sábado, 20 de dezembro de 2008

"Reinventando a economia": TOP 10

A prova do concurso do IPEA vem sendo uniformemente malhada por economistas de todas as vertentes teóricas. Os caras conseguiram fazer um tratado sobre como ser um lunático que ignora a realidade. Seguindo sugestões, abaixo seguem as TOP 10 questões:


1. "O sistema de proteção social brasileiro prevalecente até os anos 80 era caracterizado por ser meritocrático" (Certa)




2. "A desigualdade é concebida como problemática não somente pelas elites, mas também por economistas de várias escolas de formação, que buscam explicações para a estabilidade dos índices de pobreza no Brasil" (Certa)




3. "A gestão de pessoas tem sido forte aliada no desentrave dos processos morosos e engessados da burocracias de toda ordem". (Errada)




4. "De acordo com a teoria convencional, que se apóia na hipótese de mercados eficientes , a expansão dos fluxos de capitais para os países em desenvolvimento culmina em severas crises internacionais, em razão dos desequilíbrios macroeconômicos ou institucionais dos países receptores" (Certa)




5. "A articulação entre o setor público estatal e o setor privado prestador de serviços na área social vem de longa data e varia conforme o setor. Assim, na área da saúde, prevalece o setor privado lucrativo sobre o filantrópico, enquanto na assistência social prevalecem as organizações não governamentais sem fins lucrativos e o setor privado filantrópico sobre o setor privado lucrativo, o que demanda do Estado distintos esforços de controle e regulação dessas entidades. A delegação da execução desses serviços para o setor privado é denominada privatização do Estado, que resulta no favorecimento do mercado ou de interesses particulares em detrimento do interesse público." (Certa)





6. "A partir da Constituição de 1988, com a institucionalidade da concepção da seguridade social, passou-se a ter, no Brasil, a possibilidade de se romper com a tradição histórica de tratar a questão da pobreza no horizonte da cidadania." ????





7. "O legado dos movimentos sociais, revigorados na luta contra a ditadura militar, foi a construção de um formidável sistema de proteção social no Brasil, conquistado na contramão do pensamento neoliberal hegemônico e do movimento em direção ao Estado Mínimo a que foram submetidos, via de regra, os países subdesenvolvidos, incluindo os da América Latina." (Certa)





8. " O padrão corporativista brasileiro caracterizou-se pela exclusão dos trabalhadores das arenas decisórias governamentais, ao mesmo tempo em que os interesses empresariais garantiram sua representação no aparelho estatal." (Certa)





9. "A especulação financeira vislumbra como luz no fim do túnel o brilho do tesouro nacional" (Certa)




10. "Para os economistas clássicos (de Smith a Marx) o trabalho é a fonte de valor, ou seja, a faculdade que as mercadorias tem na troca de comandarem trabalho alheio. Para Marx, contudo, o valor não é uma qualidade social dos bens, mas algo indiferente e exterior a própria mercadoria." ????

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Pintaram o Ipea de preto

Ocorreu a morte anunciada do Ipea. Todas as pessoas que acompanham o que vem acontecendo no Insituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, desde que Marcio Pochman chegou a sua presidência, esperavam por uma prova ruim para a seleção dos futuros integrantes do órgão. Foi pior.

A prova de conhecimentos básicos, comum a todos os cargos, não estava ruim, apenas refletia o fraco conteúdo presente no edital, já comentado nesse blog. Apenas uma pergunta trivial sobre econometria.

Já a prova de conhecimentos específicos foi estapafúrdia. Poderia discorrer sobre o absurdo e a tendênciosidade da prova, mas suas questões falam por si só:

Certo ou errado?: “A especulação financeira vislumbra como luz no fim do túnel o brilho do tesouro nacional.”

Certo ou errado?: "O termo neoliberalismo designa uma corrente de organização da atividade econômica que capciosamente ecoa um movimento histórico com o qual em realidade e na prática não partilha fundamentos e princípios."

Certo ou errado?: "Para os Estados, a tecnologia afeta a soberania."

Corpo de um texto da prova: "O Consenso de Washington -a infame lista que apontava a autoridades monetárias de países em desenvolvimento o que fazer e o que não fazer- havia se dilapidado em grande parte."

Não pára por ai. Inúmeros são os exemplos de atrocidades e idelogias nessa prova, quem quiser pode postá-los nos comentários.

O número de pessoas que entrará por esse concurso será grande, além da intenção da presidência de usar essa prova para criar uma reserva de futuros "pesquisadores". Se nada for feito contra esse concurso, e dificilmente algo será, o Ipea como instituto de pesquisa econômica aplicada morreu.

Defensores da nova presidência argumentavam que o Ipea seria um Instituto de Pesquisa Estratégica. Com esse exame de seleção, nem isso poderá ser. Será no máximo um órgão para reproduzir a ideologia do momento, um porta-voz de luxo do governo.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Espectro Humorístico

Na falta de assunto a gente pode sempre ficar sacaneando o Lula. Quando parece que perdeu a graça ele dá uma entrevista "genial". Essa foi na sexta passada, na presença da Ingrid Betancourt.

" Eu penso que todo mundo sabe ou imagina o que é viver sete anos no cativeiro na Amazônia"

" E eu queria até dizer para vocês uma coisa que eu tenho dito todo dia: se a sociedade brasileira induzida por parte do noticiário resolve entender que não deva comprar as coisas que tinha que comprar com medo de perder o emprego, é preciso dizer que ela pode perder o emprego porque não comprou. Essa é a minha tese, ou seja, se um cidadão quer comprar um carro com medo de perder o emprego e depois não poder pagar, ele pode perder o emprego porque a empresa não produziu carro, o comércio não vendeu, portanto, não tem oferta de emprego."

" Posso dizer para vocês que eu acredito, como eu acredito em Deus, que esta crise é uma grande oportunidade para o Brasil e para o mundo."

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Sem Noçao

A polícia mata mesmo (link).

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Lula é Minha Anta

Acabou de sair uma coluna do Kennedy Alencar, na folha online, com o título "Lula estuda limitar autonomia do BC sobre juros". No texto, infelizmente, não há nomes nem declarações públicas, apenas boatos. Ainda assim, vamos ver alguns trechos.

"Recentemente, Lula fez fortes pressões nos bastidores e deu duas declarações públicas dizendo que acha que os juros precisam cair. Falou que estavam acima do que indicava o bom senso e também disse que era hora de reduzir juros e preços. "

Como assim bom senso? O que o seu bom senso diz a respeito da taxa básica de juros?? O meu bom senso diz muito mais sobre o que esperar da lei da gravidade do que da taxa básica de juros...

"Bancos centrais de países mais desenvolvidos, países que têm como amenizar impactos sociais negativos decorrentes de uma crise econômica, já saíram na frente. Derrubaram suas taxas de juros a porretadas. "

Pois é, talvez isso tenha alguma coisa a ver com o fato de esses países serem DESENVOLVIDOS. A realidade de um país subdesenvolvido, que não teve boom imobiliário, não teve problemas de crédito e está passando por uma intensa fuga de capitais pode ser ligeiramente diferente. Talvez isso não passou pela cabeça da equipe econômica do planalto.

Finalmente, "Lula tem uma decisão difícil e solitária pela frente. O presidente faz as seguintes reflexões. É ele quem foi eleito em 2006. É ele quem tem 70% de aprovação (índice bom e ótimo) no Datafolha. É ele quem será cobrado pelo desempenho da autonomia. Como foi ele quem concedeu a autonomia formal ao BC, seria a hora de limitá-la, retirá-la ou confirmá-la?"

É ele que é semi-analfabeto. É ele que tem todo o interesse em práticas populistas que possam aquecer a economia durante um ano e meio para deixar explodir a inflação no colo do sucessor dele em 2011.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Chinese Democracy

Muita gente aqui gosta de ler o blog do Schwartzman, que inclusive tá aí do lado nos links. E todo mundo se pergunta por que o cara gasta tanto tempo com os comentários. Qualquer bobagem que dizem por lá recebe resposta. E isso acaba incentivando mais e mais bobagens.

Agora eu descobri que existe gente pensando sobre esse fenômeno. Esse cara argumenta que se o valor marginal do comentário é decrescente e o custo de moderação é constante, a partir de algum ponto é melhor simplesmente bloquear (ou ignorar) os comentários.

Talvez o mais interessante seja o motivo para o valor marginal decrescente do comentário. Ele invoca a lei de Godwin, segundo a qual à medida em que o número de comentários numa discussão cresce, a probabilidade de alguém fazer alguma comparação involvendo Hitler (um argumento do tipo Reductio ad Hitlerum, para os interessados em lógica formal) se aproxima de 1. Em outras palavras, a chance de algum maluco aparecer e fazer um comentário nada a ver que leve a discussão para assuntos inúteis ou irrelevantes vai aumentando.

domingo, 30 de novembro de 2008

Burrice não tem limites

Depois das falhas grotescas de organização no exame da ANPEC deste ano (ver aqui), parece que confusões similares nos aguardam no Encontro Nacional em Salvador, de 9 a 12 de dezembro.

Reproduzo a seguir um diálogo entre congressista e organização sobre apresentação de um artigo aprovado:

Prezado Congressista,

abaixo sua participação nas sessões ordinárias do 36º Encontro Nacional de Economia. Solicitamos que acompanhe na página da ANPEC para verificar possíveis alterações.

Os trabalhos selecionados estarão disponíveis no site, em breve.

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Prezada X,

quanto tempo temos para apresentar? E para comentar?

Obrigado

Abs


Y
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Prezado Congressista,

peço dar uma olhada no programa (está no sit da ANPEC) e conferir a duração das sessões. O tempo é dividido pelos três.

Att


X
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Prezada X,

a sessão tem duração de 1h45. Isso quer dizer 30 minutos para apresentação e
5 minutos para comentários? 20 minutos para apresentação, 10 para
comentários e 5 para perguntas?

