domingo, 13 de setembro de 2009

Brasil o 129º melhor país do mundo para se fazer negócios

Saiu essa semana o novo ranking do "Doing Business", um órgão do Banco Mundial que calcula o quão fácil é começar, terminar e gerir uma empresa mundo a fora. Comemoremos, somos o 129º melhor país do mundo para para se fazer negócios.

Ironias a parte, o que me causa irritação é a preguiça mental de vários economistas brasileiros para explicar algumas razões do nosso atraso. Quando perguntam por que o Brasil não cresce como outros países, muitos economistas se limitam a fazer comentários sobre a taxa de câmbio ou juros mantendo o debate em um nível superficial.

Crescemos pouco porque temos insitituições ruins, porque nossa burocracia é muito grande, maior que a maioria de nossos concorrentes. Para ilustrar o atraso: somos o 126º melhor país para se começar um negócio, o 113º para se conseguir permissões para construir, o 138º para se contratar empregados (depois perguntam por que o desemprego estrutural é tão alto) e o 150º melhor país do mundo para se pagar impostos.

O doing business acompanha de perto as mudanças em cada país. Sobre o Brasil em 2009 a instituição escreveu:

"Brasil facilitou o processo de começar negócios ao remover a necessidade de se obter licença e inspeção do corpo de bombeiros antes de se obter a licença das prefeituras"

É pouco. Na verdade muito pouco tem sido feito no Brasil nesse sentido. A China, apesar do governo ditatorial, figura em 89º no ranking. Mas basta de comparações com a China. Para olhar bons exemplos não precisamos ir longe: Colômbia figura em 37ª no Ranking e vem melhorando.

Só no último ano o governo colombiano: facilitou a obtenção de licença para construção; melhorou as regras do acesso a crédito; introduziu o nota fiscal eletrônica e reduziu alguns impostos; fortaleceu a governança corporativa permitindo que diretores de empresas fossem processados em caso de fraude; permitiu o registro de propriedade e de novos empregados on-line e acabou com o imposto sobre registros.

Mas vamos continuar discutindo taxa de juros e câmbio...

28 comentários:

D. Strauss disse...

Excelente ponto, Tiago.

Seiji Fetter disse...

Aos que se interessam pelo Doing Business e, especialmente, aos que utilizam seus dados para estudos empíricos, recomendo fortemente a leitura do relatório da avaliação independente:
http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/EXTOED/EXTDOIBUS/0,,contentMDK:21645387~pagePK:64829573~piPK:64829550~theSitePK:4663967,00.html
O relatório avalia tanto a metodologia de coleta de dados como os próprios índices. Entre os principais resultados, encontram-se: os índices soam abrangir muito mais do que de fato é medido; existem alguns problemas no tamanho da amostra em alguns países; existe certo viés a favor de menos regulamentação.

Theo disse...

Caruso, será que você consegue um estudo desse tipo, porém dividido por estado dentro do Brasil?

Guilherme Lichand disse...

Tem sim, Theo! Pouquíssimo conhecido, para algumas cidades latino-americanas, o Municipal Scorecard. Aqui estão os dados para os municípios brasileiros: http://www.municipalscorecard.org/indicadores.php?idioma=1&codpais=009&anio=2008

Para dar um exemplo, Vitória(ES) é a cidade em que se leva mais tempo para obter uma licença de funcionamento (140 dias), quando em Porto Alegre (RS) a mesma podia ser obtida em apenas 6 dias, em 2008. De outro lado, se em Manaus em 60 dias a licença já poderia ser obtida, a cidade é aquela em que a obtenção da licença estava associada ao maior custo em termos de PIB per capita (4.5%).

Anônimo disse...

Falando da Colombia, um colega nosso que eh autoridade mundial em fluxos de capital foi a um seminario em Bogota, com varios outros peers... No jantar de despedida, Uribe apareceu de surpresa para conversar com os academicos e tecnocratas...

Uns dois anos depois, em outro evento organizado pelo Banco de la Republica, novamente aparece Uribe para ouvir dos mandarins sobre a crise.

Dah uma inveja danada.

Tiago Caruso disse...

Lichand,

bem interessanta essa iniciativa municipal score card. Pena que abranja tão poucas cidades.

Ao olhar os dados fiquei com uma dúvida; será que em cidades maiores a burocracia é maior?

Anônimo disse...

