sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Post-Especulação (ou Post-Reflexão)

Não sei se faz muito sentido, mas pode ser que o COPOM tenha esquecido momentâneamente da inflação e resolveu tentar estimular a economia. Digo isso porque, se a preocupação fosse manter a inflação na meta, a seguinte historinha não faria muito sentido:

Antes de Ontem: BC reduz juro em 1,0 ponto, maior corte desde fim de 2003

Ontem: Taxa de desemprego no país cai a menor nível desde 2002

Hoje: Inflação surpreende e IPCA-15 sobe 0,40% em janeiro

Sem esquecer que o câmbio se desvalorizou cerca de 40% nos últimos meses.

55 comentários:

lucas disse...

Olha a opinião do Carlos Eduardo Gonçalves, um cara relativamente conservador e ortodoxo, que na história recente sempre foi favorável a uma política monetária e fiscal mais austeras:
http://www.fipe.org.br/Publicacoes/downloads/bif/2009/1_3-4-nota.pdf

É uma nota curta e sem muitos dados. Em miudos, segundo ele os dados de produção industrial de dezembro tão despencando tanto e os danos de uma queda mais forte são tão grandes que justifica sim um corte de 1%.

Anônimo disse...

Meu professor Carlos Eduardo tem toda a razão a meu ver.

O autor do post já deveria ter aprendido que não devemos se guiar por manchetes de jornais.

A taxa de desemprego caiu em dezembro como sempre cai. Os dados dessazonalizados, nunca lembrados pela mídia, mostram aumento do desemprego. Além disso,a PME responde com elevada defasagem ao nível de atividade corrente. O Caged, bom indicador antecedente da PME, já apresentou números terríveis em dezembro.

Abs
Caio Machado

Anônimo disse...

Dizem que o Carlos Eduardo é mais preocupado em dar consultoria (e ganhar $$) do que estudar política monetária a fundo...

De qualquer maneira, não acho descabido o texto. É guardar ele na gaveta para o futuro...

T.

M disse...

Caio,

1) Se o seu professor tivesse TODA a razão o IPCA-15 não viria acima das expectativas.

2) A taxa de desemprego não caiu como sempre cai, ela caiu em meio a uma desaceleração da economia.

3) Do ponto de vista da inflação o dado do Caged (número de postos com carteira assinada que foram fechados) não interessa. Interessa o quanto o trabalho está escasso, porque isso que pressiona o preço. E o quanto o trabalho está escasso se mede com a taxa de desemprego (quantas pessoas estão procurando emprego e não acham).

Abs

Anônimo disse...

Rafael,

Veremos os dados de janeiro da PME então.

Abs
Caio Machado

Anônimo disse...

Quanto aa depreciacao cambial, quando olhada em termos efetivos (contra uma cesta de moedas de parceiros comerciais), ela eh surpreendentemente menor do que a depreciacao bilateral contra o dolar.

Eu tenho os numeros, vou posta-los no blog do Alex S. mais tarde.

"O?"

Tiago Caruso disse...

Hoje resolvi violar os meus princípios e ler um texto escrito por uma entidade de classe. Afinal, o Lucas disse esse professor tinha um quê de ortodoxo e lá fui eu de coração aberto ler algo publicado pela FIpe.

Eis o que encontrei.

"Mas, e a inflação? − perguntarão os mais conservadores. Primeiramente, a inflação não é prioridade na atual conjuntura dos fatos, na qual a economia ameaça literalmente derreter."


Começou mal. Inflação é um imposto sobre a renda de todos. Como os mais pobres não têm acesso ao setor bancário, 5% de inflação= 5% de redução da renda deles.


"Segundo, mesmo que ela estivesse ameaçando o teto da meta, o sistema de Metas de Inflação em funcionamento no Brasil foi desenhado justamente para acomodar choques em momentos traumáticos como o atual."


Mentira. O sistema de metas foi desenhado para combater e inflação. Nada mais. Não sou eu quem diz isso. É o decreto que criou o regime:


"Art. 1º Fica estabelecida, como diretriz para fixação do regime de política monetária, a sistemática de "metas para a inflação".