Obrigado mais uma vez.

Abs


Y
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Prezado Y,

Isto é decidido pelo Presidente da sessão.

Att

X

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Prezada X,

isto me não me parece correto. Segundo o que você sugeriu, pode ser o caso que o presidente decida destinar 1 min para apresentação e 34 min para comentários. Como vou saber que apresentação preparar?

Att


Y
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...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"Posts que Gostaríamos de Ter Visto 6 Meses Atrás" ou "Ex-Post é Fácil Fazer Tudo Parecer Óbvio"

O Hamilton (1994) diz que apenas uma recessão americana do pós-guerra não foi precedida por um aumento acentuado do preço do petróleo. Seguindo a dica, encontrei esse gráfico (fonte). Não estou dizendo que existe relação de causa e efeito (minha opinião é de que não existe), mas para previsões (leading indicators) parece uma boa dica.

Outra coisa que eu pensei olhando o gráfico foi que o preço do petróleo parece ter uma tendência de retornar a uma "média de longo prazo", que seria em torno do 40 ou 45 no gráfico. Infelizmente o eixo de preços está em termos reais e ajustado para base 100 em 1982. Fazendo a tranformação para preços nominais de 2008 (leia-se olhando outro gráfico e comparando), o preço teria uma tendência a retornar para algo próximo de $25...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Economia Real

Não é de hoje que o setor financeiro é acusado de "roubar" as pessoas e de não produzir nada de valioso para a sociedade. Pode-se buscar exemplos em livros religiosos (Torá, Novo Testamento), em escolas filosóficas (escolástica), literatura (Shakespeare, em "O Mercador de Veneza, Dante em "A Divina Comédia") e em vários economistas antigos (não me lembro mais dos nomes, alguém me ajuda aí).

A crítica está em geral baseada em argumentos ridículos, que parecem resultado de um misto de ignorância e preconceito. É preciso ser um burocrata que nunca saiu da repartição ou um acadêmico que nunca saiu da universidade para não perceber a importância do mercado de ações, derivativos, títulos de dívida, dos fundos de venture capital e private equity e das operações estruturadas para diversificação de riscos (indústria de seguros), previdência e, principalmente, financiamento de investimentos.

O oposto do setor financeiro é muitas vezes chamado de A Economia Real, que fabrica "produtos de verdade, que se pode embrulhar" (palavras sábias de Élio Gáspari, que nunca produziu nada de verdade na vida segundo sua própria definição).

Para mim, o oposto da Economia Real no Brasil é o Governo. A não ser que alguém me convença de que o produto do trabalho do setor público vale 40% do PIB brasileiro.

domingo, 23 de novembro de 2008

Que bela confusão o Rasmusen se enfiou...


Leiam a compilação feita pelo próprio Rasmusen, de uma confusão que ele se meteu ao defender seu ponto de vista sobre o porque da existência de discriminação de professores homosexuais nas escolas católicas, em comparação a professores hindus, uma vez que idolatria é um pecado pior.

Já vou avisando que o texto não propõe solução alguma para a questão. O interessante é o debate sobre a liberdade de expressão.

(Achei o link enquanto lia o De Gustibus Non Est Disputandum)

Em linhas gerais, os pontos que merecem atenção:
  • A sutileza da primeira emenda da constituição americana 
  • Os problemas que você pode se meter quando não se tem evidências sobre coisa alguma. (Ou quando se têm evidências fracas...)
E para fechar, uma citação que é feita no link, que eu achei bem legal:
But the peculiar evil of silencing the expression of an opinion is, that it is robbing the human race; posterity as well as the existing generation; those who dissent from the opinion, still more than those who hold it. If the opinion is right, they are deprived of the opportunity of exchanging error for truth; if wrong, they lose, what is almost as great a benefit, the clearer perception and livelier impression of truth, produced by its collision with error. 
John Stuart Mill, On Liberty 1859

sábado, 15 de novembro de 2008

G20 sobre a crise: highlights

Summit on financial markets and the world economy

November 15, 2008

1 - We, the Leaders of the Group of Twenty, held an initial meeting in Washington on November 15, 2008, amid serious challenges to the world economy and financial markets. We are determined to enhance our cooperation and work together to restore global growth and achieve needed reforms in the world's financial systems.

2 - Over the past months our countries have taken urgent and exceptional measures to support the global economy and stabilize financial markets. These efforts must continue. At the same time, we must lay the foundation for reform to help to ensure that a global crisis, such as this one, does not happen again. Our work will be guided by a shared belief that market principles, open trade and investment regimes, and effectively regulated financial markets foster the dynamism, innovation, and entrepreneurship that are essential for economic growth, employment, and poverty reduction.

Root causes of the current crisis

3 - During a period of strong global growth, growing capital flows, and prolonged stability earlier this decade, market participants sought higher yields without an adequate appreciation of the risks and failed to exercise proper due diligence. At the same time, weak underwriting standards, unsound risk management practices, increasingly complex and opaque financial products, and consequent excessive leverage combined to create vulnerabilities in the system. Policy-makers, regulators and supervisors, in some advanced countries, did not adequately appreciate and address the risks building up in financial markets, keep pace with financial innovation, or take into account the systemic ramifications of domestic regulatory actions.

4 - Major underlying factors to the current situation were, among others, inconsistent and insufficiently coordinated macroeconomic policies, inadequate structural reforms, which led to unsustainable global macroeconomic outcomes. These developments, together, contributed to excesses and ultimately resulted in severe market disruption.

Actions taken and to be taken

5 - We have taken strong and significant actions to date to stimulate our economies, provide liquidity, strengthen the capital of financial institutions, protect savings and deposits, address regulatory deficiencies, unfreeze credit markets, and are working to ensure that international financial institutions (IFIs) can provide critical support for the global economy.

6 - But more needs to be done to stabilize financial markets and support economic growth. Economic momentum is slowing substantially in major economies and the global outlook has weakened. Many emerging market economies, which helped sustain the world economy this decade, are still experiencing good growth but increasingly are being adversely impacted by the worldwide slowdown.

7 - Against this background of deteriorating economic conditions worldwide, we agreed that a broader policy response is needed, based on closer macroeconomic cooperation, to restore growth, avoid negative spillovers and support emerging market economies and developing countries. As immediate steps to achieve these objectives, as well as to address longer-term challenges, we will:

- Continue our vigorous efforts and take whatever further actions are necessary to stabilize the financial system.

- Recognize the importance of monetary policy support, as deemed appropriate to domestic conditions.

- Use fiscal measures to stimulate domestic demand to rapid effect, as appropriate, while maintaining a policy framework conducive to fiscal sustainability.

- Help emerging and developing economies gain access to finance in current difficult financial conditions, including through liquidity facilities and program support. We stress the International Monetary Fund's (IMF) important role in crisis response, welcome its new short-term liquidity facility, and urge the ongoing review of its instruments and facilities to ensure flexibility.

- Encourage the World Bank and other multilateral development banks (MDBs) to use their full capacity in support of their development agenda, and we welcome the recent introduction of new facilities by the World Bank in the areas of infrastructure and trade finance.

- Ensure that the IMF, World Bank and other MDBs have sufficient resources to continue playing their role in overcoming the crisis.

- Common principles for reform of financial markets*

8 - In addition to the actions taken above, we will implement reforms (...)


9 - We commit to implementing policies consistent with the following common principles for reform.

- Strengthening Transparency and Accountability: We will strengthen financial market transparency, including by enhancing required disclosure on complex financial products and ensuring complete and accurate disclosure by firms of their financial conditions. Incentives should be aligned to avoid excessive risk-taking.

- Enhancing Sound Regulation: We pledge to strengthen our regulatory regimes, prudential oversight, and risk management, and ensure that all financial markets, products and participants are regulated or subject to oversight, as appropriate to their circumstances. We will exercise strong oversight over credit rating agencies, consistent with the agreed and strengthened international code of conduct. We will also make regulatory regimes more effective over the economic cycle, while ensuring that regulation is efficient, does not stifle innovation, and encourages expanded trade in financial products and services. We commit to transparent assessments of our national regulatory systems.

- Promoting Integrity in Financial Markets: We commit to protect the integrity of the world's financial markets by bolstering investor and consumer protection, avoiding conflicts of interest, preventing illegal market manipulation, fraudulent activities and abuse, and protecting against illicit finance risks arising from non-cooperative jurisdictions. We will also promote information sharing, including with respect to jurisdictions that have yet to commit to international standards with respect to bank secrecy and transparency.

- Reinforcing International Cooperation: We call upon our national and regional regulators to formulate their regulations and other measures in a consistent manner. Regulators should enhance their coordination and cooperation across all segments of financial markets, including with respect to cross-border capital flows. Regulators and other relevant authorities as a matter of priority should strengthen cooperation on crisis prevention, management, and resolution.

- Reforming International Financial Institutions: We are committed to advancing the reform of the Bretton Woods Institutions so that they can more adequately reflect changing economic weights in the world economy in order to increase their legitimacy and effectiveness. In this respect, emerging and developing economies, including the poorest countries, should have greater voice and representation. The Financial Stability Forum (FSF) must expand urgently to a broader membership of emerging economies, and other major standard setting bodies should promptly review their membership. The IMF, in collaboration with the expanded FSF and other bodies, should work to better identify vulnerabilities, anticipate potential stresses, and act swiftly to play a key role in crisis response.

