terça-feira, 4 de agosto de 2009

O suicídio de Cambridge

Nota curta
A universidade de Cambridge, na Inglaterra, vem passando por uma reformulação radical nos últimos anos. Antes referência mundial do pensamento heterodoxo, somente Gabriel Palma e Ha-Joon Chang sobreviveram no departamento de Economia.
O objetivo era se converter em uma referência mundial do pensamento ortodoxo, mas o que se viu foi Cambridge retroceder à 5ª posição do ranking nacional (veja aqui). Também, pudera: a re-estruturação era uma impossibilidade lógica. Cambridge adotou uma estratégia de "proteção à indústria nascente" na tentativa de desenvolver um centro ortodoxo.

14 comentários:

Tiago Caruso disse...

O post me lembra uma citação de um escritor americano, Richard Bach


“The mark of your ignorance is the depth of your belief in injustice and tragedy. What the caterpillar calls the end of the world, the master calls a butterfly.”

Guilherme Lichand disse...

realmente acho difícil que o Dasgupta esteja vendo alguma borboleta

Anônimo disse...

Mas jah faz muito tempo que Cambridge estah fora do mapa.

Pelo menos desde que eu me conheco como economista, nunca esperei que nada de bom viesse de lah. Tambem nunca me surpreendi :)

Eu diria que o problema eh que enquanto eles editarem um journal-piada como o Cambridge Journal of Economics (*), vai ser dificil recuperar a reputacao.

"O"

(*) que publica artigo que foi rejeitado em revista brasileira...

Anônimo disse...

Olha que piada o abstract do artigo do Palma sobre a crise:

"The revenge of the market on the rentiers.
Why neo-liberal reports of the end of history turned out to be premature
José Gabriel Palma*
* University of Cambridge, UK

Address for correspondence: Faculty of Economics, University of Cambridge, Sidgwick Avenue, Cambridge CB3 9DD, UK; email: jgp5@cam.ac.uk

Starting from the perspective of heterodox Keynesian–Minskyian–Kindlebergian financial economics, this paper begins by highlighting a number of mechanisms that contributed to the current financial crisis. These include excess liquidity, income polarisation, conflicts between financial and productive capital, lack of appropriate regulation, asymmetric information, principal-agent dilemmas and bounded rationalities. However, the paper then proceeds to argue that perhaps more than ever the ‘macroeconomics’ that led to this crisis only makes analytical sense if examined within the framework of the political settlements and distributional outcomes in which it had operated. Taking the perspective of critical social theories the paper concludes that, ultimately, the current financial crisis is the outcome of something much more systemic, namely an attempt to use neo-liberalism (or, in US terms, neo-conservatism) as a new technology of power to help transform capitalism into a rentiers’ delight. In particular, into a system without ‘compulsions’ on big business; i.e., one that imposes only minimal pressures on big agents to engage in competitive struggles in the real economy (while doing the opposite to workers and small firms). A key component in the effectiveness of this new technology of power was its ability to transform the state into a major facilitator of the ever-increasing rent-seeking practices of oligopolistic capital. The architects of this experiment include some capitalist groups (in particular rentiers from the financial sector as well as capitalists from the ‘mature’ and most polluting industries of the preceding techno-economic paradigm), some political groups, as well as intellectual networks with their allies—including many economists and the ‘new’ left. Although rentiers did succeed in their attempt to get rid of practically all fetters on their greed, in the end, the crisis materialised when markets took their inevitable revenge on the rentiers by calling their (blatant) bluff. "

E eu que achava que a crise havia sido causada porque havia competicao demais no sistema financeiro americano, o que levou a tomada de riscos excessivos e menores margens de erro e lucro...

"O"

(Vai ver que eu sou fraquinho, nem falar dificil como o Palma eu consigo...)

Anônimo disse...

Starting from the perspective of heterodox Keynesian–Minskyian–Kindlebergian financial economics...


hahahah mto foda essa...

É de Cambridge também a tese de PHD mais legal que eu já tive o prazer de ler:

Franklin Serrano. The Sraffian Supermultiplier. A Dissertation Submitted to the Faculty of Economics and Politics at the University of Cambridge, England in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree of Doctor of Philosophy. 1996.

http://www.ie.ufrj.br/ecopol/pdfs/31/C5.pdf

Abraços!

Anônimo disse...

Pergunta: Quer dizer que um departamento que distribuiu um titulo de doutorado para o Franklin Serrano pode cometer suicidio?