§ 1o As metas são representadas por variações anuais de índice de preços de ampla divulgação."


Em nenhuma linha está escrito em acomodar choques ou visar alguma meta de crescimento do PIB.

É possível que o artigo melhore para o final. Confesso que meu ego interveio e me senti culpado de estar lendo aquilo e não cheguei ao final texto.

Anônimo disse...

Curioso, nunca soube que a FIPE fosse uma entidade de classe...

Tiago Caruso disse...

FIPE é o braço acadêmico da FIESP.

Esclarecido ou quer que eu desenhe?

Anônimo disse...

Ahh, da classe dos industrialistas! Foi mal a ignorância. Tem toda a razão, porque tá em SP, deve receber umas gordas encomendas da fiesp.. faz sentido.

E a PUC - RJ, é o braço acadêmico de quem? Da igreja católica?

Anônimo disse...

Que anônimo babaca.

Anônimo disse...

Que nada ele até que é legal...

Anônimo disse...

Começou mal. Inflação é um imposto sobre a renda de todos. Como os mais pobres não têm acesso ao setor bancário, 5% de inflação= 5% de redução da renda deles.

Essa conta chega a ser ridícula. Se o PIB cair 5%, com inflação "dentro da meta", quanto perdem os pobres? E em quanto aumenta o percentual de pobres no País? Talvez o imposto inflacionário sirva para custear uma parcela do seguro-desemprego e do Bolsa-família adicional.

Tiago Caruso disse...

Eu sabia que ia aparecer alguém defendendo crescimento com inflação. A conta 5% de inflação= 5% de redução da renda é simples porque é para ilustrar um ponto.

Vamos lá: se o país cresce 5%, ele não cresce homogeneamente no espaço. Os lugares mais próximos dos centros industriais, Rio, São Paulo, crescem mais do que a média, lá aumenta o emprego em uma função inversamente proporcional à distância da indústria. Logo estados mais distantes, nordeste, norte crescem menos.

O mesmo acontece com o a inflação, só que o coeficiente de dispersão é menor. Portanto, se você se importa com a pobreza é melhor que o país cresça 0% e tenha 0% de inflação do que crescer nominalmente 5% e ter 5% de inflação.

É claro que o melhor é crescer sem inflação, mas não é isso que o nosso coleguinha da Fipe está defendendo.

Tiago Caruso disse...

Vocês me perdoem mais sou um tanto intransigente nesse assunto. Qualquer um que se importe com a pobreza nesse país tem que ser a favor do combate à inflação.

Se quisermos diminuir o número de miseráveis nesse país temos que acabar com políticas que só beneficiam o eixo-Rio-São Paulo.

Petterson Molina Vale disse...

Participação no PIB brasileiro (%) dos estados de SP e RJ e das regiões NO e NO:
SP RJ NO NE
1970 39,5 16,1 2,2 12,0
1980 37,7 13,6 3,2 12,2
1989 37,8 10,3 4,9 12,3
2000 33,7 12,5 4,6 13,1
2004 30,9 12,6 5,3 14,0

Participação no VTI da indústria de transformação brasileira, região metropolitana de São Paulo:

1970 43,5
1980 33,6
1989 28,8
1996 27,3
2004 16,9

Petterson Molina Vale disse...

A fonte...

Wilson Cano (2007) Desconcentração produtiva regional do Brasil: 1970-2005

Tiago Caruso disse...

Perfeito Petterson

esse movimento coincide com o movimento a a queda da inflação e melhora dos indicadores sociais. Agora para fazer um estudo sério vai ter que usar econometria.

Petterson Molina Vale disse...

Queda da inflação desde 1970?

Vai precisar de muita econometria mesmo...

Anônimo disse...

Vamos lá: se o país cresce 5%, ele não cresce homogeneamente no espaço. Os lugares mais próximos dos centros industriais, Rio, São Paulo, crescem mais do que a média, lá aumenta o emprego em uma função inversamente proporcional à distância da indústria. Logo estados mais distantes, nordeste, norte crescem menos.