Tasking of ministers and experts

10 - We (...) request our Finance Ministers to formulate additional recommendations, including in the following specific areas:

- Mitigating against pro-cyclicality in regulatory policy;

- Reviewing and aligning global accounting standards, particularly for complex securities in times of stress;

- Strengthening the resilience and transparency of credit derivatives markets and reducing their systemic risks, including by improving the infrastructure of over-the-counter markets;

- Reviewing compensation practices as they relate to incentives for risk taking and innovation;

- Reviewing the mandates, governance, and resource requirements of the IFIs; and

- Defining the scope of systemically important institutions and determining their appropriate regulation or oversight.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Grutas & Negócios

"É meu amigo só resta uma certaza
É preciso acabar com a natureza
É melhor lotear o nosso amor"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Itaú-Unibanco, CADE e os Federalistas

Alexander Hamilton, John Jay e Thomas Madison escreveram uma das mais belas obras de Direito Constitucional. A série de textos, O Federalista, foi extremamente influente na origem da constituição Americana. Nela, entre outros pontos, eles debatem a importância do poder de Veto do executivo no sistema de freios e contra-pesos e como é difícil a decisão daquele que vai contra a vontade do legislativo, a vontade da maioria.

A república evoluiu e há orgãos específicos para fiscalizar não só o legislativo, mas também setores da economia. Ontem o Itaú e Unibanco anunciaram a intenção de se fundirem. A maioria dos economistas e autoridades demostraram entusiasmo com a proposta.

O ministério da fazenda e o BC preocupados com a solidez do mercado bancário devenderam a medida, ressaltando a solidez dos bancos no Brasil. É bem provável que a CVM não observe fraude contra os acionistas e sancione a operação. O CADE deveria mostrar desconfiança.

O setor bancário brasileiro, não importa sob qual aspecto, possui indícios de concentração econômica. A fusão desses bancos só a aumentará e isso resultará em tarifas e spreads maiores. Um indício de que o mercado financeiro entendeu assim a fusão foi a subida acima da média das ações das ações do Bradesco que nada tem a ver com o ganho de sinergia da fusão, mas lucrará com a maior concentração do setor bancário.

Em prol da criação de grandes conglomerados brasileiros o CADE já fez vista grossa para a fusão da Brahma com a Antártica e acabou dando lucro para os belgas que compraram a AMBEV. Quem sabe quem vai auferir os ganhos dessa fusão? Não vale depois reclamar dos lucros exorbitantes dos bancos.

É complicado e politicamente desgastante ser o estraga prazeres. No entanto, se o CADE não defender os interesses difusos dos consumidores e considerar com cuidado se vetará essa fusão, estará não apenas colocando em dúvida sua relevância constitucional, mas também a inteligência dos federalistas.

"Pra dançar Créu tem que ter habilidade"

Só pelo prazer bobo de ver a Argentina se f*rrando:

Juiz dos EUA congela ativos de fundos de pensão da Argentina

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Lula entre Luis XIV e Capitão Planeta

Líderes surgem durante crises. Em momentos de desespero, as sociedades se unem e é normal que o poder se concentre. No entanto, desde o incêndio do Reichstag, que permitiu a ascensão do Füher, até o Patriot act depois de 11 de setembro, a história nos mostra como esses poderes podem ser usados para fins individuais ou do partido. Na mesma linha, Benjamim Parker no ensina: "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" e consideramos super-heróis aqueles que usam esses poderes para o bem comum.

O centro da crise atual é o mercado financeiro. Algumas irresponsabilidades no mercardo imobiliário lá fora e o samba dos CFO's doidos por aqui fizeram com que alguns bancos tivessem enormes prejuízos. A boa-fé de mercado prescreve que deveríamos deixar que essas empresas quebrassem, mas, infelizmente, a alavacagem do sistema financeiro torna isso impossível sem que seja desastroso. O pânico torna a ação governo impreterível. Alguns argumentaram: -Já que vamos dividir as perdas, que dividamos também os possíveis lucros. Nada mais justo. Melhor forma de fazê-lo é a estatização de algumas instituições financeiras. Com esse pensamento o governo emitiu a MP 433 que permite a compra de bancos privados por bancos públicos. Aí mora a solução, aí mora o perigo.


O primeiro perigo é nosso governo agir mais como Argentina, que em nome da estatização expropriou a previdência privada lucrativa de seus cidadãos, e menos como a Inglaterra que estatizou um banco falido. O perigo é que o governo aja em benefício prórprio e não com para o bem comum, mais como déspotas menos como super-heróis.


O segundo perigo vem da confusão que a ideologia de plantão pode causar. Isto é, o governo acreditar que estatizando setores da economia estará corrigindo falhas de mercado e fazendo um bem para o país. Não estará.

Alguns artigos acadêmicos mostram que grande proporção de bancos públicos compromete desenvolvimento econômico ao invés de promovê-lo. Particularmente La Porta, Lopes-de-Silanez e Shleifer nos mostram como uma maior proporção de bancos controlados pelo governo está associada com rendas per capita menores, sistemas financeiros piores, governos invervencionistas e ineficientes e piores proteções aos direitos de propriedade. Além do mais, mesmo quando controlada para a renda de 1970, maior estatização do sistema bancário naquela década está associada com menor desenvolvimento financeiro, menor crescimento economico e especialmente com menor aumento de produtividade, nas décadas seguintes.

Assim sendo, faço meu o pedido da revista The Economist :estatizem o que for necessário e devolvam o mais rápido possível para inciativa privada. Em termos de liderança, espera-se que Lula se porte menos como o Luis XIV com "l'etat c'est moi" e mais como Capitão Planeta com "o poder é de vocês".

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Samba do CFO doido

Hoje saiu n'O Globo uma matéria apontando algumas empresas brasileiras que apresentam indícios de estarem atuando nos mercados financeiros na tentativa de reforçarem seus lucros. Seria um comportamento análogo ao do Lúcio nas suas subidas ao ataque na seleção.

Uma empresas deveria auferir seus lucros nas suas atividades fins, se utilizando do mercado financeiro como apoio eventual para tal (para operações de financiamento, ou hedge por exemplo). Ao inverter essa lógica, a empresa está enganando seus acionistas.

Foram identificadas 80 empresas que obtiveram mais da metade do lucro líquido em operações financeiras no primeiro semestre do ano. Entre elas estão CSN, Gol, Gerdau, JBS, Sadia e Usiminas. Dessas, 35 apresentam resultados financeiros maiores do que o lucro líquido (ou seja, se não fossem os resultados não operacionais, teriam prejuízo), entre as quais, Lojas Americanas, MMX e MPX. Infelizmente, a reportagem não divulgou as listas completas.

Pensei em dois possíveis furos nessa metodologia. Primeiro, pode ter ocorrido algum evento extraordinário no primeiro semestre que gerou tais receitas/despesas para a empresa. Segundo, talvez algumas empresas tenham resultados financeiros grandes relativos ao operacional sistematicamente devido à própria natureza dos seus negócios (por exemplo uma exportadora/importadora que sempre faça hedge).

Para tentar eliminar o problema, consultei DREs de empresas bem semelhantes a algumas das nossas candidatas à fundos de investimento disfarçados para comparar suas receitas não operacionais nos últimos 5 trimestres. O resultado não foi muito diferente:

1) Sadia vs Perdigão

Enquanto o resultado não operacional da perdigão flutua entre -4 e -10 milhões, a sadia varia entre 37 mi e -114 mi (para resultados operacionais não muito diferentes).

2) Gol e TAM vs SkyWest

No caso da TAM vamos de zero a +236 mi (resultado operacional +ou - 90 mi). Para a Gol, de -17 mi a -49 mi, além de uma rubrica "outros" que vai de +39 mi a + 96 mi. Talvez a TAM esteja na lista também, apesar de não ter sido citada. Enquanto isso, a SkyWest manteve seu resultado não-operacional por volta de -20mi nos 5 trimestres, frente a um resultado operacional médio de 80mi.

3) Aracruz e VCP vs Sappi

Parecia que a Aracruz estava bem comportada, com o maior resultado não operacional sendo -11 mi (com resultado operacional sempre acima de 120 mi), mas a tal rubrica "outros" variou entre -43 mi até +82 mi. Já a VCP teve, em média, resultado operacional igual ao resultado não operacional nos últimos 5 trimestres. Enquanto isso, a Sappi (fabricante de celulose Sul-Africana), teve em média resultado não-operacional menor do que um terço do resultado operacional.

Por fim, acho que vale a pena citar a MMX, que apresentou o maior samba do CFO doido de todas as citadas, dispensando comparações.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

And the Nobel goes to...

Segunda-feira, dia 13 de outubro, será anunciado o vencedor do Nobel de Economia de 2008.

Adoro esses momentos que antecedem o anúncio a cada ano porque todo economista gosta de se arriscar a dar um palpite... então esse post é para cada um fazer a sua aposta!

Os americanos gostam de apostar sobre qualquer coisa, de cavalos a política, e o blog da dupla Richard Posner e Gary Becker até fez um post recente sobre o tema - questionando o papel desses mercados, à luz do fato estilizado de que o mercado de apostas políticas acertam em média o resultado das eleições norte-americanas com muito maior precisão do que as pesquisas eleitorais. Em suma, ambos enfatizavam o papel desses mercados em coordenar informações descentralizadas de maneira eficiente.

Há, contudo, um elemento polêmico nos mercados de apostas esportivas (e dizem alguns também, no de apostas políticas): podem os incentivos monetários associados ao mercado de apostas (i) distorcer incentivos de alguma das partes envolvidas no evento alvo de especulação ou (ii) permitir enriquecimento baseado em informação privilegiada? No caso dos esportes, o Brasil sabe bem que isso é verdade - vide o caso de Edílson Pereira de Carvalho no campeonato brasileiro de 2005. Mas no caso da política, talvez seja pouco crível que o candidato líder faça uma besteira às vésperas das eleições apenas para que o azarão leve a disputa e o perdedor embolse uma bolada no mercado de apostas. Já sobre informação privilegiada, não parece ser um problema: a revelação de informação de valor é justamente o mecanismo que esse mercado implementa. Ainda assim, os EUA atualmente limitam o montante que pode ser apostado em mercados políticos a algo como 500 dólares, para inibir especulação, a contragosto de economistas como Becker.

