exemplo)? Assim, além de evitar o problema de estádios vazios e torcedores revoltados, a organização do evento apropriaria as rendas do cambismo, institucionalizando o mecanismo de mercado que hoje é feito via mercado negro. Por que não?