Hoje é o aniversáiro de 100 anos deste escritor que é tido como um dos maiores da língua portuguesa. A disputa é muito mais acirrada em outras línguas e talvez nenhum dos escritores lusófonos entre no grupo dos maiores escritores, o que já serve de ressalva para as avaliações da qualidade e da relevância do Bruxo do Cosme Velho. Mas eu descobri recentemente um argumento ainda mais forte para os críticos.
E foi lendo justamente um dos fãs mais relevantes de Machado, Harold Bloom. Em um dos seus livros, chamado "Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds", Harold Bloom faz um apanhado de 100 dos seus escritores preferidos (duvido que a maioria das pessoas já tenha sequer lido 100 autores diferentes). Entre clássicos antigos como Cervantes, Shakespeare e Homero e gênios mais recentes como Joyce, Kafka e Faulkner, Bloom encontrou um espaço para Machado de Assis. E ainda arriscou dizer que Machado seria o maior escritor negro de todos os tempos.
Em algum momento do texto, Bloom reconhece que um autor inglês do século XVIII, chamado Laurence Sterne, exerceu forte influência sobre Machado. Especialmente o livro "The Life and Opninions of Tristram Shandy, Gentleman". Então, por curiosidade, resolvi ler o tal livro. É assustador.
Várias das características da prosa "machadiana" estão presentes. Talvez todas. Interlocução direta ao leitor (apesar de este recurso estar presente pelo menos desde Cervantes), referências constante aos clássicos, digressões longas... Pior ainda, o enredo do livro é muito semelhante ao de "Brás Cubas", que seria, disputando com "Dom Casmurro", o melhor livro de Machado.
Aí eu fiquei me perguntando, como que um cara que "se inspirou" tão profundamente em outro escritor pode ser considerado um gênio? Eu acho que, no máximo, ele pode ser considerado muito bom.
Agora, para não ficar um post totalmente negativo, na minha opnião tem um escritor brasileiro que entra fácil na lista dos melhores escritores da língua portuguesa e com grandes chances na dos grandes escritores, o Guimarães Rosa. E eu tenho até uma explicação para a relativa falta de projeção internacional dele. Alguns escritores perdem muito da sua força ao serem traduzidos. É o caso do James Joyce, por exemplo. E eu acho que é esse o caso do Guimarães Rosa também. Mas como todo mundo lê em inglês e ninguém lê em português, James Joyce é gênio e Guimarães Rosa é desconhecido.