No caso de apostas sobre o vencedor do Nobel, contudo, informação privilegiada (tirando a restrita comissão sueca) e incentivos distorcivos parecem fora de questão; é só diversão mesmo! E a revelação de informação é sempre muito esclarecedora sobre trabalhos que deveríamos conhecer.

O site PinnacleSports.com , o maior site de apostas esportivas da internet, calculou as probabilidades para o vencedor do Nobel de Economia desta ano. Os apostadores apontam o professor de Harvard e CEO do NBER, Martin Feldstein, como o grande favorito (pagando 8 para 1), seguido de perto por Thomas Sargent, professor da NYU (pagando 12 para 1). Robert Barro e Paul Romer vêm em seguida, acompanhados de Jagdish Bhagwati e Paul Krugman. Gregory Mankiw aparece como azarão (pagando 51 para 1!).

"The current betting market at PinnacleSports.com is dominated by US economists, reflecting the fact that 60% of the Nobel Economic winners since the prize's inception in 1969 have been Americans", said Simon Noble, spokesman for PinnacleSports.com. "Given that the current economic crisis is seen by many to reflect the abject failure of Global financial markets, and the US sub-prime sector in particular, bettors may be looking away from the traditional base of perceived economic wisdom in US academic institutions for the winner of this year's Nobel Prize in Economics" , diz o site da PinnacleSports.

Em quem você vai apostar?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Espectro Literário

Apesar do caos todo de hoje, meu post não vai ser sobre economia. Aproveitando minha posição no Espectro, vou dar uma de Diogo Mainardi hoje e espinafrar um dos ícones nacionais, o Machado de Assis.

Hoje é o aniversáiro de 100 anos deste escritor que é tido como um dos maiores da língua portuguesa. A disputa é muito mais acirrada em outras línguas e talvez nenhum dos escritores lusófonos entre no grupo dos maiores escritores, o que já serve de ressalva para as avaliações da qualidade e da relevância do Bruxo do Cosme Velho. Mas eu descobri recentemente um argumento ainda mais forte para os críticos.

E foi lendo justamente um dos fãs mais relevantes de Machado, Harold Bloom. Em um dos seus livros, chamado "Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds", Harold Bloom faz um apanhado de 100 dos seus escritores preferidos (duvido que a maioria das pessoas já tenha sequer lido 100 autores diferentes). Entre clássicos antigos como Cervantes, Shakespeare e Homero e gênios mais recentes como Joyce, Kafka e Faulkner, Bloom encontrou um espaço para Machado de Assis. E ainda arriscou dizer que Machado seria o maior escritor negro de todos os tempos.

Em algum momento do texto, Bloom reconhece que um autor inglês do século XVIII, chamado Laurence Sterne, exerceu forte influência sobre Machado. Especialmente o livro "The Life and Opninions of Tristram Shandy, Gentleman". Então, por curiosidade, resolvi ler o tal livro. É assustador.

Várias das características da prosa "machadiana" estão presentes. Talvez todas. Interlocução direta ao leitor (apesar de este recurso estar presente pelo menos desde Cervantes), referências constante aos clássicos, digressões longas... Pior ainda, o enredo do livro é muito semelhante ao de "Brás Cubas", que seria, disputando com "Dom Casmurro", o melhor livro de Machado.

Aí eu fiquei me perguntando, como que um cara que "se inspirou" tão profundamente em outro escritor pode ser considerado um gênio? Eu acho que, no máximo, ele pode ser considerado muito bom.

Agora, para não ficar um post totalmente negativo, na minha opnião tem um escritor brasileiro que entra fácil na lista dos melhores escritores da língua portuguesa e com grandes chances na dos grandes escritores, o Guimarães Rosa. E eu tenho até uma explicação para a relativa falta de projeção internacional dele. Alguns escritores perdem muito da sua força ao serem traduzidos. É o caso do James Joyce, por exemplo. E eu acho que é esse o caso do Guimarães Rosa também. Mas como todo mundo lê em inglês e ninguém lê em português, James Joyce é gênio e Guimarães Rosa é desconhecido.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Desenvolvimento econômico: o que (não) sabemos

As causas da riqueza das nações e das diferenças de desempenho entre os países sempre foram preocupação dos economistas, mas o que realmente sabemos até aqui?

Aprendemos que acumulação de fatores desprovida de aumento da produtividade não é capaz de sustentar crescimento de longo-prazo; que capital humano é um insumo fundamental capaz de promover retornos não-decrescentes; que o volume de P&D pode ditar diferentes dinâmicas de crescimento entre os mercados.

Mas essas são apenas causas próximas do desenvolvimento e das diferenças de renda per capita entre as nações. Porque então países não acumulam capital humano e investem no avanço tecnológico?

Os economistas elencam quatro candidatas a causas fundamentais:
(i) sorte;
(ii) geografia;
(iii) cultura; e
(iv) instituições

Países apresentam diferentes desempenhos primordialmente em função de acidentes históricos, de condicionantes geográficos (cujo papel pode ser constante ou variável no tempo), de diferentes valores/atitudes diante do sistema de incentivos, e das restrições que determinam os referidos incentivos à alocação de recursos às atividades produtivas.

Há maneiras bastante sofisticadas de confrontar cada uma dessas hipóteses (ainda que com mais dificuldade a primeira) com os dados e avaliar a maior ou menor plausibilidade de cada explicação (não necessariamente excludentes) para os diferentes resultados associados aos diferentes ambientes econômicos.

A verdade é que, ainda que tenha se construído um relativo consenso na literatura recente sobre o papel de cada uma dessas causas fundamentais, com a visão de que as diferentes instituições são diretamente responsáveis pelo desempenho contrastante de grupos de países após a Revolução Industrial, (1) ainda se entende muito pouco o canal através do qual instituições afetam desempenho (os economistas tem muita dificuldade até mesmo de definir o que são instituições, ou que restrições comportamentais ou características do ambiente de negócios são efetivamente relevantes para resultados econômicos) e (2) esses suposto sucesso no plano da teoria não tem correspondência em termos de políticas públicas.

O que pode ser sugerido para um país africano subdesenvolvido, em que mais de 50% da população se encontra abaixo da linha da pobreza e 1/3 da população tem o vírus HIV (infelizmente há mais de um candidato na mapa que preenche esses requisitos) ? Alguns argumentariam que uma receita de instituições melhores (normalmente no sentido de democratização) seria um palpite relativamente sem riscos...

Mas a importação institucional já se mostrou fadada ao fracasso em diversos contextos (Djankov, sobre as ex-economias socialistas) e não parece ser irrelevante a ordem dos fatores: Glaeser et. al mostram que ditaduras que investem em capital humano parecem ser a fonte mais prevalente de sucesso de economias subdesenvolvidas para escapar da pobreza.

O que dizer? Sabemos pouco, muito pouco.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sobre um restaurante

Imagine um restaurante em que não houvesse preços, e os clientes tivessem que oferecer o quanto achavam justo pelo prato que comeram. O que um economista diria sobre isso? A minha reação ao tomar contato com esse problema foi a seguinte: "O restaurante não sobreviverá nem um segundo. Ninguém pagará pelo prato e o restaurante não terá receita. Além do mais, se algum cliente achar o restaurante muito bom, e querer que ele continue funcionando, poderia pagar algo positivo, mas ao ver que se somente ele tomasse essa decisão o restaurante quebraria, não pagaria. E se, por outro lado, todo mundo quisesse que o restaurante existisse e pagassem pela refeição, sempre haveria o beneficio de não pagar, e todo mundo não pagaria".

Pois bem, esse restaurante existe, e aparentemente dá dinheiro. Como eu poderia racionalizar isso? A resposta imediata é: Basta colocar alguma coisa que faltava na função utilidade dos clientes e o problema está resolvido. Neste caso, se argumentaria que a clientela deve levar em conta valores como justiça, ou até conceitos como "faça aquilo que você gostaria que fizessem com você". Mas acredito que se proceder assim, a microeconomia é capaz de explicar tudo, e assim sendo não pode provar nada. Como então contornar esse problema? Eu ainda não tenho uma resposta para isso. Infelizmente, no mundo da micro feijão-com-arroz, o restaurante já teria quebrado a muito tempo.

(Se bem que, se lerem a reportagem, é bem capaz que esse restaurante se sustente do curso que ministram para gringos... mas é mais legal pensar que não.)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Quem ta cheirando? E se tapasse o nariz?

Mudando de assunto, vou olhar para a questão da responsabilidade do usuário de drogas pelo atual estado de violência nas nossas cidades. Capitão Nascimento já expôs o argumento, mas acredito que há duas questões interessantes: 1) de onde vem a demanda e 2) sem tal demanda a violência cessaria?

Em relação à primeira questão tenho apenas dúvidas. Caramba, o tráfico tem um porte (controle geográfico, armas, etc) que só pode ser financiado por muita droga sendo consumida. É verdade que é a cocaína e não a maconha que financia o tráfico? Mas cadê? Como algo uma demanda tão grande pode ser praticamente invisível (a de macronha é razoavelmente visível). Alguém pesquisa/entende a “economia do tráfico” no Brasil?

A segunda indagação é contrafactual e supositória (sic.). Alguns dizem que se o tráfico acabasse, i.e. por obra de deus ou da legalização não houvesse mais demanda, a violência pioraria porque eles diversificariam seus negócios para outras atividades criminosas (o que serve de justificativa pro sujeito não parar de consumir). Pra mim isso não faz sentido. Pode ser que até ocorresse no curto prazo, mas eventualmente a “empresa” ia quebrar. Apenas um setor tão lucrativo quanto o tráfico permite tal nível de armamento, funcionamento de uma organização com tanto risco (tomada por grupos rivais, polícia), e controle. Os outros setores da atividade criminal são muito menos lucrativos e mais perigosos: bancos têm guardas, assaltar na rua envolve riscos, seqüestros são perigosos de efetuar e difíceis de gerir. Lotações (muitas no RJ são controladas pelo tráfico) são só uma forma de transformar um estoque de dinheiro sujo em um fluxo de dinheiro limpo. As milícias, que são uma resposta a violência do tráfico, tb perderiam sua razão de ser. Por isso acho que o que ocorreria seria que sem os lucros do tráfico a capacidade de efetuar tais atividades ia simplesmente minguar. Vocês não acham?

domingo, 14 de setembro de 2008

Provérbio Chinês

Dois livros me deram a idéia desse post. Eles são "The Pirate's Dilemma", Matt Mason e "Against Intellectual Monopoly", David Levine e Michele Boldrin. Pra me dar credibilidade, esse Levine é um economista f***, doutor pelo MIT, pesquisa jogos e eq. geral (publicou, entre 97 artigos, 3 AER e 7 econometricas). Em linhas gerais, os caras dizem que esse sistema de patentes e copyrights foi bom, mas não funciona mais.

