John Williams tem também suas opiniões sobre as políticas de reativação da economia norte-americana. Segundo uma nota recente (veja aqui), Williams aponta para uma hiperinflação inescapável, entre 2010 e 2018, com "riscos particularmente altos de que uma crise hiperinflacionária estoure já em meados do próximo ano".
Seu argumento é de que imprimir dinheiro é a única maneira disponível para que o Governo dos EUA possa arcar com as obrigações financeiras crescentes, cujo montante é alto o suficiente para que seja impraticável fazer frente a elas através de aumento de impostos, e diante da impossibilidade de um corte de gastos, algo que considera "intocável" no atual contexto. Adicionalmente, o dólar desvalorizado é uma força adicional no sentido de perda de poder de compra do consumidor americano.
Para mim, é justamente esse último ponto que escapa a Williams. Para arcar com compromissos cada vez maiores, os EUA precisam gerar recursos. Isso significa imprimir mais moeda ou inverter radicalmente o panorama recente do balanço norte-americano em transações correntes e passar a exportar radicalmente mais. A "desvalorização concertada" que vem ocorrendo lembra exatamente o arranjo do acordo de Plaza, de 1985, a partir do qual o dólar se desvalorizou e que permitiu uma re-ignição à economia norte-americana.
Nesse contexto, o que há de diferente é que os chineses não querem assumir os custos do ajuste como fizeram os japoneses, então vistos como "a nova primeira potência mundial". Inclusive, em reportagem recente no Valor, os chineses reconhem através de uma série de declarações oficiais que a valorização do yen à época empurrou a economia japonesa para a recessão na qual se encontra até hoje, em alguma medida.
Não está claro até que ponto a UE, e a Alemanha, em especial, serão capazes de evitar ao menos parcialmente esse ajuste. O que é certo é que o Brasil, apesar de uma ou outra tentativa de valorização controlada, será parte integrante desse ajuste estrutural, e a pressão de valorização (que hoje já alcançou a marca de 25% no ano) deve seguir bastante firme até que os EUA comecem a dar sinais de recuperação, impulsionados pelo setor externo.