Grande post....
realmente é lamentável ver toda semana na imprensa brasileira os Bressers, Orelhos e afins ressaltarem a importância do "câmbio competitivo", "taxas de juros civilizadas" entre outros chavões....Bem, sigamos em frente...
abs
Rogério Ceni
(rumo ao tetra-hepta...)

Galego disse...

Eu vejo as taxas de juros elevadas no Brasil como uma febre. E os Oreiros da vida como médicos que dizem que a pessoa está mal por culpa da febre, e não da doença que a está causando...
Parabéns, Tiago, pelo artigo.

Anônimo disse...

É legal ver pessoas com inveja de um presidente que tem envolvimento com grupos paramilitares (aka, crime organizado) e que está em busca do terceiro mandato.

Quanto ao tópico em si parece que avançamos pouco em termos de políticas pró-competitividade nos últimos anos. Alguns avanços ocorreram, mas dado que o custo de muitas das políticas que melhoram a competitividade é baixo (tanto política quanto economicamente) acho que foram poucos avanços.

Anônimo disse...

"É legal ver pessoas com inveja de um presidente que tem envolvimento com grupos paramilitares (aka, crime organizado) e que está em busca do terceiro mandato. "

Uribe mandou para cadeia, deportou para os EUA varios lideres dos paramilitares de direita. Varios congressistas aliados a Uribe foram para a cadeia. Nunca vi algo semelhante ocorrer no Brasil. Como brasileiro, sinto inveja da maturidade das instituicoes da Colombia, assim como sinto inveja que a Colombia tem um presidente que nao eh anti-intelectual e semi-analfabeto por escolha propria como o nosso.

Anônimo disse...

Tiago,

Texto interessante e relevante, sem dúvida. Mas não dá para ignorar o enorme impacto dos juros e câmbio, preços fundamentais da economia. É claro que há outros pontos importantes, alguns levantados pelo texto (burocracia, logística, educação, enfim..a lista é enorme). São temas complementares, não substitutos.
Deve-se dar mais espaço a estes temas de caráter "custo Brasil" ? É evidente que sim. Entretanto, volto a dizer, juros e câmbio são temas muito importantes para serem marginalizados no debate.

Abs

D.Morgenstern

Guilherme Lichand disse...

Claro que juros e câmbio não são irrelevantes. Mas eles recebem importância desproporcional porque são mais manipuláveis num horizonte curto pelo Governo do que as outras dimensões do ambiente de negócios.

Anônimo disse...

Sim, são mais manipuláveis a curto prazo. Mas não só por isso, acredito. Eles são preços fundamentais na economia. Pode-se ter instituições bem desenhadas, bem regulamentadas, judiciário eficiente, etc. Entretanto, se tais preços não forem adequados aos objetivos da política econômica, todo este esforço institucional fica subaproveitado.

D. Morgenstern

Anônimo disse...

Ao anônimo que falou do Uribe.

Realmente o Uribe é o cara e as instituições da Colômbia são fortíssimas. Tanto que o sistema partidário faliu, o judiciário é tão forte que extraditar criminosos para os EUA é a melhor saída para garantir a punição deles e o presidente está rumando para o terceiro mandato.

PS: Inclusive como nosso presidente é um semi-analfabeto e anti-intelectual presumo que você também ache que nossa população é burra e que a população colombiana é inteligente, correto?

Anônimo disse...

"Realmente o Uribe é o cara e as instituições da Colômbia são fortíssimas. Tanto que o sistema partidário faliu, o judiciário é tão forte que extraditar criminosos para os EUA é a melhor saída para garantir a punição deles e o presidente está rumando para o terceiro mandato."

Amiguinho, os terroristas na Colombia sequestraram os juizes do Supremo e botaram fogo no predio com os juizes dentro. Ainda assim a Colombia nao virou uma ditadura. Dificil imaginar um pais em que a democracia seja tao resistente.

Quanto aos partidos, nao eh meio ridiculo brasileiro falar que em outros paises o sistema partidario faliu?

"PS: Inclusive como nosso presidente é um semi-analfabeto e anti-intelectual presumo que você também ache que nossa população é burra e que a população colombiana é inteligente, correto?"

Se voce viver no Planeta Terra, voce vai saber que tanto brasileiros quanto colombianos nao sao famosos por sua alta cultura e avanco tecnologico. Quanto a inferir inteligencia por padrao de voto, nao creio que seja um metodo razoavel... E se voce estiver interessado em cultura, acho bem dificil alguem discordar que a Colombia em termos per capita tem uma cena cultural mais vibrante que o Brasil. Garcia Marquez deve ser o maior escritor latino-americano vivo, Botero o maior pintor e os colombianos dominam a musica popular latino-americana.