O caso é o seguinte. Ao longo dos séculos 17 e 18 foram aprovadas nos EUA e UK (e provavelmente em outros lugares também) leis criando uns direitos de propriedade novos, que recaíam sobre uma coisas imateriais: idéias. Eram leis de copyright (estimuladas pela invenção da prensa móvel) e de patentes. Esse tipo de lei que cria monopólio sobre idéias está vigente hoje (com diferentes graus de seriedade) por todo o mundo.

Os defensores das leis de monopólio intelectual argumentam que a criação de idéias involve um grande custo fixo (de investimento em pesquisa ou criação) e um custo de produção do produto em si muito baixo (impressão de um livro, gravação de um CD, sintetização de uma droga, etc). Isso faz com que, na ausência de monopólio, a produção de novas idéias seja muito lenta.

Essa defesa tem um apelo enorme. Um economista famoso, Douglass North, ganhou o prêmio nobel defendendo que o principal causador da revolução industrial foram as leis de patentes. Grosso modo, toda a tecnologia e riqueza de hoje existiria graça a essas leis e à devida implementação das mesmas.

Agora vamos ao Levine e Boldrin (LB) e Mason(M). LB argumentam que as patentes têm INIBIDO mais do que estimulado a inovação. Empresas que inovaram em algum tempo passado fazem dezenas de patentes "defensivas", o mais genéricas possível. Aí, quando surge uma possível entrante , a empresa entra na justiça e tenta mostrar que a nova empresa está usando alguma de suas patentes. Essa prática chega a proporções absurdas:

 US Patent No 5,576,951: Using graphical or textural
information on a video screen for the purpose of making a sale.


 US Patent No 6,289,319: Accepting information to conduct
automatic financial transactions via a telephone line and video
screen.


(Eu também duvidei quando li a primeira vez, então já coloquei logo os links).

As inovações continuam ocorrendo, e gigantes continuam caindo (IBM, Polaroid, Altavista...). Mas talvez esse processo esteja ocorrendo a uma velocidade menor do que poderia ocorrer.

(M), por sua vez, argumenta que não é mais possível proteger copyright como antigamente, devido às novas tecnologias disponíveis. Mas isso não é novidade. Novas tecnologias mudaram a dinâmica de copyrights antes (invenção do rádio, das fitas VHS, etc), e as empresas de mídia e entretenimento continuaram muito bem. Mas elas só se deram bem porque souberam incorporam as pequenas perdas de propriedade ao seu negócio (ninguém defende que gravar no meu vídeo um filme que passa na TV é uma infração ao copyright).

Concluindo, talvez essaa estrutura de monopólio intelectual pode acabar em um futuro próximo. Existe um antigo provérbio chinês que diz "Quando os ventos da mudança começam a soprar, algumas pessoas constroem abrigos enquanto outras constroem moinhos".

Ps.: Tanto LM quanto M foram consistentes com suas crenças e disponibilizaram os livros em pdf na internet (aqui e aqui).

Programa de Estatística do Concurso do IPEA


Destaques:

- Regressão SIMPLES; múltipla não precisa saber;
- EXPECTÂNCIA; achei que isso era coisa de quem fez graduação na PUC-RJ! ahaha
- Violações do Modelo Clássico de Regressão Linear?
- Variáveis Instrumentais?
- Máxima Verossimilhança?
- GMM?
- Séries de tempo?
- Dados em painel?
- Modelos de escolha discreta?
- Modelos com dados limitados?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pintaram o Ipea de cinza

Foi publicado esse semana o edital do concurso que contratará pesquisadores para o Ipea. Além de abrir vagas para auxilares, o Instituto contratará 62 novos pesquisadores, o maior concurso de sua história, cada um ganhando quase R$ 11.000. A priori a notícia é boa. Concursos públicos idôneos dão uma um verniz de seriedade às instituições. No entanto um mero olhar no edital mostra a diferença da gestão do atual presidente, Marcio Pochaman, para a de seus predecessores.

Para quem quiser conferir envio abaixo o link do edital deste concurso e do edital de 2004, mas adianto desde já o que se verá. Em estatística não é mais necessário saber máxima verossimilhança, cointegração, VAR, ou qualquer coisa relacionada à econometria que não seja regressão simples. Em micro saíram equilíbrio perfeito em subjogos, selação adversa e moral hazard e equilíbrio geral. Também não é mais preciso saber em macro modelo de Solow, equivalência ricardiana ou Mundell-Feming. Esses são só algumas notórias ausências.

No lugar desses assuntos relevantes para economia o edital de 2008 vem com os seguintes tópicos: "teorias da dependência: o enfoque cepalino e a análise furtadiana; Liberalismo, marxismo e neo-institucionalismo; os programas de transporte no PPA e no PAC;
Divisão internacional do trabalho" e outros tópicos pouco relevantes para pesquisa econômica aplicada.

Ao ler esse edital, o sentimento preponderante é de profunda tristeza. Como o Ipea poderá realizar pesquisa econômica se em seu concurso não é cobrado o conteúdo mínimo para um pesquisador? Como é possível que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada tenha pré-requisitos muito aquém daqueles exigidos para se entrar nos cursos de mestrado do país? Como deixaram o senhor Marcio Pochman e seu séquito se apoderarem do instituto? Como pode o senhor Mangabeira Unger, ministro de assuntos extratégicos, ungido pelo título de professor de Harvard, ser o censor da pesquisa economica? Como pode uma instituição que resistiu às perseguições da ditadura ruir em um governo democrático?

Muitas são as dúvidas e grande é a indignação. O senhor Marcio Pochman diz que faz essas mudanças em prol da diversidade, para colorir o instituto com diferentes linhas de pesquisa. Eu tive a felicidade de ser estagiário do Ipea antes da atual presidência. Em nenhum outro lugar vi seminários de economia com discussões tão acaloradas quanto lá. O corpo técnico criado para resistir às pressões do governo militar evoliu para uma enorme diversidade de pesquisa. Antes da atual presidência, lá estavam alguns dos maiores especialistas no Brasil sobre pobreza, economia ambiental, estatística, econometria, setor público e macroeconomia.

Entretanto, a diversidade da pesquisa lá feita, talvez por ser de fronteira, era invisível ao atual presidente. Agora este, no afã de entender o que lá se fazia, está a ponto de echer o Ipea de mediocres e a mediocridade é cinza. Nas palavras de Marisa Monte, assim como haviam feito com os muros de Gentileza, pintaram o Ipea de cinza.

http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/pdf/Concurso_2008_ipea.pdf

http://www.servidor.gov.br/concursos/arquivos_down/editais_2004/edital_ipea_2004.pdf

sábado, 6 de setembro de 2008

Mercosul, pior impossível

Discussão com Paraguai sobre Itaipu deve começar ainda este mês

BRASÍLIA - O início de discussões mais detalhadas sobre as reivindicações paraguaias a respeito do Tratado da Usina Binacional de Itaipu devem ser iniciadas ainda este mês, com a visita do presidente Fernando Lugo ao Brasil. Foi o que afirmou nesta sexta-feira o chanceler do Paraguai, Alejandro Hamed Franco, durante coletiva concedida depois de uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

De acordo com os dois chanceleres, Lugo aceitou o convite para visitar o país e deve vir no próximo dia 17. "Será o momento provavelmente de instalar a mesa que vai tratar especificamente deste tema e em grande medida isso vai contar com a supervisão de técnicos do Ministério das Relações Exteriores do meu país", disse Franco.

Amorim evitou tocar em detalhes de uma possível negociação sobre o valor pago pelo Brasil ao Paraguai em troca da energia cedida pela país vizinho. O ministro voltou a afirmar que o governo brasileiro está disposto a escutar idéias, discutir e "conversar sobre formas pelas quais o Paraguai possa se sentir adequadamente compensado pela utilização de um recurso natural compartilhado entre Brasil e o Paraguai, de uma usina binacional " .

"O Brasil pode ajudar muito, sim, o Paraguai com questões que dizem respeito, por exemplo, a uma melhor utilização da própria energia elétrica, utilização não só urbana, mas industrial", destacou, informando que na última quarta-feira (3) foi concluído o estudo de viabilidade de instalação de uma linha de transmissão de energia de Itaipu a Assunção, capital paraguaia, feito a pedido do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

"Continua sendo nosso firme propósito financiar essa linha de transmissão", assinalou Amorim.

Ele também garantiu que o governo brasileiro vê como positivos projetos de investimentos, inclusive industrial e agroindustrial. O ministro não descarta a possibilidade de financiamento oficial brasileiro.

O chanceler disse que vê, nos industriais brasileiros, interesse de investir no país vizinho e ressaltou a disposição do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em receber Fernando Lugo.

Comentários:
- Por que o Brasil deveria sentar para renegociar um contrato que está vigente? Só porque trocou o governo paraguaio? Isso não faz o menor sentido.
- O que o BNDES está fazendo? Financiar linha de transmissão no Paraguai? é o fim...

Nós somos os porcos do mundo...

