terça-feira, 9 de junho de 2009

Segredo do sucesso: Não comam marshmallow

Antes de tudo veja o seguinte vídeo , é rápido, só 6 minutos.

Se você foi preguiçoso e não viu o vídeo, esse parágrafo é para você. Se você viu pule para o próximo. Um professor de psicologia de Stanford realizou o seguinte experimento: colocou crianças de 4 anos em uma sala sozinhas com um marshmallow e a promessa de que caso não comessem o doce, em 15 minutos elas teriam outro igual e poderiam comer os dois. Resultado: 2/3 das crianças engoliam a guloseima, enquanto 1/3  aguentava os 15 minutos. O interessante do experimento é que ele procurou as crianças 15 anos depois e descobriu que aquelas que não comeram o doce se saíram estatisticamente melhor na escola, nos S.A.T e em outros aspectos da vida profissional do que as outras. Estava descoberto o segredo do sucesso: a capacidade de se auto-disciplinar.    

Antes de tudo eu gostaria de saber se o psicólogo levou em consideração a educação dos pais. Pois é possível que não fosse auto-disciplina, mas qualquer outro aspecto educacional também correlacionado com a educação dos pais, que seja a chave do sucesso.

De qualquer forma pensem na implicação educacional dessa descoberta: a fórmula, ou para não ser tão exagerado um importante determinante do sucesso acadêmico e profissional, já se encontra em crianças de 4 anos de idade. Talvez seja esse o principal papel da educação, mais do que ensinar conteúdos específicos, ensinar as crianças a ter disciplina própria, ao mesmo tempo que exercem sua criatividade e buscam seus próprios objetivos. 

Aprender a aprender é o mais difícil dos aprendizados. Acho que no Brasil a gente é razoavelmente bom em ensinar criatividade, mas muito ruim em auto-disciplina. Certamente virá algum educador me xingar de mal-educado por ter escrito isso. 

11 comentários:

Bernard Herskovic disse...

Se esse estudo estiver certo, boa parte do sucesso das pessoas já pode ser identificado aos 4 anos usando o marshmallow, a implicação forte desse estudo a meu ver é que devemos nós preocupar mais sobre com a formação da criança entre 0 e 4 anos tanto para estudar a acumulação de capital humano quanto para realizar políticas públicas.

M disse...

Ele controlou pela concentração de midi-chlorians no sangue das crianças que não comeram o marshmallow?

Guilherme Lichand disse...

no meu último artigo sobre educação, forneci muitas evidências de que essa coisa de que a formação fundamental está bem no começo da vida não é bem verdade. Experimentos que retiram crianças de famílias pobres / com baixo nível educacional e as introduzem em famílias ricas / com alto nível educacional mostram que o impacto do background inicial sobre desempenho desaparece.

Acho que esse estudo é mais no espírito de correlação. Acho que contribui mais no sentido de elucidar o mecanismo pelo qual pais mais educados afetam a acumulação de capital humano dos filhos: através do ensino da auto-disciplina desde muito cedo.

Theo disse...

Não-marshmallow granger causa sucesso.

Anônimo disse...

"Aprender a aprender é o mais difícil dos aprendizados. Acho que no Brasil a gente é razoavelmente bom em ensinar criatividade, mas muito ruim em auto-disciplina."

Eu discordo, tendo estudado tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

A educacao brasileira eh pessima para "ensinar" criatividade (quantas escolas brasileiras tem grupos de teatro, jornal editado pelos estudantes aulas de musica de verdade, treinam oratoria etc? Diria que o tipico high school americano mediocre tem tudo isso.) e sofrivel para ensinar auto-disciplina.

Por outro lado, nos EUA a educacao eh excelente na dimensao da criatividade e do pensamento critico; alem de ter um componente bem interessante de treinamento em auto-disciplina e responsabilidade - alias altamente necessario porque nos EUA os moleques geralmente saem de casa aos 18 anos para nao voltar mais.

Tiago Caruso disse...

Caro anônimo,
talvez você tenha razão, quando escrevi o texto pensava no povo brasileiro que é bem criativo, mas não sei se isso pode ser atribuído às escolas brasileiras.

Anônimo disse...