Engraçado pois isso vai contra a hipótese da convergência ensinada nos cursos de crescimento econômico. E os dados brasileiros corroboram o previsto pela hipótese da convergência - todo ano são apresentados uns 5 trabalhos, pelo menos, nos congressos da ANPEC sobre essa temática.
E mais: se o crescimento é concentrado no espaço, a inflação importada via taxa de câmbio certamente é ainda mais pois o Brasil importa muito poucos alimentos e os produtos agrícolas dolarizados não fazem parte, em sua vasta maioria, da cesta de consumo dos pobres (já viram pobre consumindo soja, celulose, suco de laranja, entre outros?)
E mais, again: uma inflação anual de 5%, ponta a ponta, não significa perda de poder de compra de 5%, pois os aumentos não acontecem todos no primeiro dia (considerando que o reajuste de salários só ocorra no último dia do ano). Se a inflação de 5% for constante (ou seja, se mês a mês a inflação anualizada ficar nesse patamar), a perda será de cerca de 2,5% no ano.

Obviamente não estou defendendo crescimento às custas da inflação. Mas existem situações em que é melhor perder um dedo do que perder a mão. Não sei se é o caso atual, precisamos de um pouco mais de tempo para avaliar o impacto da crise, sobretudo sobre as expectativas.

Tiago Caruso disse...

É Petterson,

convido que você faça as contas e veja se o coeficiente é significativo, mas vai ter que fazer direito, usar variável instrumental. É o melhor aprender econometria do que ficar usando argumento de primeiro período de administração.

Anônimo disse...

Acho que seria mais produtivo discutir, nesse post, os mecanismos através dos quais, a taxa de juros menor afetaria a produção e a inflação. Acho que todos por aqui sabem como funciona a operação da política monetária. Porém os bancos não usam o dinheiro mais barato do Bacen para comprar bens de consumo. A taxa de juros mais baixa só irá afetar a economia se o dinheiro circular, ou seja, virar crédito. Outro efeito é sobre a propensão a poupar da renda, que deve ser positivamente correlacionada com a taxa de juros (com juros menores, diminuem os incentivos a postergar o consumo). Dado esse ambiente de crise (o tema não sai do Jornal Nacional há meses) e a indisposição dos bancos a emprestar (além dos spreads horripilantes praticados no país que fazem a queda da Selic ser imperceptível na ponta do crédito), qual será o impacto efetivo dessa queda nos juros? Nos Estados Unidos a queda nos juros até agora não fez nem "coceguinhas". E aqui?

Tiago Caruso disse...

Todos os trabalhos que tratam de convergência mostram como um fator relevante para tal a queda da inflação.

Anônimo disse...

Obviamente que se você regredir a concentração espacial da renda contra a inflação no período 1986-2008, será impossível não achar correlação, pois a inflação sai de 5000% ao ano para 5% ao ano. A mudança de patamar da inflação - não estamos falando de algo entre 4,5% e 8%, mas algo entre 5% e 5.000% - obviamente melhorou o ambiente de negócios no país, o que permitiu um melhor cálculo econômico das possibilidades de investimento que, por sua vez, deve ter auxiliado na desconcentração espacial. Mas tenha cuidado na comparação de grandezas....

Anônimo disse...

Lembro-me de um Congresso da ANPEC/SBE que fui há vários anos atrás, no qual presenciei um jovem econometrista, recém chegado do Doutorado nos EUA, detonando vários trabalhos apresentados por causa da desproporção das escalas. Infelizmente para os autores, ele estava certo em todas as suas intervenções que presenciei. Digo isso apenas para deixar claro que muitos papers apresentados em Congressos ou até aprovados para publicação em revistas de prestígio possuem problemas quase infantis de estatística. Os autores, no afã de utilizar a técnica mais moderna, se esquecem de aspectos básicos de seus modelos.

Petterson Molina Vale disse...

Tá, é preciso rodar uma regressão para descartar a hipótese de que o evento que aconteceu de 1994 em diante explica o evento que aconteceu desde 1970.

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Acho mais produtiva a discussão proposta pelo anônimo.