Conheça os porcos europeus, que dividem o BCE e travam verdadeira rixa econômica

Como um casamento, a União Européia parece uma combinação de sucesso aos olhos do mundo. A força do euro diante do dólar e a mão firme do Banco Central Europeu dão rótulo de estabilidade a esta união. Mas como todo casamento, há os problemas. Divergências entre os membros são a atual tônica desta relação; mas não transparecem ao restante do mundo.

Já se passaram dez anos da criação do BCE. Nos relacionamentos normais, o dito popular coloca os sete anos como o período de potencial crise. Para o BCE, a crise vem mesmo nos dez anos. Há um choque entre os membros, grosso modo, divididos entre sul e norte.

Incerteza global à parte, o problema é que tudo parece bem com as economias do norte, e tudo mal com as do sul. Como se trata de uma unidade monetária, as políticas econômicas ficam divididas entre os dois casos. Uma alta no juro básico da região seria sob medida para o "norte" conter o avanço inflacionário, mas limitaria as já limitadas taxas de crescimento do "sul".

Porcos!
A questão chega ao ponto de parecer mesmo pessoal. Como a rixa entre Brasil e Argentina, os termos utilizados para se referir ao "vizinho" beiram a ofensa. Alimentando a tendência atual de siglas para se referir a grupos de países, as nações do sul europeu receberam o apelido de PIGS.

Os "porcos" da Europa, na sigla original, remetem a Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain, no inglês). Há ainda quem inclua um "i" adicional nos PIGS, para não deixar de fora a Irlanda.

Estas economias vêm apresentando taxas de crescimento mais modestas que seus vizinhos de cima, além de problemas inflacionários e retração de alguns setores em específico. Diversas teses tentam explicar a performance ruim destes países.

Ficaram para trás
Por questões culturais e geográficas, estes países parecem ter ficado para trás em um recente processo de adaptação da estrutura de trabalho, que envolve a migração produtiva para regiões com custos de mão-de-obra mais acessíveis. Uma maciça fuga de trabalhadores dos PIGS para países como a Bélgica dá tom xenofóbico a este debate.

Os países do norte vêem a invasão de trabalhadores em seus países e os índices econômicos da União Européia pressionados pela "contribuição" dos PIGS, o que alimenta o impasse. Entre esta disputa, fica o BCE, que parece ter à frente, assim, o maior desafio desde a sua criação.

(retirado de www.infomoney.com)

Comentários:
1) Será que somos um dos porcos do mundo?
2) Imaginemos um Mercosul com moeda única. Eu prefiro nem pensar nesse desastre...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Meio Ambiente

Achei curioso o texto “decréscimo ou desconstrução da economia”:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15196

Crescimento econômico que destrói o meio ambiente é um assunto muito sério, afinal um planeta “saudável” é sempre desejável, precisamos do meio ambiente para sobreviver... Todavia, há algumas afirmações no texto que são realmente curiosas, por exemplo:

“Ressurge, assim, o fato indiscutível de que o processo econômico globalizado é insustentável. A ecoeficiência não resolve o problema de um mundo de recursos finitos em perpétuo crescimento, porque a degradação entrópica é irreversível”

Se for indiscutível que o processo econômico globalizado é insustentável, creio que o autor não se lembrou dos efeitos do progresso tecnológico. Acho que discutir a ausência (ou quase) de incentivos para um crescimento econômico ecologicamente correto seria mais apropriado, mas talvez seja isso que ele queira dizer com o construir de uma economia “baseada em uma racionalidade ambiental”.

OK Computer

Tava aqui ncom insônia, aí lembrei de uma história que minha mãe contava pra eu dormir.

Há muito, muito tempo atrás , numa galáxia distânte, uma empresa chamada IBM dominava o mercado de informática (na falta de um nome melhor para o mercado). Essa empresa acreditava que esse mercado seria formado principalmente de grandes servidores. Então surgiu o microprocessador, e com ele os computadores pessoais, e com eles novas empresas  (entre elas a Apple), e todo mundo percebeu que os servidores seriam uma fatia pequena do mercado. Mas a IBM era grande, e teve fôlego para concorrer no mercado de PCs. Talvez pela familiaridade com mainframes (os grandes servidores), a IBM manteve seu foco no hardware (a parte física do computador).

Nesta mesma época surgiu uma nova empresa, a Microsoft, que fez uma aposta: o quente no mercado de PCs não seria o hardware, mas o software. Então a Microsoft assinou acordos com a IBM e várias outras farbicantes de PCs para que os mesmos fossem vendidos com seu software instalado, o DOS. E eles acertaram. Posteriormente, do DOS surgiu o Windows 3.1, que facilitou absurdamente a utilização do PC. Do Windows 3.1 surgiu o Windows 95, que melhorou ainda mais a vida do usuário.  Depois continuaram vendendo o Windows 95, mas mudando o nome no menu iniciar de 3  em 3 anos (98, 2000, XP, Vista). E nesse tempo todo, e virtude da qualidade dos programas e de artifícios para impedir a utilização de programas concorrentes, 90% dos computadores do mundo têm rodado com os softwares que a Microsoft vende.

Nesse meio tempo, em meados da década passada, surgiu a internet. E centenas (ou milhares, sei lá) de empresas surgiram, cada uma propondo um negócio novo baseado na nova tecnologia. Entre elas, o Google. O Google era um sistema de busca com um algorítmo novo e uma estratégia de marketing diferenciada. Alguns anos depois ele já era líder de mercado, desbancando o Altavista.

Aqui terminava a história da minha mãe e começa a que eu vou contar pro meu filho daqui a uns anos.

O Google logo começou a tentar diversificar sua atividade. E de uns anos pra cá o Google tem feito uma aposta: os softwares passarão a ser serviços oferecidos através da web. Entre os serviços já oferecidos pelo próprio Google estão Earth, Gmail, Docs, Mapas, Notícias, YouTube, Blogger, Desktop, Finance, Scholar e Picasa. Prestando atenção, o Gmail e o Docs são desafios diretos ao Outlook, Word, Excel, PowerPoint e Acces, enquanto os outros são novidades.

E aí que entra o Chrome. Na imprensa ficaram falando do desafio ao Internet Explorer, que detém N% do mercado, da ameaça ao Firefox, do lançamento do Internet Explorer 8, blá blá blá. Mas a notícia devia ser outra.

O navegador foi feito na medida para rodar aplicativos direto da web. E, se todo esse papo (que é chamado pelo nome horroroso de Computação nas Nuvens) colar, esquece o software, em vez de windows e toda a parafernália da microsoft instalada no seu PC, você vai precisar só de um navegador e um ponto de acesso à internet. E esquece o hardware, qualquer 486 tá valendo.

Se as pessoas vão aderir ou não deve depender da velocidade e da disponibilidade de conexões à rede e da segurança oferecida no tráfego de dados. Agora eu mesmo só adiro se fizerem um Google Matlab. 

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Guia PT - Como se comportar em uma solenidade

Eu tenho tanta sorte que acho que Deus passou por aqui e resolveu ficar. Porque a sorte aumenta a cada dia. - PRESIDENTE LULA, na solenidade de extração do primeiro óleo do pré-sal


Ok.

Por isso que a água é salgada? É por causa do pré-sal? eu pensei que fosse por causa do xixi que as pessoas fazem na praia no domingo. IDEM, dirigindo-se ao diretor de Exploração da Petrobras, Guilherme Estrella

Ha ha ha.

Sem dúvida nenhuma, a Petrobras achou petróleo atrás do galinheiro do Sítio do Pica-Pau Amarelo. - DILMA ROUSSEFF, ministra da Casa Civil.

???

Fonte: O Globo.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Até quando os gastos do governo irão aumentar?

Governo prevê aumentar arrecadação e gasto com pessoal no Orçamento 2009

EDUARDO CUCOLO
da Folha Online, em Brasília

As receitas com impostos e contribuições e os gastos com pessoal estão entre os itens que mais vão crescer em 2009, de acordo com o Projeto de Orçamento apresentado hoje pelo governo.

O governo estima para o próximo ano receitas líquidas de R$ 662,3 bilhões, um aumento de 12,5% em relação a 2008. A arrecadação de impostos prevista é de R$ 288,7 bilhões, um aumento de 16,6%. Das contribuições sociais, o governo terá mais R$ 222 bilhões (alta de 10%).

Os impostos de contribuições arrecadados pela Receita Federal, exceto contribuição da Previdência, vão aumentar sua participação no PIB (Produto Interno Bruto), de 15,62% para 16,05% (esse número não mede a carga tributária, que está em mais de 35% do PIB).

Estão previstas ainda R$ 776 bilhões em receitas financeiras e outros R$ 146,5 bilhões para transferências a Estados e municípios.

O governo também reduziu a previsão do déficit da Previdência, que deve ficar em R$ 38,1 bilhões neste ano e R$ 40 bilhões em 2009. Em 2007, o resultado negativo foi de R$ 47 bilhões.

Despesas

O Orçamento prevê um aumento das despesas do governo no próximo ano acima das receitas. As despesas obrigatórias devem crescer 13,1%, de R$ 403 bilhões para R$ 456 bilhões.

Para os gastos com pessoal, serão R$ 22 bilhões a mais. Os gastos com os servidores vão subir 16,5%, para R$ 155,3 bilhões. O valor é equivalente a 4,93% do PIB, um aumento em relação ao percentual de 2008 (4,65%). No início do governo Lula (2003), estava em 4,51%.

O pagamento de benefícios assistenciais aumentará 14,6%. As despesas não-obrigatórias vão subir de R$ 136 bilhões para R$ 152 bilhões (11,5%).

No total, as despesas não-financeiras previstas para 2009 somam R$ 750 bilhões, sendo que 90% desse valor são gastos obrigatórios.

Já o orçamento da Educação vai subir de R$ 27,9 bilhões para R$ 39,4 bilhões. Os gastos com Saúde passam de R$ 48,1 bilhões para R$ 54,8 bilhões. A Defesa vai passar de R$ 38,5 bilhões para R$ 50,2 bilhões, dentro do programa de reaparelhamento das Forças Armadas.

