Hoje foi divulgada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008. Alguns dados interessantes, como a redução do analfabetismo no Nordeste de 0,5% em relação à porcentagem de 2007 (que ainda assim continua muito elevado: 19,5% da população do NE; em particular, 5,3% das crianças que deveriam estar alfabetizadas, contra menos de 1,5% de Centro-Oeste, Sul e Sudeste).
Destaco abaixo os dados de trabalho infantil:
Pouco mais de 10% da população entre 5 e 17 anos trabalha. Acho muito interessante destacar que a despeito disso mais de 80% continuam na escola. Na verdade, estudos para o Brasil mostram que até 14 anos trabalho e escola não são excludentes, com quase 100% das crianças e adolescentes matriculados.
A partir dos 15 é que trabalho passa a significar abandono do estudo, o que a tabela não permite observar diretamente, mas que pode ser visto através da participação do rendimento desses adolescentes no rendimento familiar: a partir de 16 anos, o rendimento desses jovens passa a responder por quase a totalidade da sua parcela da renda per capita domiciliar. Ainda, outra face desse fato é que a partir dos 14 os adolescentes passam a ocupar-se substancialmente menos em atividades agrícolas para integrar a mão-de-obra urbana, como também ilustra a tabela.
6 comentários:
Guilherme, é interessante notar que a evidência que conheço para o Brasil indica que intervenções como o Bolsa Família aumentam a frequência escolar, mas não retiram as crianças do mercado de trabalho. Isso significa que em termos de políticas públicas pode ser mais complicado tirar as crianças do mercado de trabalho do que pode parecer a primeira vista. Não sei o que a literatura sobre educação indica, mas se a combinação de trabalho e estudo é muito prejudicial ao aprendizado eis aí um desafio de política pública considerável.
"Guilherme, é interessante notar que a evidência que conheço para o Brasil indica que intervenções como o Bolsa Família aumentam a frequência escolar, mas não retiram as crianças do mercado de trabalho."
Nao sei se eh tao importante assim.
Por exemplo, o custo da educacao pobre do aluno mediano deve ser superior ao custo da educacao pobre do aluno no primeiro quintil.
Estou falando sobre o "desafio de política pública considerável."
Nao acho que o objetivo da politica publica deva ser melhorar o aluno no primeiro ou segundo decis. Estes podem se beneficiar do aumento no salario real que seria causado por um aumento na qualidade do capital humano do aluno mediano. Vide os EUA. Um imigrante centro-americano que nao sabe falar ingles nem ler em espanhol, se quiser trabalhar, pode facilmente ganhar 25-30 mil dolares por ano fazendo jardinagem ou pintando paredes.
Arthur,
acho que o ponto que você levantou da interação entre trabalhar simultaneamente ao estudo e QUALIDADE do capital humano adquirido é ao mesmo tempo um dos mais centrais e um dos mais mal compreendidos até aqui. Particularmente não conheço nenhuma evidência empírica que ilustre isso bem, embora comecemos a ter no Brasil instrumentos para medir desempenho dos alunos de forma sistemática.
Pois é Guilherme. Minha intuição me diz que trabalhar e estudar deve ser importante para explicar o aprendizado. Mas não conheço nada sobre o assunto mesmo não.
A galera interessada no pré-sal pode se esbaldar aqui:
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Navegacao_Suplementar/Destaques/chamada_presal.html
Divirtam-se. Tem o estudo completo que o BNDES encomendou. Muitas páginas. Muitas alegrias.
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