Em relação ao desemprego, não é preciso discutir CAGED ou MPE, basta ler nos jornais as manifestações das centrais sindicais, as notícias de reuniões entre empresários e sindicalistas, as demissões em massa na indústria automobilística, etc. Há uma queda no emprego que não é sazonal, e o pessoal que estuda mercado de trabalho tem isso muito claro. Era de se esperar, pois a redução do crédito diminuiu a demanda, e isso está forçando uma queda na produção.

Há uns dois meses o Schwartzman argumentou que o país não estava entrando num caminho de armadilha da liquidez, e usou uns dados meio obscuros para mostrar que os bancos estavam repassando o compulsório que lhes havia sido devolvido. Mas não convenceu. A maioria dos analistas entendeu que eles não estavam repassando.

Ou seja: houve uma tentativa de segurar a liquidez, e com ela a demanda, mas não resolveu. Agora o governo está percebendo que será necessário remédio mais forte, e vai ter que diminuir os juros com intensidade.

Isso irá gerar maior inflação em 2009? Se olharmos o histórico do BACEN, não dá para achar que está abrindo a guarda. Mas é possível que tenha havido ingerência, inclusive surgiu o rumor de que o Meirelles pedirá demissão em breve. De qq maneira, acho que a questão principal é o repasse da desvalorização cambial. Será necessário convencer que a deflação do resto do mundo e a menor demanda que já se verifica no Brasil não serão suficientes para anular uma eventual inflação decorrente da desvalorização. Sinceramente, acho que não vai ter como convencer disso.

Já o efeito da queda dos juros, como se sabe, é defasado. Além disso, há o problema do spread, que concerne aos bancos privados. Por tudo isso, vejo como correta a opção de usar os bancos públicos para atacar tanto o problema da liquidez quanto o do spread. Se não, o que se deveria fazer para evitar um pouso forçado?

Anônimo disse...

O Carlos Eduardo Gonçalves é um prof/pesquisador sério e a opinião nesse artigo não reflete posição da Fiesp, que deve estar reclamando por um corte de juros maior ainda e é muito mais vinculado ao pessoal da Unicamp.

O aumento da inflação no IPCA-15 deve ser relativizado pela queda das expectativas de inflação e de produto. A experiência tem mostrado que o copom dá um peso grande a esses indicadores.

Além disso, o valor negativo do IGP-DI em dezembro (-0,44%) e a estabilidade do índice fipe da 2a quadrissemana (janeiro: 0,23%, dez/08: 0,23%) não parecem permitir a conclusão de que a inflação está em alta.

Tiago Caruso disse...

"Tá, é preciso rodar uma regressão para descartar a hipótese de que o evento que aconteceu de 1994 em diante explica o evento que aconteceu desde 1970."

Petterson, você já fez algum curso de séries temporais? Ou melhor algum curso de econometria? Alguns amigos meus estudaram na USP e sei que aprenderam isso, por que você não?

Anônimo disse...

Tiago,

Para que fazer esse ataque gratuito. Seus argumentos devem ser fortes o bastante para convencer, ou não, o Pett.

O mesmo vale para o Pett.

No fundo é só argumentação.

E Pett, vamos fazer a lição de casa?

Além disso, há o problema do spread, que concerne aos bancos privados. Por tudo isso, vejo como correta a opção de usar os bancos públicos para atacar tanto o problema da liquidez quanto o do spread.

O Spread do Banco do Brasil é o mais alto da paróquia. Ver http://www.estadao.com.br/noticias/economia,bb-lidera-alta-do-spread-com-crise-economica,297277,0.htm

O governo deveria ter vergonha na cara e privatizar o BB e todo o resto. O Governo só tem capacidade de ser uma coisa: Governo. Não dá para atirar para todos os lados.

M disse...

"Rafael,

Veremos os dados de janeiro da PME então.

Abs
Caio Machado"

Pelo amor de Deus, o que isso tem a ver com o que eu disse?

M disse...

"O",

Pelo que vi no blog do schwartzman, seu número é de 22% de desvalorização (e o do schwartzman 24,5%).