Economia

O governo manteve as metas de superávit primário para 2009. O setor público terá de economizar novamente o equivalente a 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto) para pagar os juros da dívida.

Desse valor, 2,2% serão feitos pelo governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central). Outros 0,65% ficam com as estatais federais e 0,95% com Estados e municípios.

Haverá também um dispositivo para que haja uma economia extra de 0,5 ponto percentual para o Fundo Soberano do Brasil, de R$ 15,6 bilhões.



Para se pensar... "Ninguém gasta o dinheiro dos outros com tanto cuidado como gasta o seu próprio. Se quisermos eficiência e eficácia, se quisermos que o conhecimento seja bem usado, isso precisa ser feito por meio da iniciativa privada." ( Milton Friedman )

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Lobo mau e os 3 porquinhos

Conheço essa versão de Os Três Porquinhos narrado por um pai Engenheiro - e, não economista, como julgam alguns, mas até que acaba mesmo parecido!! ahaahah... Lê aí (copyleft):

Meu Filho, era uma vez três porquinhos ( P1, P2 e P3 ) e um Lobo Mau, por definição, LM, que vivia os atormentando.

P1 era sabido e fazia Engenharia Elétrica e já era formado em Engenharia Civil.

P2 era arquiteto e vivia em fúteis devaneios estéticos absolutamente desprovidos de cálculos rigorosos.

P3 fazia Comunicação e Expressão Visual na ECA.

LM, na Escala Oficial da ABNT, para medição da Maldade ( EOMM) era Mau nível 8,75 (arredondando a partir da 3ª casa decimal para cima ). LM também era um mega investidor imobiliário sem escrúpulos e cobiçava a propriedade que pertencia aos Pn ( onde "n" é um número natural e varia entre 1 e 3 ), visto que o terreno era de boa conformidade geológica e configuração topográfica, localizado próximo a Granja Viana.

Mas nesse promissor perímetro P1 construiu uma casa de tijolos, sensata e logicamente planejada, toda protegida e com mecanismos automáticos.

Já P2 montou uma casa de blocos articulados feitos de mogno que mais parecia um castelo lego tresloucado.

Enquanto P3 planejou no Autocad e montou ele mesmo, com barbantes e isopor como fundamentos, uma cabana de palha com teto solar, e achava aquilo "o máximo".

Um dia, LM foi ate a propriedade dos suínos e disse, encontrando P3:- "Uahahhahaha, corra, P3, porque vou gritar, e vou gritar e chamar o Conselho de Engenharia Civil para denunciar sua casa de palha projetada por um formando em Comunicação e Expressão Visual! "

Ao que P3 correu para sua amada cabana, mas quando chegou lá os fiscais do Conselho já haviam posto tudo abaixo. Então P3 correu para a casa de P2.

Mas quando chegou lá, encontrou LM à porta, batendo com força e gritando:- "Abra essa porta, P2, ou vou gritar, gritar e gritar e chamar o Greenpeace, para denunciar que você usou madeira nobre de áreas não-reflorestadas e areia de praia para misturar no cimento."

Antes que P2 alcançasse a porta, esta foi posta a baixo por uma multidão ensandecida de ecos-chatos que invadiram o ambiente, vandalizaram tudo e ocuparam os destroços, pixando e entoando palavras de ordem.

Ao que segue P3 e P2 correm para a casa de P1.Quando chegaram na casa de P1, este os recebe, e os dois caem ofegantes na sala de entrada.

P1: O que houve?

P2: LM, lobo mau por definição, nível 8.75, destruiu nossas casas e desapropriou os terrenos.

P3: Não temos para onde ir. E agora, que eu farei? Sou apenas um formando em Comunicação e Expressão Visual!

Tum-tum-tum-tum-tuuummm!!!! (isto é somente uma simulação de batidas à porta, meu filho! o som correto não é esse).

LM: P1, abra essa porta e assine este contrato de transferência de posse de imóvel, ou eu vou gritar e gritar e chamar os fiscais do Conselho de Engenharia em cima de você!!!, e se for preciso até aquele tal de Confea

Como P1 não abria (apesar da insistência covarde do porco arquiteto e do...do... comunicador e expressivo visua?) LM chamou os fiscais, e estes fizeram testes de robustez do projeto, inspeções sanitárias, projeções geomorfológicas, exames de agentes físico-estressores, cálculos com muitas integrais, matrizes, e geometria analítica avançada, e nada acharam de errado. Então LM gritou e gritou pela segunda vez, e veio o Greenpeace, mas todo o projeto e implementação da casa de P1 era ecologicamente correta.

Cansado e esbaforido, o vilão lupino resolveu agir de forma irracional (porém super-comum nos contos de fada): ele pessoalmente escalou a casa de P1 pela parede, subiu ate a chaminé e resolveu entrar por esta, para invadir.

Mas quando ele pulou para dentro da chaminé, um dispositivo mecatrônico instalado por P1 captou sua presença por um sensor térmico e ativou uma catapulta que impulsionou com uma força de 33.300 N ( Newtons ) LM para cima.

Este subiu aos céus, numa trajetória parabólica estreita, alcançando o ápice, onde sua velocidade chegou a zero, a 200 metros do chão.

Agora, meu filho, antes que você pegue num repousar gostoso e o Papai te cubra com este edredom macio e quente, admitindo que a gravidade vale 9,8 m/s² e que um lobo adulto médio pese 60 kg, calcule:

a) o deslocamento no eixo "x", tomando como referencial a chaminé

b) a velocidade de queda de LM quando este tocou o chão e

c) o susto que o Lobo Mau tomou, num gráfico lógico que varia do 0 ( repouso ) ao 9 (ataque histérico)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O Maldito Pré-Sal

Essa descoberta nova da Petrobrás tem sido uma grande oportunidade de se ver como funciona a cabeça dos brasileiros.

Começando pela forma como foi "anunciada". Um diretor da ANP, Haroldo Lima, durante um seminário na FGV, deu com a língua nos dentes (link). Ao divulgar um fato relevante sobre uma empresa listada em bolsa desta forma, o Haroldo coloca todas as pessoas que não estavam presentes no seminário em total desvantagem frente aos presentes. Como funciona a cabeça do brasileiro? O brasileiro despreza a economia de mercado e não se julga responsável pelo seus atos. Quando procurado posteriormente para dar explicações, Haroldo disse que não é subordinado à CVM (ok, o fernandinho beira-mar não é subordinado à polícia federal...). Também disse que o problema é da bolsa de valores, que ele nem sabe onde fica (link).

Depois disso começou a ladainha do petróleo é nosso (link). Nós? Quem é "nós"? O petróleo é de quem for dono da empresa que tiver o direito de explorá-lo. Como funciona a cabeça do brasileiro? O brasileiro preenche o seu fracasso com o sucesso do outro. Tudo bem o seu José ser um f***do na vida, mas o petróleo é dele!!

Agora vem o pior. De uns 10 dias para cá começaram a surgir notícias e mais notícias do tipo "Ministro fulando quer dinheiro do pré-sal para a saúde", "Lula quer dinheiro do pré-sal para combater a miséria"(link, link, link, link...). Como é que o brasileiro pensa? Vou ter que dividir a resposta em duas.

Primeiro, brasileiro é burro. Que dinheiro?! Petróleo só vale dinheiro entregue no endereço do comprador. Enquanto estiver lá a 7000 metros de profundidade, não vale 1 centavo. E para explorá-lo é necessário investimento e tempo. Não adianta querer repartir o butim agora se não se sabe ainda se haverá butim e, se houver, só chegará em um ou dois anos.

Segundo, brasileiro é preguiçoso e mau-caráter. Acha correto receber dinheiro sem trabalhar e gastar o dinheiro dos outros. Basta surgir uma oportunidade.

Ps.: antes que comecem a falar nos comentários que nem todo brasileiro é assim, que toda generalização é burra, etc, etc, eu sei disso tudo. Mas ainda assim, para mim, esse é o retrato do brasileiro.

Update: Mais um link espetacular para a sessão "quero meus 15%" para o deleite do leitor; link. (sugestão do Theo).

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ortodoxia e heterodoxia

O meu primeiro post será sobre o artigo de T. Lawson, The nature of heterodox economics, publicado no Cambridge Journal of Economics 2006, 30, p.483-505.

O autor começa o artigo interpretando a heterodoxia como uma oposição à ortodoxia e investiga a essência do mainstream. Inicialmente, ele apresenta duas interpretações para a ortodoxia:

A primeira apresenta três elementos chaves aos trabalhos ortodoxos: “one component of most common strategy is everywhere to stipulate that human beings are rational (meaning optimizing) atomistic individuals. A second is the construction of theoretical set-ups or models specified to ensure that (typically unique) optimal outcomes are attainable.” E o terceiro surge como necessidade: “If the claim is that mainstream economics seek to defend the economic system per se, something more is required to guarantee this result. This, it is usually supposed, is achieved by the commonplace construction of an equilibrium framework […]”.

A segunda seria: “An obvious alternative hypothesis […] is that, if there is anything essential to the mainstream tradition of modern economics, it is merely a commitment to individualism, coupled with the axiom that individuals are everywhere rational (optimizing) in their behavior”

Logo depois, o autor questiona a veracidade dessas interpretações/definições de forma crítica comentando a existência de trabalhos ortodoxos mais modernos que descartam algumas das hipóteses/resultados usados nas abordagens acima.

Na verdade, a idéia central do autor sobre a ortodoxia é: “I believe there is a feature of modern mainstream economics that is essential to it. And it is an aspect so taken for granted that it goes largely unquestioned. This is just the formalistic-deductive framework that mainstream economists everywhere adopt, and indeed insist upon.[…] The truth is that modern mainstream economics is just the reliance on certain forms of mathematical (deductivist) method. This is an enduring feature of that project, and seemingly the only one; for the mainstream tradition it is its unquestioned, and seemingly unquestionable, essential core”.