"O"

Guilherme Lichand disse...

eu conheci o Franklin no Simpósio da USP e o achei uma pessoa inteligente. Depois disso, li o primiero capítulo da tese dele e achei que tenta responder a uma pergunta bastante clara e de interesse na História das idéias.
Qualquer um tem total direito de discordar se determinadas idéias são mais ou menos apropriadas para explicar determinado contexto ou para orientar políticas públicas; vocês podem discordar por exemplo das interpretações dele sobre a crise, mas dizer que seu trabalho com Sraffa é pesquisa ruim me parece equivocado.

Anônimo disse...

"eu conheci o Franklin no Simpósio da USP e o achei uma pessoa inteligente. Depois disso, li o primiero capítulo da tese dele e achei que tenta responder a uma pergunta bastante clara e de interesse na História das idéias."

O Franklin não é o gênio que escreveu um artigo em que demonstra que o Brasil pode crescer a 16% (ou será 18%?) ao ano baseado no tal super-multiplicador – isto é, se os gastos do governo crescerem suficientemente? Isso não é pesquisa séria. Isso é charlatanismo de terceira categoria. Acho que até o sindicato dos charlatães deveria expressar nota pública de repúdio a uma pataquada destas.

Mas convido-o a revisitar os escritos do FM. Se você tem bom humor e consegue escapar de sentir depressão por ele ser professor de uma importante universidade de nosso país, pode rir bastante. Às vezes não existe melhor humor que o humor involuntário.

“O”

Anônimo disse...

Aliás no meu escritório eu tenho uma pasta com a etiqueta “idiocracy” onde eu coleciono artigos econômicos que se ajustam bem a esta etiqueta...

Anônimo disse...

Esse aqui desse Franklin é mto bom também:

Em segundo lugar, no caso da economia brasileira recente, os choques inflacionários não têm persistência total sobre a inflação. Estimativas para a persistência inflacionária no Brasil mostram que esta não pode ser considerada completa, isto é, a soma dos coeficientes da inflação passada (inércia) e futura (expectativas inflacionárias) na curva de Phillips é sempre inferior à unidade. Existe uma persistência na inflação, mas esta é somente parcial (em torno de 0,7 no máximo). Tais fatos não podem ser refutados através do argumento das “expectativas racionais” dos agentes do mercado, pois há forte evidência de que os dados sobre a inflação esperada pelo mercado também apresentam comportamento inercial (cerca de 0,4) e correlação com a inflação passada efetivamente ocorrida, indícios de existência, em algum grau, de expectativas adaptativas.

Anônimo disse...

Para obter toda a profundidade na argumentação:

http://criticaeconomica.wordpress.com/2008/05/27/juros-cambio-e-inflacao-dilemas-para-a-retomada-do-desenvolvimento/#more-108

-> Não recomendável para cardíacos.

Anônimo disse...

"Anônimo disse...
Para obter toda a profundidade na argumentação:

http://criticaeconomica.wordpress.com/2008/05/27/juros-cambio-e-inflacao-dilemas-para-a-retomada-do-desenvolvimento/#more-108"


Triste.

Mas como eh mesmo, Guilherme, voce acha que Cambridge cometeu suicidio? Tem certeza que nao foi em 1970?

Guilherme Lichand disse...

Em vez de dizer que eu acho que existem coisas boas e ruins sendo feitas em todos os tipos de centro, o que seria redundante, vou enfatizar que há trabalho não-mainstream que é feito com qualidade - contribuições hoje mainstream surgiram em debates heterodoxos, a mais recente delas: instituições.

Cambridge foi referência mundial no debate alternativo à produção mainstream até o passado recente, já abrigou sete vencedores do Nobel em Economia, e agora é um centro sem expressão em qualquer das arenas de debate.

Anônimo disse...

"Cambridge foi referência mundial no debate alternativo à produção mainstream até o passado recente, já abrigou sete vencedores do Nobel em Economia, e agora é um centro sem expressão em qualquer das arenas de debate."

Mas nao eh de hoje que este departamento esta esvaziado, mas sim desde os anos 70 talvez. E nao foi esvaziado porque tentou se tornar mainstream, mas porque sua vertente heterodoxa/alternativa eh mediocre e tem sido mediocre faz tempo... Gabriel "I hate rentiers, that is why I will decline receiving my pension benefits" Palma? Ha!Choon!Bum! Sao soh o ultimo prego no caixao.