OK, mas ainda assim é um número alto...

Anônimo disse...

Acho que está na hora do pessoal que bota uma fé cega na econometria baixar a bola. É só ver as opiniões patéticas lançadas durante a crise por gente da pesada como Robert Lucas, Thomas Sargent, Robert Barro..os caras simplesmente parecem estar vivendo em outro planeta e lendo livros de história de outro planeta.

Petterson Molina Vale disse...

Eu certamente estou entendendo tudo errado.

Você está me dizendo que uma análise econométrica poderá mostrar que a desconcentração produtiva que começou nos anos 1970 pode ser explicada pela queda da inflação, que começou em 1994?

Nos 24 anos em que houve desconcentração e aumento da inflação a série de tempo vai fazer o quê?

Por favor, a desconcentração produtiva nos anos 1970 se deu por causa do II PND, que tinha diretrizes específicas para esse fim. Já nos anos 1980, aconteceu pela perda de dinamismo geral da economia. Assim como a locomotiva puxa o dinamismo, ela também puxa a perda de dinamismo, exatamente como está acontecendo agora com a indústria automobilística. Na década de 1980 as taxas de crescimento de todos os estados foram muito inferiores às da década anterior, mas a queda no estado de SP foi muito superior.

Um pouco de história vai bem.

Tiago Caruso disse...

Petterson,

você tem razão: está entendendo tudo errado. Eis a regressão que eu gostaria que você estimasse:

var_dependente: percentual de pessoas abaixo da linha de probreza (ou algum outro indicador de pobreza a gosto)
var_explicativas: pib; concentração industrial; concentraçãoindustrial*pib;inflação; outros controles que venham a mente.

Estime os coeficientes e mostre o resultado. Se você acha que tem algum fator histórico relevante, inclua-o na regressão e veremos se ele de fato é pertinente. Se não, não é história, é retórica.

Henrique disse...

Só mais especulação...

Reza a lenda que o BC tava travado com o quanto a desvalorização cambial afetaria a inflação. Por isso não baixaram antes. Aparentemente, o efeito foi bem menos forte que o previsto. Aí o BC ficou tranquilo...

No tocante à inflação, concordo com o Tiago e acho o que o Carlos Eduardo falou balela (assim como são balela algumas "convicções" a respeito dele aqui).

O BC nunca deu sinais de acreditar em crescimento a custas de inflação. Nada concreto indica que vá mudar agora.

Aguardemos a ata.

Anônimo disse...

Bem,
eu seria o primeiro a defender o crescimento econômico a custa de mais inflação, se fosse possível fazer isso de forma sustentada.
Porém, esse é um dilema falso. Mais inflação gera mais expectativas de inflação. E mais instabilidade na inflação leva a mais incerteza e menos investimentos. Logo, esse é um trade-off falso, que, quando existe, não se sustenta além do curtíssimo prazo. Por isso mesmo, estabilidade macroeconômica deveria ser um consenso.
Agora, indo para a decisão do COPOM. Hoje, o risco de uma forte retração na atividade econômica tanto pela queda na demanda quanto pelo colapso do crédito é maior do que uma aceleração inflacionária, mesmo com essa desvalorização do Real. Daí a medida ser acertada.

PS: um dos fatores apontados como culpados da crise atual foi uma decisão do governo americano, em 1999, de relaxar exigências e baixar os juros da dupla Freddie Mac e Fannie Mae. Quando vejo o governo falar em baixar os juros do BB e da Caixa na "marra", fico muito preocupado.

Petterson Molina Vale disse...

Um livro lançado recentemente e organizado pelo Edmar Bacha parece fazer uma discussão interessante sobre este tema. A resenha foi feita por Vinícius Torres, da Folha (http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/Folha%20de%20S_Paulo%20-%20Vinicius%20Torres%20Freire%20Gar%E7as%20e%20tucanos%20bicam%20a%20crise%20-%2014-12-2008.mht)

O Gustavo Franco propõe que se cortem impostos sobre empréstimos para reduzir o spread. Parece ser a melhor saída.