Ou seja, para Lawson, o que identifica a ortodoxia é a unicidade no método, o uso de um raciocínio matemático-dedutivo. A partir disso, ele esclarece a natureza da heterodoxia:

“What follows for our understanding of heterodox economics? If the latter is first and foremost a rejection of modern mainstream economics, and the latter consists in the insistence that forms of mathematical–deductive method should everywhere be utilized, then heterodox economics, in the first instance, is just a rejection of this emphasis.

Notice that this does not amount to a rejection of all mathematical–deductive modeling. But it is a rejection of the insistence that we all always and everywhere use it. In other words, heterodox economics, in the first instance, is a rejection of a very specific form of methodological reductionism. It is a rejection of the view that formalistic methods are everywhere and always appropriate.

To say more about the nature of the heterodox traditions of modern economics, I think it is clear that we need to explain this opposition. And, as noted, we are concerned here with explaining an opposition that is sustained and enduring.

One conceivable explanation, I suppose, is that heterodox economists believe that methodological pluralism is desirable per se and no more needs to be said. But is that really all there is to it? After all, in some fields of physics, such as super string theory, mathematical methods seem actually to be universally applied, but without any sign of a heterodox opposition. In economics, by contrast, there clearly is a heterodox opposition to the mainstream. And the phenomenon to explain is not just that a heterodox opposition exists, but that it is, as noted, relatively widespread, firm, often highly vocal and enduring.”

Lawson afirma que a diferença entre ortodoxos e heterodoxos reside no método, no questionamento de um método único.

Eu recomendo a leitura do texto. O que eu tentei fazer nesse post é ilustrar um pouco o texto dele, tipo uma propaganda. Claro que o texto vai além do exposto, mas procurei me ater ao debate do último post, Bresser e o ovo do Dragão (ou melhor, dos comentários...).

O que vocês acham da visão de ortodoxia apresentada?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Bresser e o ovo do dragão

Luis Carlos Bresser Pereira ocupou o ministério da fazenda por um período de tempo durante o governo Sarney e falhou em combater a inflação. Muitos consideram que não foi capaz de fazê-lo por causa do arcabouço político desfavorável. Entretanto, no artigo publicado ontem no Valor, ele mostra que em sua teoria, inflação é uma condição para o crescimento.

Depois de passar parágrafos, descrevendo (mal e recheado de ironias) como os ortodoxos explicam a variação na conta corrente, ele resolveu expôr o seu ponto.

"Nossa visão é oposta. Ainda que haja um componente institucional e cultural determinação da poupança interna, esta é determinada no curto prazo pela taxa de câmbio. Quando esta se deprecia, como aconteceu em 2002, a taxa real de salários diminui, o consumo cai, e a poupança interna aumenta. Foi exatamente o que aconteceu com o Brasil em 2003. Em seguida, com a nova e gradual apreciação do câmbio, os salários e o consumo aumentam e a poupança volta a cair, como vemos no gráfico. Como além disso, o ritmo do crescimento das exportações cai e, com uma defasagem, aumentam as importações, o país entra em regime de défict em conta corrente e de novo ciclo de fragilização interna. ... De acordo com esse raciocícnio é a taxa de câmbio que determina a poupança e não o contrário."

Bresser não consegue separar claramente o que são variáveis exógenas e endógenas. Atualmente vivemos em um modelo de câmbio flexível e, portanto, sua cotação é uma variável endógena. Nem que o BC quisesse ele conseguiria desvalorizar o câmbio.

Bresser precisa ser mais claro em sua posição. Se o que ele sugere é que mudemos para um câmbio fixo ou mixto, ele deveria dizê-lo. A outra aleternativa é que ele sugere que o BC baixe a taxa de juros para que capital saia e o câmbio se desvalorize, mas segundo ele mesmo, assim não sairíamos desse ciclo. Não deixar claro suas sugestões é uma desonestidade com o leitor.

Correndo o risco de me passar por cartomante, o que ele provavelmente sugere é uma mistura de ambas as alternativas. As consequências perniciosas da adoção de tal tese, ele mesmo descreve: redução dos salários reais (através do aumento da inflação) e redução no consumo, para assim aumentar a poupança e o investimento. Traduzindo é a velha tese de deixar o bolo crescer para depois dividir. Os trabalhadores subsidiando o investimento dos empresários, tese que levou o Brasil à hiperinflação e a ter uma das maiores desigualdades do mundo.

Mais alguns parágrafos e ele conclui:
"Na verdade, o grande desafio da política macroeconômica em um país em desenvolvimente é o de neutralizar a sobreapreciação cambial. Mas não é isso que ensina a ortodoxia convencional vinda do Norte. Para os países ricos, não há nada melhor do que uma taxa de câmbio sobreapreciada nos seus concorrentes do Sul. Os interesses nacionais são claros. E a teoria econômica ainda mais clara."

Todo ortodoxo tem alguma crença heterodoxa. O mainstream precisa das críticas para avançar. No entanto, heterodoxos no Brasil raramente possuem pontos que acrescentam algo a teoria econômica. A maioria é desatualizada, não tem base matemática, desconhece técnicas para testar teorias e precisa se basear quase exclusivamente na retórica para defender seus pontos. Alguns, como Bresser no parágrafo acima, chegam ao extremo de usar argumentos microfascistas para excluir respostas advindas de livros vindos do norte.
-Não os leiam, a teoria econômica é clara, e eu parecerei antiquado.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

NUNCA!!!



Eu quero entender qual foi a felicidade dele quando perdeu o dedo no torno...

Crise Mundial!!!

E aí vai um link para uma das coisas mais retardadas que eu li nos últimos tempos:

http://diplo.uol.com.br/2008-08,a2516

Essa pérola só foi digna de ser linkada porque o tal Ignácio Ramonet é diretor-presidente do Le Monde Diplomatique (desde 1991!!!), o que alimenta saborosamente o meu preconceito contra os franceses.

Ainda bem que a internet é cheia de textos de qualidade, porque se dependesse de mim pra escrever um post inteiro no blog sem ninguém para criticar, o Espectro ia viver às moscas.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Simples ou complicado?

No meu post de estréia no Espectro Econômico, quero compartilhar com o amigo leitor uma pequena predileção: os argumentos que parecem estupidamente simples - seja porque evidentes ou, ao contrário, ridículos, impossíveis! -, mas que exigem um esforço enorme para serem justificados ou desarticulados, e que muitas vezes, na sua simplicidade, estão associados a implicações de política econômica de dimensões monumentais.

É o caso da Lei de Say, que só cito aqui em caráter ilustrativo. Nos tempos de graduação, alguns colegas resolveram reunir-se semanalmente para ler e discutir um pouco da História do pensamento econômico, em especial o contexto - político, econômico e, sobretudo, das idéias - no qual surgiram algumas obras seminais. Passando por Malthus, Ricardo e Mill, ficou clara a necessidade de estudar a Lei de Say com mais cuidado. "Toda a oferta gera sua própria demanda", afirma Say num 'Tratado sobre os mercados' de pouquíssimas páginas, a maior parte delas criticando as tropas de Napoleão que atiravam ao mar a produção que julgavam excessiva, que tolos! Ignoravam que toda a oferta, ao empregar os meios de produção, gera renda exatamente suficiente para que toda a produção seja vendida.

Um argumento simples, e imediatamente descartável diante das evidências da Crise de 1929, mas que exigiu 6 meses de leitura para que fosse possível entender com clareza qual princípio estava ausente no raciocínio lógico de Say... o leitor pode pensar que isso se deveu às limitações intelectuais do que vos fala, do que não discordaria, a não ser pelo fato de que grandes mentes como Schumpeter , Ricardo, Malthus e Mill dedicaram capítulos de suas obras a debater se o princípio era válido, sem limitar-se a uma economica de trocas.

Por fim, concluímos que a possibilidade de entesouramento, isto é, guardar dinheiro debaixo do colchão, é que tornava o princípio inválido. Do contrário, poupança e investimento são tão somente consumo diferido no tempo, e toda oferta gera sua própria demanda. Essa conclusão simples significa que, diante da possibilidade de entesouramento, o equilíbrio entre oferta e demanda não mais é garantido pelas forças de mercado. Em seus pronunciamentos na rádio, era frequente ouvir Keynes conclamar às senhoras que gastassem o dinheiro que mantinham nas gavetas diante da queda dos preços generalizada.

Essa introdução - mais longa do que eu gostaria - serve para que eu deixe aqui um argumento simples como alimento para o pensamento do leitor, restando o desafio de justificá-lo ou descartá-lo com base no raciocínio de um economista. O livro 'Mais sexo é sexo mais seguro', de Steven Landsburg, sucesso absoluto de venda nos Estados Unidos e tido como o novo Freakonomics, traz em um de seus primeiros capítulos um argumento curioso: um avarento é melhor para a sociedade do que um filantropo, uma vez que o primeiro, ao gastar menos, influencia os preços relativos, ou a taxa de juros, até que haja demanda para o excedente.

Segue um trecho: "Coloque um dólar no banco e baixará as taxas de juros apenas o suficiente para que alguém em algum lugar possa gastar esse dólar em férias ou na reforma da casa. Coloque a mesma quantia debaixo do colchão e (reduzindo efetivamente o suprimento monetário) estará baixando os preços o bastante para que alguém possa tomar um café a um dólar após o jantar."

Landsburg argumenta que o avarento, ao não gastar, gera uma externalidade via sistema de preços sobre toda a sociedade, aumentando o bem-estar de todos os demais. Se seu ponto aparentemente simples se sustenta, algo bastante mais relevante vem à tona, uma vez que o Estado, visto como sistema jurídico que regulamenta uma dada sociedade, tem como função básica produzir normas que permitam internalizar as externalidades fruto da interação social (sejam de ordem econômica ou não).

Você, o que acha?