Eu gostaria de ver um estudo que mostrasse realmente que o povo brasileiro é criativo e "feliz". Cansei de ouvir isso, mas acho que isso é mais desculpa para gente nao se sentir mal por ter que enfrentar a realidade, que é a de um povo (em média) que só trabalha o mínimo para se sustentar, abomina o trabalho, acredita que os "ricos" nao fazem nada e trabalho braçal que é trabalho de verdade...

Enfim, não vou entrar muito nesse ponto, mas uma coisa que o dinossauro Celso Furtado escreveu na Formação Economica do Brasil, e eu concordei, é a seguinte: no Brasil, a abolição da escravidão fez com que os ex-escravos virassem uma massa de mão-de-obra assalariada que abominava o trabalho (com razão) e só fazia o que fosse necessário para sobreviver. O ócio era o maior presente que eles ganharam com a abolição, e esse pensamento (mesmo que com outra roupagem) dura até hoje.

Anônimo disse...

"Eu gostaria de ver um estudo que mostrasse realmente que o povo brasileiro é criativo e "feliz"."

Criativo, sei nao. Vide nosso recorde de premios Nobel.

Mas feliz, sim. Em varias pesquisas que tentam comparar felicidade em diversos paises, o Brasil eh consistentemente um dos paises mais felizes, incondicionalmente ou controlando por caracteristicas (em geral paises do leste europeu ou ex-sovieticos sao extremamente infelizes).


"Cansei de ouvir isso, mas acho que isso é mais desculpa para gente nao se sentir mal por ter que enfrentar a realidade, que é a de um povo (em média) que só trabalha o mínimo para se sustentar, abomina o trabalho, acredita que os "ricos" nao fazem nada e trabalho braçal que é trabalho de verdade... "

Nao sei de onde voce tirou esse discurso todo.

Nossa cultura tem um desgosto tremendo pelo trabalho bracal e nossa elite tem um desgosto tremendo por quase todo tipo de trabalho. Na sociedade brasileira, existe uma condenacao social maior para o filho da elite que aceita um trabalho "nao-nobre" do que para o filho da elite que depende de mesada dos pais.

Cleiton disse...

Aprender a aprender. Esse é o ponto. Me recordo de uma passagem do livro do William Douglas sobre como passar em concursos. Falava de um carpinteiro que não conseguia aumentar sua produtividade. Via um carpinteiro mais pexperiente cortar bem mais lenha que ele. Ele então fez de tudo pra cortar mais lenha e quebrar seus recordes, mas não conseguiu. Após muito tentar, perguntou ao carpinteiro experiente qual a chave do sucesso. E ele respondeu: Já tentou afiar o machado ? Faltam aos brasileiros o hábito de "afiar o machado".

Abraços,
Cleiton Roberto

Anônimo disse...

Anonimo, acho que me expressei mal. Quando eu disse "trabalho braçal que é trabalho de verdade", nao quis dizer que trabalho braçal era valorizado pela população, apenas que as pessoas mais pobres geralmente costumam achar que pedreiros trabalham muito e os chefes nao fazem nada, apenas "apontam" e "mandam".

Esse discurso todo foi tirado de experiência própria.

Galego disse...

Há um livro muito interessante, que é uma biografia do Físico americano Richard Feynman, um dos mais importantes físicos do pós-guerra, com inúmeras contribuições no campo da física quântica.
Bem, esse físico era fissurado pelo Rio de Janeiro, adorava a Praia de Copacabana, e vinha muito ao Brasil (acho que sobretudo nas décadas de 50 e 60). Volta e meia ele era chamado para dar palestras. Certo dia, ele resolveu arguir os alunos de graduação em Física, e fez uma batelada de perguntas aos alunos. Quando ele perguntava sobre qualquer definição, as respostas eram perfeitas. No entanto, quando ele fazia perguntas que envolviam relacionar os conceitos, o resultado era assombrosamente catastrófico.
O ensino, no Brasil, é trágico. Um festival de decorebas, onde muitas vezes nem o professor sabe dos conceitos sobre o que está ensinando. Uma das coisas que considero mais patéticas é quando vejo esses "professores-cantores" ensinando músicas para os alunos decorarem a matéria. Não criticando o professor, pois ele maximiza o rendimento para o qual ele tem os incentivos (o de aprovar o aluno no Vestibular).
O brasileiro tem criatividade para um monte de atividades, porém não é pelo que aprende na escola.