Anônimo disse...

"FIPE é o braço acadêmico da FIESP"

Me desculpe Tiago, mas essa certamante foi a maior besteira que já li nos últimos tempos.

Em tempo, o prof. Carlos Eduardo é um neoclássico confesso e um dos melhores professores da FEA-USP. É normal discordarem de suas idéias, mas não precisamos ofender ou fazer insinuações sem sentido.

Antes que digam alguma coisa, entendam que estou apenas discordando de coisas aqui escritas, mas de forma alguma quero ofender algum colaborador do blog.

Tenho-o inclusive na lista de favoritos, pois estou terminando minha graduação na FEA e desejo realizar o mestrado no Rio, seja na EPGE ou na PUC.

É isso,

Abs

Caio Machado

Tiago Caruso disse...

Tudo bem,

você ficou ofendido com esse comentário, reconheço que fui um pouco leviano. Acredito que o professor Carlos Eduardo seja sério. Como falei, não conheço nada dele a não ser aquele texto e como alguns já atestaram ele parece mesmo fazer um trabalho competente, especialmente olhando a lista de publicações dele.

Só não acredito na idoneidade das idéias do professor Delfim e de alguns de seus seguidores, que parecem pautar suas opiniões no interesse da Fiesp.

Melhor assim?

Anônimo disse...

Tiago;

Assim de fato ficou bem melhor, hehe.

Concordo contigo em relação ao Delfim, apesar de reconhecer que ele entende da coisa, e de seus seguidores. Só que esses, há muito já não fazem parte do quadro de docentes da FEA e de pesquisadores da FIPE, excluindo-se algumas exceções.

A FIPE é hoje um orgão sério e muito competente na elaboração de pesquisas e indicadores econômicos. Muitas controversas existem nos corredores feanos sobre a funcionalidade da fundação e o impacto da mesma na qualidade acadêmica da faculdade, mas nunca duvidou-se de sua idoneidade. Por isso me pareceu tão absurda a sua declaração anterior. Além do mais, não consigo enxergar nenhuma ligação entre a fundação e a FIESP.

Mas já estamos acertados.


Rafael M,

Quando disse para aguardarmos os números de janeiro da PME, me referi à sua colocação: "A taxa de desemprego caiu em meio a uma desaceleração da economia.". Quis salientar que o mercado de trabalho, principalmente a PME, apresenta defasagem em relação à situação corrente do nível de atividade. Além disso, a taxa de desemprego NÃO caiu em meio a uma desaceleração da economia; ela caiu devido à fatores sazonais e metodológicos. Como já disse anteriormente; feito o ajuste, temos aumento da taxa em dezembro.

É isso, espero ter sido mais claro dessa vez.

Abs
Caio Machado

Anônimo disse...

Não só o Delfim é capacho da fiesp, também o Meirelles é do BankBoston e do capital financeiro internacional..

Tiago Caruso disse...

Henrique,

O Banco Central tem razão em se preocupar (dentre outras coisas) com o ofeito da desvalorização cambial sobre a inflação. Alguns trabalhos demonstram a existência de efeitos não-lineares no pass-through no Brasil, que dependem do nível de atividade econômica e da magnitude da variação do câmbio.

Apenas para dar alguns dados, vou citar um artigo colocado na Working Papers Series do Bacen (1). Ele indica que o repasse é substancialmente maior (em torno de 9% no próximo trimestre) quando a economia está aquecida (produto acima de um dado threshold, estimado em -1,89% do produto potencial). Quando o produto está abaixo desse nível, o repasse não é significativamente diferente de zero.

Existe também uma não linearidade relacionada à magnitude da variação e à direção do movimento (apreciação ou depreciação). Quando a depreciação é elevada, o repasse é da ordem de 11%, mas quando a depreciação é pequena ou o movimento é de apreciação, o repasse de um trimestre é nao significativamente diferente de zero.

Portanto, a trajetória recente do câmbio (grande desvalorização em
um período em que a economia se encontrava em um movimento de expansão) indica que o Bacen deveria (e deve) adotar uma postura cautelosa.

