segunda-feira, 22 de junho de 2009

Japão e Seleção de Rotinas

Hoje, eu li a reportagem “no exist”na economist.com. Essa reportagem está parte de opinião no site e basicamente afirma que é o Japão precisa de mais falências (“What Japan needs is more bankruptcies, not fewer”). Segundo a reportagem, no Japão a estrutura das firmas é fortemente influenciada pela estrutura familiar e o “conluio industrial é praticamente uma política oficial”. Essa característica do capitalismo japonesa pode ser ineficiente em vários casos e, como o governo ajudou financeiramente as firmas que estavam para falir, a estrutura ineficiente foi preservada. Outro problema apontado é forma como as empresas “aprenderam” a responder a períodos de recessão (veja “Breaking free: Japanese firms are responding quickly to the recession, but are they doing enough?”).

O que realmente me interessou é como a idéia de deixar as firmas menos eficientes falir para "corrigir" o sistema estava presente. No Japão, será que a organização das firmas, ou o conjunto de rotinas das firmas, sofre a seleção descrita por Nelson e Winter em “An Evolutionary Theory of Economic Change”?

7 comentários:

Guilherme Lichand disse...

pra mim a questão central é outra: o equacionamento do endividamento monstruoso das instituições financeiras nos EUA vai exigir que de alguma forma as firmas mais endividadas "tenham que falir", seja uma falência institucional ou uma incorporação (ao menos parcial) de mercado. Mas se as firmas mais endividadas não forem as mais ineficientes, então há um trade-off curioso para políticas públicas de liquidação.

Anônimo disse...

vc poderia colocar um link para esse modelo de selecao de winter?

Tiago Caruso disse...

Bernard,

tem um artigo: "Lending for Zombies" que argumenta especificamente isso, que o Japão não deixa empresas quebrarem e impede essa seleção. Acho que se aplica bastante ao Brasil.

Tiago Caruso disse...

Lichand,

acho que a questão central que você identificou é precisamente a mesma do Bernard.

Guilherme Lichand disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Guilherme Lichand disse...

não tenho certeza... o problema japonês tinha uma característica totalmente diferente, que tem a ver com o relacionamento "um para um" entre empresas e conglomerados financeiros nos anos 90 (os chamados zaibatsus), qual seja, incentivos perversos para os bancos: se eles se recusassem a continuar emprestando para as empresas "zumbi", sua falência implicaria default do estoque de dívida vinculado a essas firmas, o que aumentaria os requerimentos de capital para esses bancos.

Diante disso, a melhor resposta para os bancos era continuar emprestando mesmo para empresas que não tinham probabilidade ínfima de gerar recursos a partir dos novos empréstimos para repagar o estoque total de dívida.

Bernard Herskovic disse...

Anônimo, o modelo de seleção está no livro “An Evolutionary Theory of Economic Change”.

Caruso, muito interessante o artigo que você mencionou. Na verdade, eu li a versão disponível pela nber: Ricardo J. Caballero; Takeo Hoshi; Anil K. Kashyap (2006). ZOMBIE LENDING AND DEPRESSED RESTRUCTURING IN JAPAN. NBER working paper n.12129, 72p. (link: http://www.nber.org/papers/w12129.pdf?new_window=1)

Para a década de 1990, o texto dos zumbis é muito claro: a melhor opção para os bancos era emprestar para as firmas zumbis e, dessa forma, os zumbis continuaram na economia. Mas, para atual década, a resposta japonesa é a mesma? Na década de 1990, o problema japonês era essencialmente doméstico (certo?) e, na atual crise, não é mais. Como essa diferença influencia a resposta japonesa?