Anônimo disse...

"Eu vejo as taxas de juros elevadas no Brasil como uma febre. E os Oreiros da vida como médicos que dizem que a pessoa está mal por culpa da febre, e não da doença que a está causando..."

Galego, e como explicar pras topeiras que os juros são consequência e não causa? Praticamente impossível, não?

abraços, Zamba

Anônimo disse...

estou esperando um post de voces sobre a briga krugman x cochrane, além do mais depois da critica do krugman aos neoclassicos confundirem "mathematical beauty with truth."

Roberto

Guilherme Lichand disse...

acho engraçado as pessoas continuarem atribuindo altos juros centralmente a 'incerteza jurisdicional' quando essa explicação já foi descartada na literatura. Holland (2006) sumariza: "(...) jurisdição ruim claramente não é suficiente para explicar porque as taxas de juros no Brasil são tão mais elevadas que em outras economias em desenvolvimento, muitas das quais apresentam jurisdição ruim ou piores. Reconhecendo esse problema, os autores [Arida, Bacha, e Lara-Resende] argumentam que o que torna as taxas reais de juros especialmente elevadas no Brasil é a relativa inconversibilidade da moeda EM ASSOCIAÇÃO com problemas jurisdicionais."

Pérsio Arida e Gustavo Franco mencionam recorrentemente a ilusória abertura da conta de capitais brasileira, que está por trás dessa conversibilidade restrita, essa sim, elemento central de pressão sobre o prêmio de risco país embutido na taxa de juros doméstica.

Anônimo disse...

Eu ainda vou escrever o paper definitivo sobre juros altos no Brasil... Nao hoje, nem amanha, mas tenho fe que vou :)

Tendo dito isto, me retiro para o sossego de meu lar.

"O"

Tiago Caruso disse...

Como era de se esperar a discussão desvirtuou.

Em nenhum momento eu fiz um ode ao governo Uribe ou quis debater se ele merece ou não estar no governo. Apenas argumento que o governo colombiano tem muito mais preocupação com políticas de competitividade do que o brasileiro.

Em adendo, 129º é uma posição muito ruim. Nos somos piores em competitividade do que somos em corrupção (72º no ranking da tranparência internacional). Precisamos discutir mais esse atraso.

abs

Anônimo disse...

"Em nenhum momento eu fiz um ode ao governo Uribe ou quis debater se ele merece ou não estar no governo. Apenas argumento que o governo colombiano tem muito mais preocupação com políticas de competitividade do que o brasileiro. "

Mas Tiago, essa discussao sobre o Uribe e a Colombia nao vai morrer tao cedo. A Colombia hoje esta na mesma posicao que o Chile estava no final da decada de 80. Pronta para esticar o pescoco acima dos vizinhos. E assim como o sucesso chileno, o sucesso colombiano vai ser demonizado pelas forcas que querem manter o Brasil atrasado. Afinal, nao se engane, o Brasil nao estah em 129 no ranking por acaso ou distracao, se a tartaruga estah no topo da arvore, eh porque alguem colocou-a.

Anônimo disse...

O,

foi voce quem escreveu o Taming the...?

Anônimo disse...

"foi voce quem escreveu o Taming the...?"

Nao... Mas voces provavelmente jah leram 1-2 papers meus (assim espero! Eu tenho o curso da PUC em alta conta...)

Que "taming" eh esse?

"O"

Anônimo disse...

taming inflation expections...

Anônimo disse...

taming inflation expectations...

Anônimo disse...

"Anônimo Anônimo disse...

taming inflation expectations...

Domingo, Setembro 20, 2009"

Nao sei porque tem gente que insiste que eu sou o Afonso...

Léo Muniz disse...

Grande Caruso.

Concordo com seu ponto de vista. E, como futuro candidato a dono de empresa, inflo o coro do inferno que são os impostos. Manter um funcionário bem remunerado para os nossos padrões e de acordo com as leis brasileiras é caríssimo!! Se não fosse assim, talvez muitas empresas, que hoje são apenas grupos de pessoas unidas produzindo produtos ou serviços, seriam legais e fariam parte das estatísticas.

Anos já se vão e continuamos a ser o país do futuro!! Uma pena...

grande abraço

Ronaldo disse...

Estive na Austrália e a facilidade para se abrir uma empresa lá é grande.
Aqui no Brasil existem atalhos para se abrir ou operacionalizar uma empresa, e muitos ganham com isso...