(1) Correa, A. e Minella, A. (2006). Nonlinear Mechanisms of the Exchange Rate Pass-Through: a Phillips curve model with threshold for Brazil . Pode ser visto em http://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps122.pdf. O artigo é citado em um box sobre o assunto no ultimo Relatório de Inflação.

Tiago Caruso disse...

Caio,

estamos acertados então. Levarei a Fipe mais a sério.

abs

Anônimo disse...

Tiago,

Eu sinto muito, mas vou ter que dar razao para o Petterson. A sua historia anti-inflacao nao cola muito.

Entretanto, existe uma outra historia que voce poderia contar. Comece da premissa que existe um consenso entre diferentes atores economicos que o Bacen tem credibilidade e as expectativas inflacionarias estao ancoradas em 4.5%. Se isso for verdade, os salarios - que costumam ser negociados anualmente - tem embutidos essa expectativa inflacionaria. Portanto, para cada desvio de X% acima dessa meta, existe uma queda no salario real de aproximadamente 0.5*X% do salario anual - isto eh, uma transferencia do trabalho para o capital.

Isto eh, se a inflacao for 10%, a transferencia eh da ordem de 3% da massa salarial. Para um pais cuja taxa de crescimento per capita media provavelmente nao eh maior do que 3%, tal perda salarial eh da mesma magnitude que a perda de um ano de crescimento. Nao eh chazinho.

"O"

Tiago Caruso disse...

"O",

pode até ser que não dê certo, mas só desisto da tese depois de ver algum resultado com econometria espacial.

Abs

Unknown disse...

Não entendi muito bem a conta do ultimo anônimo. Não sei de onde ele tirou esse 0.5 que multiplica o X% e poder concuir que "Portanto, para cada desvio de X% acima dessa meta, existe uma queda no salario real de aproximadamente 0.5*X% do salario anual". Além disso, 0.5*10%=5%, e não "aproximadamente 3%".

A conta para se medir o efeito da inflação sobre desigualdade é muito mais complicada que isso e envolve, entre outras coisas, questões espaciais etc. De qualquer forma, isso só reforça o argumento de que inflação é ruim para reduzir desigualdade.

M disse...

Caio,

Vamos esperar a inflação no segundo trimestre.

Petterson Molina Vale disse...

"O", acho que é essa a conta que deve ser feita. Em outras palavras:

1 - qual é o efeito sobre o produto de um aumento marginal na inflação? (supondo que uma política monetária mais frouxa vá gerar maior inflação).

2 - qual é efeito sobre o emprego de um aumento marginal no produto?

3 - qual é efeito (negativo) sobre o emprego de um aumento marginal na inflação?

Fazendo 2 + 3 se tem um indício da melhor solução.

O problema é medir tudo isso! Ou seja, encontrar o seu X%.

Mas estas indagações só são pertinentes se acharmos que o BC está se distanciando de sua tradição. Os articulistas do livro do Edmar Bacha, muito entendidos de política monetária, não entenderam isso. Tampouco entenderam que a questão fiscal é hoje um problema gravíssimo no Brasil. Assinalaram como maior problema a ascensão do grupo do Matega, que pressiona sempre por maiores gastos.

Unknown disse...

Petterson,

Desculpa, mas o seu ponto está equivocado. Todos esses efeitos que vc falou, são muito fáceis de medir. Em primeiro lugar, o efeito da inflação sobre o produto não é direto (se ele existe, é marginal, pelo menos no curto prazo). O mecanismo de transmissão é o seguinte: Quem provoca mudanças no produto é a variação da taxa de juros e a variação do produto que resulta em mudança na inflação.

Então as tuas 3 perguntas podem ser refeitas assim: Quando há inflação e o BC reage, qual é o efeito dos juros sobre o produto (ou o emprego). Isso é dado pelo coeficiente dos juros na estimação de uma curva IS (facil de estimar!!!). E a relação entre produto e inflação?? Ela pode ser estimada através de uma curva de Phillips. Com isso, vc pode construir uma medida de taxa de sacrifício. Isso é muito facil de fazer!! Mas todos esses efeitos, nada dizem quanto ao efeito de inflação sobre desigualdade.


O X% a que vc se refere é mais facil ainda: ele é a variação da inflação. Se vc tivesse uma medida de elasticidade inflação-desigualdade o trabalho estaria terminado.

Mas a dificuldade é medir exatamente essa elasticidade. Isso é muito mais complexo do que somar os teus itens 2 e 3. Envolve coisas como estrutura do mercado de trabalho, questões espaciais, defasagens grandes etc etc. Honestamente, não sei falar sobre isso. Deixo a questão para as pessoas de desenvolvimento.

Mas acho que uma coisa é consenso em relação a isso: Inflação elevada não ajuda a diminuir desigualdade. E acho que esse era o ponto do Caruso, se eu entendi bem.

Anônimo disse...

Quem disse que as negociações salariais levam em conta a meta de inflação não tem o menor conhecimento sobre as negociações coletivas no Brasil. Nunca vi isso ocorrer. Às vezes, os sindicatos patronais até tentam impor a meta futura, quando essa é menor do que a inflação passada. Mas nenhum sindicato com representatividade aceita isso.

Anônimo disse...

Acho interessante que o pessoal da direita desconfia de tudo que vem do Estado, que é um poço de ineficiência, corrupção e sei-lá-mais-o-quê. O único órgão que jamais é capturado por interesses privados é o Banco Central. Nesse, os agentes decisórios sempre buscam atender a função-objetivo de manter a inflação sob controle, e a punição existente é a inflação se desviar do alvo e o Banco Central perder sua reputação. Nunca passou pela cabeça de ninguém que a função que os membros do COPOM maximiza possa ser, por exemplo, a possibilidade de alcançar um alto posto na banca privada após sua passagem pelo Bacen e que essa função esteja diretamente relacionada ao atendimento dos interesses desse segmento econômico? Um bom indício disso é a pesquisa Focus, que praticamente só dá ouvidos ao setor bancário, além de umas poucas consultorias. E o Banco Central quase sempre sanciona as expectativas da Focus em suas decisões de política monetária.

Guilherme Lichand disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Guilherme Lichand disse...

Só três comentários sobre os comentários, já que peguei o bonde andando:

(i) O livro da Sônia Rocha sobre a evolução da pobreza no Brasil ao longo das décadas mostra realmente que na década o número de indivíduos abaixo da linha da pobreza é reduzido substancialmente com a interrupção da espiral inflacionária.

(ii) Alternativamente, um número enorme de estudos econométricos não encontra relação negativa entre inflação inferior a 20% e crescimento econômico. A relação negativa mais clara é entre a taxa de variação da inflação e crescimento (processos inflacionários explosivos ou de rápida redução do nível de preços, com elevada 'razão de sacrifício' - termo do Blanchard).

(iii) crescimento econômico é o principal determinante da redução da pobreza

Anônimo disse...

"Além disso, 0.5*10%=5%, e não "aproximadamente 3%". "

0.5 * (10 - 4.5) = aprox 3%

Entre os parenteses esta a divergencia entre a inflacao realizada e a meta de inflacao, o 0.5 multiplicando o parentese representa o fato que a inflacao maior vai ser sentida ao longo do ano, portanto na media do ano, se a inflacao na ponta eh 10% ao inves de 4.5%, o poder de compra dos contratos de duracao de um ano vai ser aprox 3% menor.

"O"

Anônimo disse...

"1 - qual é o efeito sobre o produto de um aumento marginal na inflação? (supondo que uma política monetária mais frouxa vá gerar maior inflação)."

Provavelmente zero para o Brasil, no curto prazo (poderia dar uma resposta mais longa, mas nao tenho tempo agora); certamente negativo no medio prazo.

"2 - qual é efeito sobre o emprego de um aumento marginal no produto?"

Irrelevante dada a resposta aa questao 1 acima.

"3 - qual é efeito (negativo) sobre o emprego de um aumento marginal na inflação?"

Zero ou negativo no curto prazo; negativo no medio prazo.

"O"